Camarões nasceu em Natal, no Rio Grande do Norte. Aos trinta e poucos anos abriu sua primeira unidade em São Paulo. E o resultado não poderia ser melhor do que sucesso absoluto
Por Raphael Calles
No princípio era uma dúzia de mesas. O ano era 1989 e o restaurante Camarões abria suas portas em Natal, capital do Rio Grande do Norte, em 5 de julho. Pouco depois, ganhava uma unidade dentro de um shopping, o Natal Shopping, também na capital Potiguar. Treze anos depois, a casa ganhava seu primeiro prêmio, o Top Natal, promovido pelo jornal Tribuna do Norte.
E da dúzia se fez a centena. Ao longo do tempo o restaurante ganhou novas unidades, ampliações, se tornou um ponto obrigatório aos nativos e também aos milhares de turistas que vão à cidade todos os meses.
A primeira unidade do restaurante fora de Natal abriu em 2021, em São Paulo. Mesmo inaugurada há mais de dois anos, onde antes operava a matriz do asiático P.F. Chang’s, um dos mais populares endereços da cidade, na Avenida Juscelino Kubitschek, fui saber da existência do restaurante apenas recentemente, quando tive a oportunidade de conhecer. Se tivesse havido espera desde a inauguração até minha ida, ela teria valido a pena. Eu só estaria chateado de não ter ido tantas vezes quanto agora eu gostaria.
De serviço extremamente amigável e ambiente familiar, os “parabéns a você” pipocam aos montes. No dia que fui, eram ao menos quatro aniversários – eu também quero comemorar o meu lá, já que tenho a mesma idade e apenas alguns dias de diferença que o restaurante.
O cardápio de frutos do mar e, claro, camarões, contempla mais de 40 opções, além de inovações desenvolvidas especialmente para a nossa selva de pedra, como o ravióli recheado com camarão e catupiry e a salada de carne de sol. Mas se eu estava num restaurante que veio de Natal, a comida de Natal que eu queria comer. Passar o olho no cardápio gera dúvida. Olhar as mesas ao redor gera desejo. Apelei para o clássico: “o que sai mais?”.
Para a entrada, fui convencido a pedir a Bruschetta Potiguar. Diferente do que o nome sugere, a bruschetta, na verdade, tem como base dadinhos de tapioca encimados de creme de queijo, camarão, pimenta agridoce e mel de engenho. Uma combinação saborosa, contrastante e que dá o tom: “quero mais”.
Não convencido do sucesso da primeira entrada, fui também para o Camarão 294, o fruto do mar salteado na manteiga de garrafa finalizado com nata fresca e coentro é uma homenagem a um tradicional bar de Natal. Com pegada mais suave, agrada aos mais sensíveis ao agridoce.
Para o prato principal, a mesma dúvida da entrada. O cardápio gera dúvida, as mesas ao lado despertam o desejo. “O que sai mais?”. Diferente da primeira resposta, recebi uma explicação sobre sabores, contrastes e o que combinava com a noite quente – mas bem refrescada pelo ar condicionado do restaurante – que fazia aquele dia. Para o calor, Flor de Sal seria a escolha, já que vai camarão grelhado, regado com azeite de ervas, tomate cereja, muçarela de búfala e flor de sal. Para o meu paladar, cheguei a cogitar Dom Alfredo, sobre fettuccine ao molho com parmesão, vinho branco, bacon e legumes. Mas para seguir a coerência da entrada, escolhi Caicoense. Referência à principal cidade da região do Seridó, o prato leva camarão é salteado com cebola roxa, carne de sol, castanha, pimenta biquinho, cheiro verde e molho de nata, ainda é gratinado com queijo coalho sobre um arroz cremoso de jerimum. A mistura foi certeira: o adocicado do camarão e do jerimum, com a acidez da pimenta biquinho e a crocância neutra das castanhas.
Para a sobremesa, a escolha era certeira. Poderia ter ido de Cartola, tão comum no Rio Grande do Norte. Mas eu não tinha dúvida que a Cocada Maria Bonita seria perfeita. Minha intuição não errou. De coco queimado ao forno, servida com sorvete artesanal de tapioca com uma calda de maracujá. Eu só poderia comer rezando.
Av. Pres. Juscelino Kubitschek, 627, Itaim Bibi, São Paulo – SP