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O que há por detrás do impressionante crescimento da agropecuária brasileira

Por Sylvio Lazzarini*

Em meados da década de 1970 o Brasil era importador líquido de alimentos. Para orgulho dos brasileiros, 50 anos mais tarde tornou-se um grande provedor de alimentos para o resto do mundo. Para isso colaboraram aumentos brutais de produtividade e o apoio dos centros de pesquisas, das universidades, além do investimento direto dos empresários de toda a cadeia produtiva. 

Outro dos responsáveis pelo fenômeno foi o plantio direto, muito bem definido pelo engenheiro agrônomo, meu bom amigo Xico Graziano, em um dos seus inúmeros artigos: “Com o sistema de plantio direto, o Brasil conseguiu expandir sua produção agropecuária e, ao mesmo tempo, controlar a erosão dos solos, que apavorava Herbert Bartz (pioneiro do plantio direto no Brasil) e seus colegas. Que todos saibam: por detrás do sucesso do agro brasileiro existe uma revolução científica”. 

Vamos aos números e fatos. Analisando pelo lado da agricultura de grãos, basta ver as estatísticas de produção e os índices de produtividade. Em 1975, a produção brasileira de grãos era de 38 milhões de toneladas. Em 2024, cresceu nada menos que quase nove vezes. Chegou a 336 milhões de toneladas, enquanto a área plantada pouco mais que dobrou. 

Graças a esse fantástico crescimento da produção de grãos — sobretudo, soja e milho — foi possível incrementar a produção de proteína animal, que também tem apresentado um crescimento significativo, impulsionada pelos avanços tecnológicos no setor. O país se destaca como um dos principais produtores e exportadores de proteína animal do mundo, com a produção total de carnes atingindo, em 2024, um recorde de 31,57 milhões de toneladas.

No caso específico da pecuária de corte, registrou-se uma evolução marcante. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 1975 o rebanho bovino era de 102,5 milhões de cabeças que geravam 1,6 milhões de toneladas de carne por ano. Hoje, com um rebanho equivalente a 234,6 milhões de cabeças — ou seja, 2,3 vezes maior que nos anos 1970 —, produzimos o equivalente a 10,9 milhões de toneladas. Ou seja, um número 6,8 vezes maior. Isso foi possível graças ao espetacular aumento da produtividade do rebanho. Atualmente, produzimos mais carnes por hectare.

Desde 1970, o Brasil tornou-se um grande provedor de alimentos para o resto do mundo (Foto: iStock)

Ao contrário do que se pensa, o Brasil, além de ter solo e clima favoráveis, reúne todas as condições de elevar substancialmente a produção de carnes. O país utiliza inovadoras tecnologias, ditadas por sistemas de produção sustentável, sem necessidade de novas áreas de pastagens. É o caso da integração pecuária, lavoura e floresta (ILPF). Esse processo, criado pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), recupera áreas degradadas e propicia melhoria acentuada dos índices de produtividade do rebanho. 

O conceito da Carne Carbono Neutro, também desenvolvido pela Embrapa, de Campo Grande (MS), é exemplo notável, posto que, com reflorestamento integrado às pastagens, torna-se possível “armazenar” carbono e neutralizar o metano entérico exalado pelos animais. É a chamada pecuária sustentável e ecológica. 

Para acrescentar ainda mais pujança ao desempenho do agronegócio do país não se pode deixar de citar o espetacular avanço da fruticultura brasileira, que tem apresentado um crescimento auspicioso nos últimos anos, impulsionada tanto pelo crescimento do consumo interno quanto pelas exportações. O Brasil vem se consolidando como um dos maiores produtores de frutas do mundo, com destaque para a laranja, banana, melancia, uva, manga, maçã e o limão. 

Tudo isso me faz recordar a enfática defesa que fazia o líder e engenheiro agrônomo Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura, meu particular amigo, que exaltava o futuro do Brasil com foco e prioridade na produção de alimentos. Em 2003, presenciei uma das suas inúmeras palestras. Ao final, ele bradou: “Ninguém segura a agropecuária do Brasil!”. Dito e feito.

O setor do agronegócio vem dando uma lição ao mundo. Segundo a qual, o Brasil é mesmo o país “bola da vez” na produção de alimentos. Um notável celeiro internacional — que não sofre mais o “complexo de vira-lata” — enaltecido pelo escritor pernambucano Nelson Rodrigues, que descrevia um sentimento de inferioridade e autodepreciação nutrido pelo brasileiro de outras épocas.

Hoje, a voz do agro é de orgulho, no sentido de fazer cada vez mais e melhor. Quem viver verá, para desespero do trumpismo, a soberba e pujante agropecuária do Brasil.

*Sylvio Lazzarini é empresário do setor de serviços — CEO do Grupo Varanda — e diretor de Relações Institucionais da FHORESP (Federação de Hotéis, Restaurantes e Bares do Estado de São Paulo). Foi presidente da Associação Brasileira dos Confinadores de Gado, membro efetivo do CNPC (Conselho Nacional da Pecuária de Corte) e autor de 14 livros para o setor agro.