De que maneira o geek brasileiro integrou-se a uma revolução digital do mundo inteiro
Por André Chaves*
Nenhuma mudança é tão fascinante quanto a do mercado geek brasileiro. Desde a chegada do Giz ao Brasil, este segmento evoluiu de forma impressionante, refletindo não apenas novas tecnologias, mas uma mudança profunda na maneira como consumimos cultura e nos conectamos digitalmente.
O geek sempre foi movido por curiosidade, paixão por tecnologia e cultura pop. Mas será que o jovem geek de 2025 ainda se parece com o dos blogs e fóruns dos anos 2000? Na década de 2000, o geek de 18 a 30 anos explorava nichos. Passava madrugadas em fóruns, escrevia textos extensos em blogs, colecionava DVDs, quadrinhos e games em mídia física. O Orkut e os chats eram o ponto de encontro, e o status vinha de ter o primeiro iPod, desbloquear um Nintendo DS ou comprar o recém-lançado iPhone antes dos amigos. Marcas como Apple, Sony e Nintendo não eram só produtos, eram símbolos de pertencimento. Era preciso garimpar lojas físicas, importar produtos e, muitas vezes, esperar meses até que chegassem oficialmente ao Brasil. Era um mundo de comunidades restritas e trocas de conhecimento quase secretas.
Hoje, o cenário é radicalmente diferente. O geek continua curioso, mas seu universo tornou-se global e instantâneo. Plataformas como YouTube, TikTok, Twitch e Discord substituíram fóruns. Textos longos deram lugar a vídeos curtos, comparativos técnicos e transmissões ao vivo. O colecionismo físico se transformou em assinaturas digitais: Netflix, Game Pass, Spotify e Crunchyroll substituem DVDs, mangás e CDs. Antes de comprar um gadget, ele assiste a resenhas de influenciadores, compara especificações on-line e lê opiniões de outros usuários. Um console novo ou um celular dobrável não são apenas compras, são experiências compartilhadas em tempo real com milhares de pessoas.
A pesquisa recém-divulgada pelo Giz_br (2025) confirma a transformação: 91% dos jovens geeks brasileiros compram on-line. Marcas como Samsung, Apple, Google, Xiaomi e Nike definem preferências, mas não identidade isolada. Qualidade, inovação e resenhas técnicas são os principais guias de decisão. O que antes era nicho tornou-se mainstream. Em 2007, discutia-se a instalação de programas, enquanto hoje o jovem geek experimenta inteligência artificial em celulares dobráveis, edita vídeos para TikTok e participa de comunidades de streaming de jogos ao vivo.
A escala e a velocidade mudaram. Pequenos grupos em blogs deram lugar a uma audiência global, hiperconectada e imediata. O geek compartilha conhecimento, opiniões e experiências com milhares de pessoas no mundo.
A jornada do geek brasileiro é também um reflexo da nossa transformação digital: do underground ao mainstream, da paciência à instantaneidade, do físico ao digital. Mas a chama da curiosidade, a vontade de explorar e de descobrir, continua exatamente a mesma.