O dermatologista Fernando Macedo recorre a tecnologias de vanguarda para impedir o envelhecimento da pele ou regenerá-la com rapidez.
Por Walterson Sardenberg Sô
O primeiro sonho profissional de Fernando Macedo, paulista de Botucatu, era ser oceanógrafo. Embora filho de um casal de médicos, ele exultava com os mistérios do fundo do mar. “Eu admirava o Jacques Cousteau, seu navio e as expedições”, conta a respeito do homem que criou, em 1943, o equipamento de mergulho autônomo, em parceria com Émile Gagnan (1900-1979). Macedo cursou até o segundo ano de Oceanografia na Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
Desistiu. Sua vocação era a medicina. De qualquer maneira, restou não só a admiração por Jacques Cousteau (1910-1997) como a decisão de, tal como ele, se fiar à vanguarda tecnológica. Formado médico pela tradicional Escola Paulista de Medicina, com especialização em Dermatologia, Macedo se apaixonou pelo uso do laser. Vendeu o carro para estudar o assunto no Hospital Saint Louis, em Paris. De volta ao Brasil, em 1999, tornou-se um dos pioneiros na utilização do laser na área da dermatologia. Vieram outros cursos e pesquisas. Hoje, o doutor Fernando Sperandeo Macedo, 56 anos, trabalha, sobretudo, com tratamentos de rejuvenescimento da pele e do rosto. Entre os seus clientes estão as atrizes Cleo Pires, Grazi Massafera e Luiza Tomé, além do chef Henrique Fogaça. Vem dando tão certo que a Human Clinic, aberta em parceria com o colega Ivan Rollemberg, também dermatologista, já tem cinco unidades em São Paulo e está em vias de inaugurar a sexta, em uma mansão no Rio de Janeiro. É também uma maneira de ficar mais próximo do oceano, a primeira paixão, que o leva ainda a se dedicar, nas horas vagas, ao kitesurfe.
Doutor Fernando Macedo – No quarto ano do curso de medicina. Mas até o meio do último ano, eu ainda estava indeciso entre a pediatria e a dermatologia. Minha mãe é pediatra, meu pai é gastrocirurgião. Acabei me decidindo pela dermatologia e acho que foi uma escolha totalmente acertada.
A Escola Paulista de Medicina, onde estudei, tem a tradição de uma abordagem bem ampla, sempre com a valorização da relação médico/paciente, do entendimento do que o paciente procura, de como abordá-lo, de como entregar o melhor resultado. Fiz a especialização em dermatologia na própria Escola Paulista e foi um aprendizado incrível. Tivemos contato com a dermatoscopia, a prevenção do câncer de pele. Gosto muito dessa área e durante dez anos fui coordenador médico dessa área no laboratório Fleury. E tive a sorte de estar presente na fundação do setor de cosmiatria da Escola Paulista de Medicina. Passamos a estudar e a tratar não só as doenças, mas também cuidar da pele, tratar imperfeições da pele, melhorar a qualidade da pele, como rejuvenescer, como melhorar a autoestima dos pacientes por meio de procedimentos estéticos.
É gigante. Nós podemos falar disso em várias áreas. Desde o entendimento da radiação ultravioleta do sol no câncer de pele e de como melhorar a sua proteção, assim como de equipamentos que fazem o mapeamento digital das pintas para o monitoramento de pacientes de risco de melanoma. Houve impacto também no tratamento de doenças autoimunes, quando o organismo produz anticorpos contra ele mesmo. E também no desenvolvimento dos imunobiológicos, medicamentos que mudaram a evolução dessas doenças. Na minha área, podemos falar que nas décadas de 1980 e 90 eram usados os preenchedores à base de colágeno bovino e isso gerava uma série de reações alérgicas. Foi quando comecei na cosmiatria. Depois vieram os preenchedores à base de ácido hialurônico, uma tecnologia muito mais segura. A toxina botulínica, que começou na oftalmologia, foi adaptada por um casal de canadenses – ela, oftalmo e ele, dermato –, principalmente para as rugas da expressão, da braveza, vamos dizer assim. Em 1998, quando comecei a me interessar pelos lasers, eles estavam mais presentes na oftalmologia.
Quando vieram, eram poucos aparelhos para tentar tratar um grande número de indicações. Foram evoluindo, ficaram cada vez mais específicos. E surgiram outros tipos de luzes, outros equipamentos que não são lasers. São baseados em energia, como o ultrassom microfocado e a radiofrequência. Evoluíram para tratar as mais diversas indicações na dermatologia, como manchas de todos os tipos, inclusive o melasma, como vasos na face, no corpo e nas pernas, cicatrizes, doenças de pele e também para o tratamento de pacientes que nascem com malformações. Outro aspecto é a melhora da qualidade da pele em geral, de poros, de textura, da flacidez, da luminosidade e das rugas. Então, com os lasers, as minhas ferramentas de trabalho foram ficando cada vez mais precisas, dando a mim a possibilidade de entregar resultados cada vez melhores.
A descoberta do laser foi como um amor à primeira vista. Eu vi uma primeira aula de laser no Congresso Brasileiro de Cirurgia Dermatológica, em Brasília, em 1996. Pedi ao meu chefe da Escola Paulista de Medicina que me endereçasse para algum lugar onde pudesse aprender o tratamento. Em 1998, vendi o meu carro e, com o dinheiro, fui para o Hospital Saint-Louis, de Paris, e para o consultório do doutor Serge Letessier. Durante nove meses, tive contato com uma tecnologia pela qual me apaixonei. Quando voltei, em 1999, fundei com mais nove dermatologistas uma das primeiras clínicas de laser na área dermatológica. Existiam outras, voltadas para a oftalmologia, mas na dermatologia fomos pioneiros.
A partir do momento que voltei ao setor de cosmiatria da Escola Paulista de Medicina, fomos desenvolvendo as outras áreas: os peelings, a toxina botulínica, que estava chegando, os primeiros preenchedores. Levei empresas de laser para ensinar aos residentes de dermatologia. Estive lá por 15 anos. Depois, em consultório particular, fomos desenvolvendo outras indicações. Hoje o assunto que mais me interessa é promover o rejuvenescimento da pele de dentro para fora, de maneira natural.
Acho fantástica a associação do bioestímulo físico dos lasers aos bioestimuladores químicos. São substâncias que agem não para volumizar o organismo, mas para promover o estímulo de colágeno e de fibras elásticas por meio da ação numa célula essencial para a juventude da pele, que é o fibroblasto. Esses bioestimuladores podem ser géis, líquidos ou até fios. Geralmente usamos os lasers para promover um estímulo em todas as camadas da pele numa única sessão, mas não só isso. O segredo é estimular também as áreas de ancoragem da pele no osso ou os músculos através da sua ação nos ligamentos e, dessa forma, promover o efeito de lifting imediato. Algo de que vai se falar muito é a medicina regenerativa e uma espécie de terapia genética, usando comunicadores intercelulares. Células com capacidade regenerativa usam esses comunicadores para fazer outras células regenerarem o tecido, para promover o embelezamento da pele, para remodelar cicatrizes, para o estímulo capilar, para uma ação anti-inflamatória.
“Hoje o assunto que mais me interessa é promover o rejuvenescimento da pele de dentro para fora, de maneira natural.”
Só dão importância quando aparecem micoses, infecções, espinhas e doenças do couro cabeludo ou do fio de cabelo. Algumas são doenças mais complicadas, pois têm manifestações internas do organismo e na pele. O dermatologista pode ajudar a fazer o diagnóstico, como no caso de lúpus.
Há cuidados básicos, como a lavagem com sabonetes adequados para cada tipo de pele e o uso de hidratantes para peles mais secas ou até soluções adstringentes para a pele oleosa. Mas a ideia de pele jovem saudável, ou pelo menos saudável, passa por uma análise individualizada. É do meu métier recorrer aos lasers e às técnicas de rejuvenescimento.
Sim. O fator da proteção da camada de ozônio realmente diminuiu em vários lugares da Terra, mas a população está se conscientizando do problema. Foram feitas campanhas pela Sociedade Brasileira de Dermatologia e pela mídia. Existem ótimos serviços dermatológicos em hospitais públicos e há também um mutirão todo ano, organizado pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, para detectar casos em pacientes que não têm tanto acesso aos médicos.
No começo, nos Estados Unidos e em alguns países da Europa e no Japão. Depois esse eixo foi mudando para Israel e Coreia do Sul. Hoje, por incrível que possa parecer, o laser considerado o melhor ou mais completo do mundo vem da Eslovênia. Procuro estar antenado com as novidades e vou inventando as minhas próprias técnicas de rejuvenescimento. No caso do laser da Eslovênia, da marca Fotona, desenvolvemos um protocolo que eu chamo de V Shape Lift. Ele promove não só o efeito da melhora da qualidade de pele, poros, textura, luminosidade, linhas finas, rugas e cicatrizes, mas também um efeito de lifting imediato. A questão era: como fazer a mudança desse efeito sem invadir a pele por fora? Tratamos todas as camadas da pele, até as mais profundas. Tratamos as estruturas que juntam a pele no músculo, ou no osso ou na gordura.
Outro protocolo que desenvolvi, e é um grande sucesso na Human Clinic, é o 25 Minutes Lifting, que promove o efeito de lifting facial em 25 minutos com a tecnologia do ultrassom microfocado do Liftera. Usamos as microcoagulações do ultrassom microfocado em vários níveis de profundidade para tratar o sanduíche inteiro da pele e também as suas ancoragens nos ligamentos e na fáscia muscular. O que percebemos ao longo dos anos é que esse efeito imediato é capaz de mudar o mindset do paciente, como já previa o “pai da filosofia norte-americana” (William James). É o corpo influenciando a mente! Costumo mostrar inicialmente metade da face tratada e compará-la com a outra metade para que se veja a diferença. Também percebemos a satisfação e o sorriso contido dos pacientes ao se olharem imediatamente após o final do tratamento. Gera um empoderamento. Isso impacta a melhora da autoestima e seus efeitos no trabalho, no convívio com amigos e nas relações amorosas.
“O estilo de vida influencia. O sol e o cigarro, por exemplo, são os maiores vilões para a pele, além dos fatores genéticos.”
A partir dos 25 anos, os pacientes já começam a consumir mais do que produzir colágeno. Essa descida se acelera nas décadas seguintes. Para manter o efeito do rejuvenescimento, é preciso haver a recorrência da técnica, mais ou menos a cada três meses. A boa notícia é que o organismo reage sempre bem, responde igualzinho às vezes anteriores. Mesmo em pacientes acima dos 80 anos. Tem mais: a pele pode melhorar com o passar dos anos. Isso aconteceu comigo também. Estou com 56 anos. A partir dos 50 comecei a prescrever a mim mesmo o tratamento. Uso laser a cada três meses. Tenho agora o rosto menos flácido, mais sustentável. Essa técnica está incluída no tratamento geral, que chamo de pílula da Juventude (Y’Pill, Youth Pill).
O programa é individualizado, pois as pessoas têm peles diferentes. Por isso, o programa varia. Isso inclui os lasers e a sua associação com os bioestimuladores, produtos que podem ser injetados na pele e têm efeito sinérgico, ou seja, um potencializa o efeito do outro. Tudo isso faz o organismo entender que precisa trabalhar e reparar essa agressão controlada com a produção de novo colágeno e fibras elásticas.
Gosto de usá-los com muita parcimônia, como o complemento de um tratamento que já deixou a pele mais firme e saudável.
O estilo de vida influencia. O sol e o cigarro, por exemplo, são os maiores vilões para a pele. Mas há, claro, fatores genéticos determinantes. A flacidez, por exemplo, é genética. Tem gente que tem uma flacidez normal e tem gente que tem flacidez já com 25 anos. O sol, por exemplo, influencia o câncer de pele, mas a genética é superimportante para o seu aparecimento, principalmente no melanoma, que é o mais preocupante.
A ideia é fazer uma abordagem ampla do paciente. Nós começamos com duas áreas dentro da dermatologia. Eu faço toda a área de laser, rejuvenescimento e outras tecnologias. Meu sócio, Ivan Rollemberg, cuida da área de harmonização facial e fios de tração. Desde o início, a ideia foi abraçar o paciente com o que ele pode precisar para ter saúde e melhorar a autoestima. Desenvolvemos a tricologia, que é o estudo dos cabelos e de questões como prevenir a queda, tratar a tendência a ficar careca, a evolução do transplante capilar. Além de toda a abordagem da cirurgia plástica em suas diversas áreas, da nutrologia e dos tratamentos corporais. Mais recentemente, cresceu o interesse pelos tratamentos da área íntima na mulher e no homem. As áreas da ginecologia e urologia promovem o tratamento íntimo, tanto funcional como estético. Nos dias de hoje, também percebemos a necessidade de uma atenção e ênfase maiores à saúde mental. Teremos mais enfoque nessa área. Estamos abrindo em breve uma nova unidade no Rio de Janeiro, na Barra da Tijuca, com mais de 8 mil metros quadrados. Nossa ideia é que o espaço contemple nossos melhores protocolos e seja um ponto de encontro para os pacientes que queiram associar a saúde à estética e o entendimento de como o corpo e a mente interagem e podem ser desenvolvidos.