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mercado imobiliário

Cenário desafiador

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Cenário desafiador

Mesmo com pressão inflacionária, o segmento de alto padrão está aquecido e demanda mais lançamentos

Por Marcello Romero*

Vivemos uma década a cada semestre. O turbilhão de acontecimentos mexe com a geopolítica e a economia no Brasil e no mundo. Temos conflitos no Oriente Médio, uma guerra em plena Europa, elevação do preço do petróleo e turbulências no mercado financeiro. Claro, propostas de paz estão na mesa e a temperatura desse caldeirão pode baixar ou não. No Brasil, há muita expectativa por reformas e ajuste fiscal, além de pressão inflacionária cada vez mais alta. No mercado imobiliário, a tendência de elevação dos preços se dá em função do próprio setor de construção civil, com a elevação dos custos de materiais e mão de obra. Resultado: em 2025, a precificação será um dos maiores desafios. Ainda que inserido nesse contexto, o mercado de alto padrão tem um panorama próprio. Em São Paulo, o segmento encerrou 2024 com crescimento expressivo e perspectivas otimistas. Com o aumento de quase 30% no Volume Geral de Vendas (VGV) e alta similar na quantidade de negócios fechados, os dados apontam para um setor aquecido, impulsionado por uma demanda sólida e estoques reduzidos. O levantamento mais recente mostra que imóveis acima de 2 milhões de reais continuaram valorizados, com destaque para bairros tradicionais, como Jardim Paulista, Itaim-Bibi, Vila Nova Conceição e Higienópolis. Em alguns casos, como na Vila Mariana, o volume de negócios cresceu 57%. No Morumbi e em Perdizes, a alta foi de 50%. O ticket médio dos imóveis também subiu. Nos dez bairros mais procurados, o valor médio das unidades vendidas ficou em 4,31 milhões de reais, com o aumento real de 3% em relação ao ano anterior. A valorização reforça a tendência de forte demanda e a disposição dos compradores em investir em imóveis de maior valor agregado. Um dos principais indicativos do aquecimento do setor foi a rápida absorção dos lançamentos. Dados mostram que 98% das unidades são vendidas antes da conclusão das obras, sendo 51% ainda na planta e 48% durante a construção. Só 1% das unidades é negociada após a entrega do empreendimento, revelando um mercado com estoques reduzidos e velocidade de venda acelerada considerável. Além disso, mesmo com um volume menor de lançamentos – houve o aumento de apenas 6% na oferta de novas unidades –, as vendas cresceram 14%, gerando uma situação de oferta restrita. Se nenhum novo empreendimento fosse lançado a partir de janeiro de 2025, os estoques durariam apenas sete meses, o que reforça a força da demanda e pode pressionar ainda mais os preços nos próximos ciclos. Outro ponto de destaque é que, diferentemente de outros segmentos do mercado imobiliário, o alto padrão é menos dependente do crédito. Estima-se que mais de 50% dos compradores adquiram os imóveis à vista ou financiem só uma pequena parte do valor, o que os torna menos sensíveis aos juros. Esse fator mantém a liquidez do mercado e reduz os impactos da recente elevação das taxas bancárias para o financiamento imobiliário, que subiram para patamares entre 12 e 14% ao ano. O segmento de imóveis acima de 10 milhões de reais teve uma valorização significativa. As transações de unidades na faixa até 15 milhões de reais cresceram 61%, enquanto aquelas acima de 15 milhões tiveram alta de 40%. Tal movimento reflete o interesse crescente por propriedades exclusivas, com maior privacidade, segurança e infraestrutura. Para os compradores de alto padrão, a localização, a qualidade da planta e a infraestrutura do condomínio continuam sendo os principais critérios. Empreendimentos que oferecem arquitetura autoral, amenities, como segurança reforçada, academias modernas e áreas destinadas a serviços como delivery e pet place, tendem a se valorizar ainda mais. A preocupação com a sustentabilidade e a eficiência energética também está em destaque. Embora a escolha por energia solar ainda enfrente desafios devido ao espaço limitado em edifícios de luxo, outras soluções sustentáveis, como reúso de água e recarga para carros elétricos, estão se tornando diferenciais valorizados. A expectativa é de continuidade no crescimento, ainda que em ritmo mais moderado. O alto padrão segue como um dos segmentos mais resilientes do mercado imobiliário. Com estoque reduzido, demanda forte e um cenário de valorização contínua, o setor de imóveis de alto padrão se mantém como uma aposta segura para investidores e compradores.