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Redescoberto pela ciência, o músculo é essencial para corpo, cérebro e equilíbrio hormonal 

Por Mariela Silveira*

Como médica e diretora técnica do Kurotel, com décadas na medicina preventiva e integrativa, afirmo que o músculo foi redescoberto como um órgão vital — além da força e mobilidade, ele é fundamental para a saúde metabólica, cognitiva, emocional e hormonal.

Por muito tempo, entendíamos o músculo apenas como suporte mecânico, e sabíamos que quem se exercitava tinha menos doenças cardiovasculares, embora os mecanismos por detrás disso fossem pouco claros. Hoje, sabemos que o músculo funciona como um órgão endócrino, produzindo miocinas, como a irisina, que regulam processos inflamatórios, melhoram a sensibilidade à insulina e exercem efeito anti-inflamatório importante. A pessoa sedentária tende a apresentar um grau baixo, porém constante, de inflamação crônica, enquanto a contração muscular ativa respostas que a combatem.

O músculo também influencia diretamente o cérebro, principalmente por meio do BDNF (Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro), uma proteína fundamental para a plasticidade neuronal, memória e cognição. Exercícios de força elevam os níveis de BDNF, promovendo benefícios que vão da melhora do humor à prevenção de doenças neurodegenerativas.

Redescoberto pela ciência, o músculo é essencial para corpo, cérebro e equilíbrio hormonal (Foto: Pexels)

Além disso, o exercício transforma gordura branca em gordura bege, aumentando a quantidade e eficiência das mitocôndrias, as usinas de energia das células, o que gera mais ATP (Adenosina Trifosfato) e aumenta a vitalidade do organismo.

A massa muscular está intimamente ligada ao equilíbrio hormonal. O treino estimula a produção natural de testosterona e hormônio do crescimento (GH), que juntos promovem a síntese proteica e a reparação muscular. Também melhora a sensibilidade à insulina, fator-chave para o metabolismo energético saudável. Por outro lado, o cortisol, hormônio do estresse que pode degradar o músculo quando elevado cronicamente, é regulado de modo positivo pela atividade física, que ajuda a equilibrar sua ação e protege a massa magra.

Estudos, como o publicado na revista acadêmica britânica BMJ, mostram que a massa magra é um preditor mais confiável de longevidade do que o índice de massa corporal. Os achados mostram que a cada 1kg a mais de massa muscular, a mortalidade pode reduzir até 5%, mais significativo que o IMC (Índice de Massa Corpórea). Com o uso do DEXA — padrão ouro em avaliação corporal — encontramos que, mesmo aos 80 anos, é possível ganhar até 3kg de massa magra em 12 semanas com o treinamento e estilo de vida adequados, quebrando o mito de que o envelhecimento impede esse ganho.

Portanto, o músculo não é só um indicador estético ou atlético, mas um dos principais marcadores da expectativa de vida com qualidade. Reflete não só o quanto tempo viveremos, mas com quanta saúde e vitalidade.

*Dra. Mariela Silveira é médica especialista em nutrologia e diretora médica do Kurotel