Club Transatlântico recebe especialistas para discutir Brasil–EUA, em evento com apoio da revista THE PRESIDENT
Por Redação Fotos Germano Lüders
O cenário econômico e político marcou a pauta da reunião-almoço realizada na última sexta-feira (25), no Club Transatlântico, em São Paulo. Com o tema “Negociando o Futuro: EUA x Brasil”, o encontro reuniu empresários, executivos e especialistas em negociações internacionais. Entre os convidados, estavam Christian Lohbauer, cientista político e ex-presidente da CropLife Brasil, e Renato Ochman, advogado com atuação destacada em fusões e aquisições entre os dois países. A reunião também contou com a presença de integrantes do grupo VIP BATTISTINI e teve apoio institucional da revista THE PRESIDENT.
Negociação no centro do tabuleiro geopolítico e o xadrez político internacional
Os princípios que norteiam uma negociação eficaz foram trazidos à tona logo na abertura do evento, com Lohbauer defendendo o modelo de ganha-ganha como estratégia central. Ele ainda ressaltou que o excesso de temas em uma negociação pode enfraquecer os resultados, além de pontuar que figuras-chave como presidentes de empresas ou autoridades públicas devem se limitar à abertura de portas, delegando os detalhes a equipes técnicas preparadas.
Por outro lado, Ochman compartilhou casos reais de transações empresariais internacionais, destacando que clareza, foco e objetividade são determinantes para o sucesso. Uma das expressões marcantes do encontro — “Cacique fala com cacique” — sintetizou bem essa abordagem de alto nível nas tratativas iniciais.
A falta de acordos de bitributação entre Brasil e Estados Unidos foi um dos temas delicados discutidos. O atual modelo obriga empresas brasileiras a pagarem impostos em ambos os países. A recente taxação de 15% sobre rendimentos de pessoas físicas com investimentos no exterior foi alvo de críticas por seu potencial de desestimular o fluxo de capitais e investimentos estrangeiros.
Sob a ótica de segurança nacional e protecionismo, a política comercial norte-americana também foi analisada, sobretudo no período do atual mandato de Donald Trump. Os especialistas ressaltaram que os Estados Unidos deixaram de priorizar acordos multilaterais, como o NAFTA, e passaram a focar em estratégias unilaterais. Com 23% do PIB mundial e 80% do orçamento da OTAN, os EUA mantêm alta capacidade de barganha, o que reforça sua posição dominante nas mesas de negociação.
As tarifas impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros foram apontadas como uma das maiores ameaças atuais à economia nacional. Cargas tarifárias de até 50% sobre suco de laranja, celulose, carne bovina e café inviabilizam as exportações e colocam em risco mais de 1 milhão de empregos, de acordo com estimativas apresentadas.
Empresas como Suzano, Klabin, Embraer, JBS e Notrade, presentes nos setores do agronegócio, papel e celulose e aviação, enfrentam o risco da perda de competitividade internacional e de recuo em participação de mercado.
Lohbauer ainda chamou atenção para o déficit comercial histórico do Brasil com os EUA, apontando a ausência de uma política clara de defesa de interesses nacionais. Ele propôs a criação de um grupo misto de diplomatas, senadores e representantes empresariais para um diálogo direto com o governo americano, a fim de destravar impasses e alinhar expectativas.
Depois das principais falas, os participantes foram convidados a formar grupos e discutir estratégias práticas para o futuro das relações bilaterais. O clima foi de engajamento ativo, com troca de experiências internacionais e contatos profissionais envolvendo empresários que atuam também no Paraguai, Peru e Estados Unidos. No fim, enfatizou-se a importância de encontros regulares para monitorar cenários e fortalecer pontes entre as lideranças empresariais e políticas do Brasil e dos EUA.
O evento foi avaliado como extremamente produtivo, com conteúdo relevante, análises técnicas e propostas viáveis. A necessidade de uma atuação coordenada entre os setores público e privado ficou evidente.
Possíveis cenários para o segundo semestre de 2025
As previsões para o segundo semestre de 2025 são incertas, mesmo levando em consideração o impacto da rivalidade entre Lula e Trump e o alinhamento do Brasil ao bloco dos BRICS e à China. A tendência é que nenhuma decisão concreta seja tomada até o dia 1º de agosto, com uma possível nova rodada de discussões em setembro. Um cenário otimista projeta uma redução tarifária para 30%, enquanto o pessimista antecipa a manutenção ou até aumento das barreiras comerciais.