Segmento de alto padrão paulistano vive um novo boom de vendas de casas — de rua e em condomínios
Por Marcello Romero*
O mercado imobiliário está sempre em transformação. Novas tendências surgem, enquanto outras ficam para trás. É notável a mudança contínua no comportamento do comprador de imóveis de alto padrão em São Paulo.
Um exemplo claro é a evolução na proporção de imóveis transacionados por tipologia. Em 2023, o mercado era amplamente dominado por apartamentos, que representavam cerca de 80% do Valor Geral de Vendas (VGV), enquanto apenas 20% correspondiam a imóveis horizontais (casas). No final de 2024, essa proporção passou a ser de 73% para verticais e 27% para horizontais. A tendência seguiu em 2025: entre janeiro e maio, a participação de apartamentos caiu para 70,6%, e a de casas subiu para 29,4% — um crescimento de quase 50% em relação ao ano anterior. No primeiro trimestre de 2025, o volume de vendas de casas — tanto de rua quanto em condomínios horizontais — cresceu mais de 50% na comparação com o mesmo período de 2024. Hoje, elas já representam 33% das vendas na capital paulista.
Essa transformação tem várias explicações. A primeira é econômica: com a valorização do metro quadrado em regiões nobres, tornou-se viável para as incorporadoras aproveitarem grandes terrenos — antes ocupados por casas antigas, muitas vezes sem valor comercial atrativo — para desenvolver projetos horizontais. Bairros como Jardim Europa, Cidade Jardim, Jardim Guedala, Brooklin, Vila Olímpia e Vila Nova Conceição passaram a receber novos empreendimentos de casas de alto padrão, com projetos que variam entre quatro e nove unidades, segurança reforçada, garagem subterrânea e áreas privativas mais generosas.
Outro fator importante está relacionado ao ciclo geracional, que altera o perfil social de determinados bairros. Muitas vezes, com o envelhecimento das famílias que viveram por décadas em casas de rua bem localizadas, os imóveis passam para os herdeiros, que optam por vendê-los. Esses imóveis, então, entram em um novo ciclo e passam a ser ocupados por famílias mais jovens.
Contudo, os fatores comportamentais são ainda mais determinantes. Após anos morando em apartamentos, muitas famílias — sobretudo aquelas formadas por empresários e profissionais do mercado financeiro — estão em busca de mais espaço, privacidade e qualidade de vida. Desejam jardim, piscina, churrasqueira e menos vizinhos. E estão dispostas a investir mais para ter isso.
Além dos condomínios horizontais, chama a atenção o crescimento expressivo das vendas de casas de rua. Muitos clientes têm questionado os custos crescentes de condomínio e IPTU nos edifícios, que consideram desproporcionais aos serviços oferecidos. Como alternativa, buscam casas em ruas bem localizadas, onde podem montar seus próprios esquemas de segurança, com guaritas compartilhadas, monitoramento, portas blindadas e controle de acesso. Assim, conquistam mais liberdade, sem abrir mão da proteção.
Os números confirmam esse movimento. Segundo levantamento da Bossa Nova Sotheby’s, entre janeiro e maio deste ano, o número de negócios com casas acima de R$ 2 milhões aumentou 55,3% em relação ao mesmo período de 2024. No primeiro trimestre, esse crescimento chegou a 66,5%, especialmente em bairros como Cidade Jardim, Morumbi, Alto de Pinheiros, Moema e Pinheiros.
Apesar de os apartamentos ainda concentrarem a maior parte do mercado (69,3% das vendas), sua participação caiu 9,2 pontos percentuais em relação ao mesmo período do ano passado. As casas vêm ocupando esse espaço e, ao que tudo indica, continuarão ganhando relevância.
Essa tendência reflete uma busca por bem-estar, que ganhou força com a pandemia e agora se consolida — não apenas como uma alternativa financeira interessante, mas como uma prioridade permanente. Morar em uma casa de alto padrão deixou de ser exceção e passou a ser desejo real para quem pode escolher. Não se trata apenas de mudar de imóvel, mas de mudar de estilo de vida — e o mercado imobiliário precisa estar atento a isso.
*Marcello Romero é founder e CEO da Bossa Nova Sotheby’s