O estadunidense Paul Krugman, vencedor do Prêmio Nobel de Economia de 2008, publicou um artigo elogiando o sucesso do Pix no Brasil enquanto os Estados Unidos resistem à criação de uma moeda digital pública
Por Redação
Vencedor do Prêmio Nobel de Economia de 2008, o estadunidense Paul Krugman publicou um artigo na terça-feira (22) no qual elogia o sistema brasileiro de pagamentos digitais PIX. Professor da Universidade da Cidade de Nova Iorque, o economista destacou o sucesso da criação do Banco Central no texto intitulado ‘O Brasil inventou o futuro do dinheiro?’.
Krugman afirma que o Pix é um exemplo claro de como uma plataforma de pagamento pública pode ser eficaz, acessível e eficiente, sem os custos elevados dos métodos tradicionais. O economista afirma que o sistema, aderido por 93% da população brasileira adulta, é referência mundial por ser mais rápido e barato em comparação com cartões de crédito e débito.
‘As transações Pix ocorrem quase instantaneamente. Um pagamento Pix é liquidado em 3 segundos, em média, contra 2 dias para cartões de débito e 28 dias para cartões de crédito. Os custos de transação são baixos. As autoridades estabeleceram a exigência de que o Pix seja gratuito para pessoas físicas, e o custo de uma transação de pagamento para empresas/comerciantes é de apenas 0,33% do valor da transação, contra 1,13% para cartões de débito e 2,34% para cartões de crédito’, pontuou Krugman, trazendo dados de um relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Acessível e mais seguro que criptomoedas
Paul Krugman ainda comparou o Pix às criptomoedas. O vencedor do Nobel acredita que o sistema brasileiro está se tornando o que o blockchain deveria ser: uma tecnologia de baixo custo e de inclusão financeira.
‘Não posso deixar de notar que o Pix está, na verdade, alcançando o que os defensores das criptomoedas afirmaram, de maneira equivocada, que a blockchain conseguiria entregar — baixos custos de transação e inclusão financeira. Compare os 93% de brasileiros que usam o Pix com os 2%, isso mesmo, 2% dos americanos que usaram criptomoedas para comprar algo ou fazer um pagamento em 2024’, disse o economista.
‘A verdade é que um sistema como o Pix não só amplia o acesso aos serviços financeiros para os mais pobres, mas também contribui para a inclusão digital e financeira, ao passo que sistemas privados de pagamento frequentemente deixam esses mesmos cidadãos de fora’, completou.
Trump e o Pix
Paul Krugman também não deixou de comentar a resistência dos Estados Unidos ao Pix e à criação de uma moeda digital pública, o CBDC (central bank digital currency). No dia 15 de julho, o governo americano iniciou uma investigação sobre ações, políticas e práticas do Brasil que impactam o comércio dos EUA, abordando principalmente questões relacionadas ao comércio digital e serviços de pagamento eletrônico.
Em relatório oficial, o governo de Donald Trump argumenta que o incentivo ao uso do Pix poderia estar dificultando a entrada de empresas norte-americanas no mercado brasileiro. Por ser uma solução doméstica, o sistema coloca em risco o espaço das empresas estrangeiras, especialmente das grandes corporações financeiras dos EUA, como as operadoras de cartões.
‘De maneira mais geral, as evidências indicam que essas ações, políticas e práticas podem prejudicar a competitividade das empresas dos EUA envolvidas no comércio digital e nos serviços de pagamento eletrônico’, diz o documento.
Krugman, por sua vez, criticou o governo dos Estados Unidos em seu artigo. Sobre a resistência do país à criação de uma moeda digital pública, o economista acredita que o motivo por trás da oposição é a ‘ameaça de que uma CBDC possa diminuir a influência do setor financeiro privado, que é central para o poder de lobbies e do governo’.
Por fim, Paul Krugman reforça a ideia de que o Pix é referência mundial, mas não acha nada provável que os Estados Unidos utilizem o sistema como um exemplo.
‘Outras nações podem aprender com o sucesso do Brasil no desenvolvimento de um sistema de pagamento digital. Mas os EUA provavelmente permanecerão presos a uma combinação de interesses pessoais e fantasias cripto’, concluiu.