Jovem e criativa, Flávia Brunelli criou a Del Veneto para se tornar referência em carne suína e levar adiante o legado da família
Por Mario Ciccone
No agronegócio, setor historicamente dominado por homens, as mulheres vêm assumindo posições de liderança. Entre as protagonistas está Flávia Brunelli, 31 anos, que carrega a história de uma família italiana dedicada há quatro gerações à criação de suínos.
A trajetória empreendedora de Flávia começou há sete anos, quando decidiu unir o legado familiar com sua paixão pela gastronomia. Nasceu a Del Veneto, especializada em cortes suínos personalizados e em novos usos para a carne de porco no mercado gourmet.
O nome Del Veneto é uma homenagem ao avô de Flávia, Umberto Brunelli (1930-2021). O seu nonno nasceu Velo Veronese, nas montanhas da região de Verona, na Itália. Ali, a família já criava suínos e produzia embutidos artesanais. Mas Umberto resolveu emigrar para o Brasil, após a Segunda Guerra Mundial. Aqui, a família seguiu com a produção no segmento, especialmente na Fazenda Malga Vazzo Brunelli.
Formada em administração, Flávia Brunelli se destacou com um projeto acadêmico voltado à gastronomia, o que lhe rendeu uma imersão na Disney University, onde aprendeu sobre excelência no atendimento. Depois, estudou gastronomia no Senac, estagiou em restaurantes e se especializou em carnes em cursos nos Estados Unidos, na Itália, em Portugal e na Argentina.
THE PRESIDENT _ A criação da Del Veneto tem muito a ver com a sua família?
Flávia Brunelli – Sim. O nome Del Veneto é antes de tudo uma homenagem ao meu nonno Umberto Brunelli.
Trabalhar na área era a sua ideia inicial?
FB – Na verdade, eu cursei administração de empresas na Facamp, em Campinas, e era estagiária na Tetra Pack. Posso dizer que o meu trabalho de conclusão de curso mudou tudo.
Como foi isso?
FB – Fiz um plano para um fast food de carne suína. Foi um sucesso. Numa feira de negócios na faculdade, vendemos mais de 700 lanches. Nosso grupo foi o único a dar lucro. Com isso, ganhamos uma viagem para a Disney University, em Orlando. Lá, aprendi tudo sobre encantamento.
Mas de que forma você iniciou o seu projeto?
FB – Numa jornada até espiritual, percebi que tinha um propósito e missão de vida de gerar empregos e abençoar famílias, então entendi que precisava começar a empreender. Então, fiz alguns cursos de gastronomia no Senac, estagiei em restaurantes e fiz imersão no estudo sobre carne suína nos principais países de consumo suíno ao redor do mundo.
Como foi montar o line-up de produtos?
FB – Foi um processo profundo de escuta e propósito. Antes de começar a criar o portfólio, eu fui a campo. Fiz uma pesquisa profunda em açougues, empórios e restaurantes especializados nos EUA, na Argentina e na Itália, países onde a carne suína é muito valorizada. Quis entender como o produto era apresentado, quais cortes se destacavam, quais narrativas envolviam o consumidor.
E depois?
FB – Voltei ao Brasil com uma certeza: a carne suína brasileira precisava de um novo posicionamento. Assim, construímos o portfólio da Del Veneto com base nessa visão global, adaptada ao nosso contexto e à excelência que temos aqui. Minha família já criava a raça Duroc pela qualidade superior. Escolhi um peso de animal maior do que o usual no Brasil. Decidi que o melhor peso era um animal de 150/160kg devido ao alto marmoreio e acabamento nas peças. O line-up não nasceu de uma planilha, mas da conexão entre tradição, inovação e verdade de quem tem no sangue a criação dos suínos há mais de 90 anos.
E o resultado?
FB – Temos mais de 80 cortes suínos Duroc, charcutaria, salumeria e defumados artesanais com lenha frutífera de jabuticaba da nossa própria fazenda, na região do Vale do Paraíba.
“O agro, o empreendedorismo e a gastronomia têm seus encantos. E muito suor, pressão e escolhas difíceis”
Você também é influenciadora digital. De que forma, esta atividade impulsiona a de empresária?
O meu papel como comunicadora nasceu da vivência intensa no campo, no frigorífico e na cozinha. Quando compartilho os bastidores do meu dia a dia, não é só para mostrar a parte bonita, mas para dar visibilidade à realidade de uma jornada que exige muito: liderar uma empresa, desenvolver produtos, gerenciar pessoas, criar, cozinhar e ainda ter fôlego pra comunicar tudo isso nas redes. Gosto de mostrar a vida real, sem filtro. O agro, o empreendedorismo e a gastronomia têm seus encantos, mas também muito suor, pressão e escolhas difíceis. Acredito que é aí que está a força da comunicação: quando você se propõe a mostrar não só as conquistas, mas o caminho duro que existe por trás delas. Ser comunicadora não é um papel à parte, mas a extensão da minha missão como empreendedora: conectar, educar e inspirar sobre a jornada real de empreender.
Qual o maior desafio para empreender no Brasil?
Empreender no Brasil é um ato de coragem. O empresário brasileiro convive com um dos ambientes mais burocráticos e onerosos do mundo. Exige mais do que gestão técnica. Exige resiliência, criatividade, capacidade de adaptação e, acima de tudo, uma crença inabalável no seu negócio. Apesar de todos esses desafios, amo o que faço.