Pesquisa do professor Miles Richardson analisou dados sobre urbanização, declínio da vida selvagem e a diminuição da transmissão da conexão com a natureza entre pais e filhos
Por Felipe Novis
Não é segredo que a conexão das pessoas com a natureza na atualidade é bem menor do que no passado. Mesmo assim, uma recente pesquisa indica que o desgaste nessa relação é maior do que muitos imaginam. De acordo com um estudo conduzido por Miles Richardson, professor da Universidade de Derby, e publicado na revista Earth, a conexão humana com o meio ambiente diminuiu mais de 60% desde 1800.
O número reflete o desaparecimento de palavras relacionadas à natureza, como rio, musgo e flor, dos livros nos últimos 220 anos, com pico de queda de 60,6% em 1990. A pesquisa analisou dados sobre urbanização, declínio da vida selvagem nos bairros e, especialmente, a diminuição da transmissão dessa conexão entre pais e filhos.
“A conexão com a natureza é hoje reconhecida como uma das principais causas da crise ambiental. Ela também é vital para a nossa saúde mental. Une o bem-estar humano e o da natureza. Precisamos de uma mudança transformadora se quisermos alterar a relação da sociedade com o mundo natural”, declarou Richardson.
As projeções para o futuro também não animam. A expectativa do estudo é de uma contínua “extinção da experiência”, com as próximas gerações cada vez menos conscientes da natureza em decorrência da urbanização e da falta de orientação dos pais às crianças sobre o mundo natural.
Como reverter a situação?
Segundo Miles Richardson, apenas mudanças profundas nas políticas públicas e na sociedade são capazes de reverter o atual cenário. A introdução das crianças ao contato com a natureza desde cedo e a transformação radical dos ambientes urbanos em espaços mais verdes são fatores transformadores possíveis e necessários.
O estudo, no entanto, constatou que mesmo medidas do tipo não são capazes de aumentar o envolvimento popular com a natureza no curto prazo. Aumentar em 30% a área de espaços verdes biodiversos em uma cidade, por exemplo, não seria suficiente, já que a pesquisa indica que o número precisaria ser dez vezes maior para reverter o atual declínio.
Mesmo assim, iniciativas populares para engajar as pessoas com o meio ambiente são importantes para a saúde mental. As medidas mais eficazes são aquelas que promovem a consciência e o envolvimento com a natureza desde a infância, assim como políticas voltadas para a transformação das áreas urbanas nos próximos 25 anos.
Richardson ainda aponta que, pelo fato de os níveis atuais estarem muito baixos, essa transformação pode acabar sendo menos complicada do que parece.