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Italianíssima

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A Casa Santo Antônio, aberta há mais de uma década, se consolidou como uma referência gastronômica

Por Ney Ayres

Retratos Germano Lüders

A Casa Santo Antônio encanta os clientes desde a inauguração, em junho de 2013. O charmoso restaurante italiano, localizado em São Paulo, nasceu do sonho e da expertise de dois ex-funcionários do Grupo Fasano: Bruno Taddeucci e Mateus Turner de Godoy.

Eles se conheceram quando se formaram na Escola Senac de Campos do Jordão (SP). Ali se tornaram amigos ainda muito jovens. Ambos reconhecem que, ao ingressarem no Fasano — que preza, acima de tudo, a excelência —, seus talentos foram aprimorados. O ex-patrão, Rogério Fasano, é famoso pelo rigor — ou melhor, pela exigência.

Com o tempo, a dupla expandiu seus horizontes dentro do grupo. Mateus e Bruno chegaram a atuar como sommeliers, aprofundando-se no universo dos vinhos. Também desenvolveram habilidades em diversas outras áreas do serviço. Essas experiências foram cruciais para moldar a visão que tinham do próprio negócio.

O nome do restaurante homenageia o bairro onde está localizado, a Chácara Santo Antônio, e também evoca a figura de Santo Antônio, considerado o santo da fartura, trazendo uma atmosfera acolhedora e tradicional. A casa, um antigo casarão da década de 1960, pertenceu à família de um dos sócios, Miguel Garcia.

Hoje, mais de uma década após a abertura, o restaurante está consolidado como um ponto de referência na cena gastronômica paulistana. Fruto da dedicação e da visão de Bruno Taddeucci e Mateus Turner de Godoy, a Casa Santo Antônio celebra a boa mesa, a hospitalidade e a paixão pela culinária italiana, mantendo viva a história de sucesso construída desde o primeiro dia.

THE PRESIDENT _ Como nasceu a casa, qual foi a ideia, como esse sonho foi realizado e qual foi a inspiração para criá-la?

Mateus Turner – Bom, eu e o Bruno estudamos hotelaria em Campos do Jordão juntos, dos 15 aos 18 anos. Esse sonho começou nessa época. Trabalhamos no Grupo Fasano durante muitos anos, juntos, como sommeliers na equipe do Manoel Beato. Em 2010, quando eu já tinha saído do grupo para morar fora, o Bruno também estava querendo empreender. Começamos a formatar a ideia, junto com o Sandro Aires, que era nosso sócio na época e chefe de cozinha, e com outros amigos. Inicialmente, o plano era instalar a casa no Itaim Bibi, num imóvel que tínhamos visto na época. No caminho, conhecemos outras pessoas que nos sugeriram montar um restaurante com foco em massas frescas, todas feitas na hora, com molhos preparados aqui mesmo e uma boa relação custo-benefício. Esse é o conceito do restaurante desde 2013, quando abrimos, até hoje.

Vocês tinham investidores?

Bruno Taddeucci – Nada disso. Foi tudo com capital próprio, sem investidores nem bancos. Temos mais dois sócios, o Paulo Aprile e o Miguel Garcia. Mas foi tudo na cara e na coragem mesmo, reinvestindo ao longo desses 12 anos. O que sobrava, colocávamos de volta no negócio.

MT – Vamos completar 12 anos no dia 6 de junho, justamente uma semana antes do dia de Santo Antônio — que, segundo a gente, traz muita sorte.

O nome vem daí?

BT – Bem, o “Casa” vem do próprio imóvel. Afinal, era a casa do pai do nosso sócio Miguel. Ele a construiu, e a família viveu aqui a vida toda. Era uma pessoa muito festeira, gostava de receber. Quando ele faleceu, a casa ficou fechada. Reformamos muito pouco: mantivemos a estrutura, abrimos algumas paredes. O resto foi decoração.

MT – Já o “Santo Antônio” vem do bairro. Estamos na Chácara Santo Antônio. Mas também fomos ler mais sobre o santo, que é muito mais do que o padroeiro dos casamentos. Ele também é o santo da fartura — o que casou muito bem com a ideia do restaurante. Gostamos da mesa farta e da casa cheia. O conceito da Casa Santo Antônio surgiu disso.

Como foi montar um restaurante fora do eixo Jardins-Itaim Bibi?

BT – O começo foi muito incerto. Não sabíamos se ia dar certo. Acreditávamos na proposta de oferecer alta gastronomia com preço justo, mas nos perguntávamos como atrair os clientes. Começamos atraindo o pessoal do bairro. Eles se levantavam da mesa para agradecer, dizendo que não precisavam mais ir aos bairros centrais para comer bem.

MT – Nossa decisão de abrir fora dos tradicionais polos gastronômicos foi influenciada pela revisão do Plano Diretor e pela Operação Urbana Chucri Zaidan, que, há 12 anos, indicava o potencial de crescimento da região. Na época, a área era cheia de oficinas mecânicas, mas já se vislumbrava o desenvolvimento futuro. Nossa escolha, apesar de arriscada, foi acertada. Hoje, o restaurante é considerado um dos melhores da Zona Sul, fora da concorrência direta do Itaim e dos Jardins.

BT – Com o desenvolvimento, vieram as grandes construções na Marginal. E com elas, as multinacionais: Nestlé, Coca-Cola, Citroën, Deloitte, Pfizer… Hoje, muitos dos nossos principais clientes trabalham nessas empresas.

O restaurante está no Guia Michelin, mesmo fora do eixo Jardins–Itaim.

MT – Para nós, entrar no Guia Michelin foi ainda mais significativo do que para outros restaurantes. E fomos incluídos logo na primeira edição, há oito anos — uma alegria enorme. Fomos selecionados na categoria Bib Gourmand, que destaca casas com excelente culinária a preços acessíveis. Exatamente o nosso conceito desde o início. Mas isso não significa que não investimos. Muito pelo contrário: ao longo dos anos, investimos em reformas, treinamentos e consultorias. Estar no Michelin não valeria nada se alguém viesse de longe, do Itaim, por exemplo, e se decepcionasse.

A gastronomia da Casa Santo Antônio é italiana ou mediterrânea?

MT – Italiana. Durante muito tempo, relutamos. Queríamos uma gastronomia contemporânea, misturávamos pratos internacionais, franceses, brasileiros. Mas nos últimos anos, especialmente no pós-pandemia, voltamos às raízes italianas.

BT – Revisitamos nossos valores, nossa missão. Começamos a criar uma identidade para a casa e percebemos: “Não faz sentido ter uma identidade clara e um cardápio com um pouco de tudo.” Decidimos ser italianos de verdade. Tentamos ser o mais clássico possível, com massas frescas. Temos uma janela no fundo da casa onde dá para ver a massa sendo preparada na hora — uma forma de mostrar ao cliente a autenticidade do que oferecemos.

“Decidimos ser italianos de verdade. Tentamos ser o mais clássico possível”, Bruno Taddeucci.

Vários pratos foram inspirados na Settimana della Cucina Italiana, certo?

MT – A Settimana della Cucina Italiana acontece anualmente desde 2012. Abrimos um ano depois e já participamos. São 20 restaurantes em São Paulo que recebem chefs italianos de 20 regiões. Cada chef atua por uma semana. Sempre replicamos essa semana, e o evento é um sucesso — é quando atendemos mais pessoas no ano. Os clientes aguardam ansiosos. Além disso, o intercâmbio é uma experiência incrível. Em alguns anos, nosso chef também foi para a Itália. É um laboratório riquíssimo. Criamos um arquivo, um banco de dados valioso. Imagine: todo ano, 20 regiões, 20 restaurantes, cada um com ao menos dois antipasti, dois primi, dois secondi e duas sobremesas. São oito pratos novos por casa — ou seja, uma biblioteca de sabores e inspirações.

O menu executivo oferece opções diferentes?

BT – Sim, o executivo muda a cada 20 dias. Ali testamos novidades. O que funciona vai para o cardápio principal. O Ravióli de Vitelo, por exemplo, começou no executivo. Ele acontece de segunda a sexta, das 12h às 15h (exceto feriados), com duas opções de entrada, cinco ou seis pratos principais e duas sobremesas.

Quem é o chef da Casa Santo Antônio?

BT – Aluísio Sabino, que está conosco há dois anos e meio. Fazemos questão de destacá-lo. Muito do nosso sucesso vem do talento e da competência dele. Mas seguimos um conceito que aprendemos com Rogério Fasano: antes de tudo, vem o restaurante; depois, o chef; por fim, o Mateus e o Bruno.

E a carta de vinhos?

BT – Nossa carta é ítalo-brasileira. Priorizo o lado italiano, mas, por estarmos no Brasil e termos ótimos vinhos nacionais, faço questão de incluí-los. Hoje, 30% a 35% da carta é de vinhos italianos e o mesmo tanto de brasileiros. O restante é de outros países: temos rótulos argentinos, chilenos, uruguaios, espanhóis e portugueses.

“Gostamos da mesa farta e casa cheia. O nosso conceito nasceu disso”, Mateus Turner.

Quais são as projeções para 2025? Teremos novidades?

MT – Olha, 2023 foi excelente. Em 2024, superamos o volume em 3%. E 2025 já começou bem, dentro do que planejamos. As perspectivas são boas. O segredo é não parar. Mantemos uma equipe de mídias sociais atuante, assessoria de imprensa constante. Estamos sempre agitando, fazendo parcerias, trazendo gente para cá. Não podemos parar.

A casa está sempre cheia?

MT – Sempre. Atendemos, em média, quase 7 mil pessoas por mês.

E durante a pandemia?

BT – No início, foi um susto. Mas houve um grande salto do pré para o pós-pandemia. O movimento dobrou, impulsionado pelo delivery — que funcionou como marketing. Investimos em embalagens reutilizáveis e em detalhes na entrega para garantir uma boa experiência. Isso atraiu muitos clientes ao salão. Além disso, ampliamos o espaço com uma área externa, mantendo o distanciamento e atraindo novos frequentadores.

Quais são os pratos mais pedidos?

BT – O campeão absoluto há 12 anos é o Tortellini de Queijo Brie com Fonduta de Parmesão e Manteiga de Trufas Brancas italianas. Em segundo, o Pappardelle com Ragu de Costela. Quase empatado está a Lasanha de Cordeiro, no cardápio há uns 10 anos.

Se tirarem do cardápio, tem protesto?

BT – Com certeza! A gente perderia clientes (risos). Outro prato muito pedido é a Paleta de Cordeiro, que antes vinha com polenta e hoje é servida com risoto de açafrão.