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ENTREVISTA

O olhar ecológico de Francine Ferrari, da Neobambu

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O olhar ecológico de Francine Ferrari, da Neobambu

Arquiteta e sócio-fundadora da Neobambu, lidera a introdução de soluções ecológicas inovadoras no mercado nacional, como o piso de bambu, registrado pela marca como “Bambu Demolição”

Por Redação

Há quem duvide que a construção civil possa andar junto à sustentabilidade e alta performance. Para Francine Ferrari, arquiteta e sócia-fundadora da Neobambu, essa não é uma regra. Desde 2006, ela lidera a introdução de soluções ecológicas inovadoras no mercado nacional, como o piso de bambu — registrado pela marca como Bambu Demolição —, a madeira termotratada de origem nórdica e superfícies produzidas a partir de resíduos retirados dos oceanos. “Tudo começou em 2005, quando fui desafiada em uma aula da pós-graduação a criar um business plan de um produto sustentável. Foi quando encontrei o piso de bambu — que é uma gramínea, e não uma madeira, mas com potencial técnico e ecológico impressionante”, conta a arquiteta.

Voz atuante na transformação da construção civil, Francine prova, a cada passo, que consciência ambiental e inovação técnica podem, e devem, caminhar juntas.

Francine Ferrari, arquiteta e sócia-fundadora da Neobambu
Francine Ferrari, arquiteta e sócia-fundadora da Neobambu. Foto: Divulgação

THE PRESIDENT _ Como foi criar um produto pioneiro no mercado?

Francine Ferrari — Tudo começou em 2005, quando fui desafiada em uma aula da minha pós-graduação a criar um business plan de um produto sustentável. Foi quando encontrei o piso de bambu — que é uma gramínea, e não uma madeira, mas com potencial técnico e ecológico impressionante. O que era tradicional na Ásia, aqui ainda era visto com desconfiança. Para adaptar ao gosto do mercado brasileiro, criamos a técnica exclusiva do bambu escovado, que registramos como “Bambu Demolição”. Ele virou referência e consolidou o nome NEOBAMBU como sinônimo de piso ecológico. Em 2026, o bambu completa 20 anos no Brasil e segue tão atual quanto no início. Abrir esse mercado exigiu muito mais do que vender um produto: exigiu educar arquitetos, engenheiros e consumidores sobre um novo jeito de construir e consumir madeira. Sustentabilidade, naquela época, era associada a materiais caros, pouco duráveis e sem apelo estético. Tivemos que quebrar esse estigma mostrando performance, design e rastreabilidade. Depois do bambu, segui viajando o mundo em busca de soluções inovadoras. Fomos os primeiros a trazer para o Brasil a madeira termotratada, um material nórdico, totalmente livre de químicos, com alta durabilidade e compromisso ambiental real. Também lançamos um produto feito com resíduos selecionados retirados dos oceanos, transformando o que seria lixo em design de alto padrão. A Neobambu nasceu dessa inquietação e segue até hoje como uma curadora de soluções que aliam sofisticação, consciência ambiental e inovação técnica.

Por que decidiu investir em um material sustentável? Você se considera ativista climática?

FF – Este é o único planeta que temos e a construção civil é um dos setores que mais gera impacto ambiental — e como arquiteta, sempre me incomodou fazer parte disso passivamente. Desde o início, entendi que precisava agir. Trazer materiais de baixo impacto foi uma escolha consciente, mesmo quando isso parecia inviável comercialmente. Sempre levantei essa bandeira com consistência técnica e econômica. Se isso é ser ativista, então sou sim, mas do tipo que propõe, testa, executa e entrega. Ativismo também é apresentar soluções viáveis. E é exatamente isso que a Neobambu faz há quase 20 anos.

Um professor acreditou em seu projeto e decidiu investir. Antes disso, desacreditaram de você? Que comentários já escutou?

FF – Foi um orientador que entendeu o potencial técnico e econômico da minha pesquisa. Eu fiz um business plan completo, com dados de mercado e soluções concretas — e surpreendi a banca. Não veio de mão beijada: foram anos de pesquisa, viagens, negociações, treinamentos e decisões duras. Sim, já escutei que não daria certo, que o mercado não estava pronto, que bambu era frágil. Como era um material completamente desconhecido pela maioria dos profissionais de arquitetura e engenharia, acreditavam que era um produto frágil. Quando fizemos nosso primeiro shopping center e o produto performou com muito mais estabilidade que um piso de madeira tropical, quebramos esse paradigma. Me movo por validação. Me movo por visão e execução

Como é estar à frente da Neobambu? Como consegue se manter relevante no mercado? Que desafios passou?

FF – A Neobambu é parte da minha história. Construímos uma equipe forte, processos sólidos e um posicionamento técnico que nos deu autoridade. Hoje, consigo pensar a empresa estrategicamente, trazendo novas soluções como fizemos com o bambu em 2006. O maior desafio é conciliar inovação de ponta com um setor que ainda tem base artesanal e pouca padronização técnica. Isso exige formação constante da cadeia — do arquiteto ao instalador — e é exatamente onde atuamos com força. Não basta ter um bom produto. É preciso construir um ecossistema de excelência ao redor dele.

Como é ser uma voz feminina neste setor? Passou por situações machistas?

FF – A construção civil sempre foi um ambiente masculino. Mulheres precisam falar mais alto, provar mais, resistir mais. No meu caso, por trazer soluções inéditas, precisei me posicionar com ainda mais firmeza. Nunca fui submissa — e isso incomoda. Já ouvi que eu “deveria levar um engenheiro” para reuniões comerciais. Já fui ignorada em mesas técnicas. Mas a força da Neobambu está na consistência do que entregamos. Ser uma voz feminina nesse setor não é o que me define, mas sei que pode inspirar outras mulheres a ocuparem espaços estratégicos com coragem.