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entrevista

A arte da fusão

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A arte da fusão

Ricardo Guadalupe, CEO da Hublot, revela como a companhia da alta relojoaria suíça consegue unir tradição e modernidade, reputação e forte apelo comercial

 

Ela é gigante. Dita a tendência do mercado relojoeiro e está presente em muitos lugares, com seu apoio e patrocínio. Para citar alguns: no saibro, com o tênis, na neve, com o esqui, nas pistas, com o atletismo, e nos campos, com o futebol. Esse último ganha destaque especial, já que, a cada quatro anos, recebe a atenção de milhões de espectadores de todo o globo por meio da Copa do Mundo. Mas há ainda a Premier League, a Copa da Uefa e os clubes Juventus FC e Ajax Amsterdam. Sem esquecer importantes nomes desse esporte. De Alexia Putellas a José Mourinho, de Kylian Mbappé a Pelé.

A marca, inclusive, despertou a atenção de todo o mundo quando, em 2019, promoveu o encontro de Pelé e Mbappé. Na ocasião, o Rei destacou: “O novo Pelé é Mbappé”. A notícia se espalhou por todos os cantos – e a relojoaria ganhou ainda mais destaque. E essa é a especialidade da Hublot.

Comandada pelo CEO Ricardo Guadalupe desde 2012, a Hublot esteve antes sob as rédeas de Jean-Claude Biver, uma sumidade da relojoaria e considerado o Midas do setor. Na marca, mais do que o ouro, ele salientou que vale a mestria da fusão de materiais. Não por acaso o lema da companhia é a “Arte da Fusão”.

Essa fusão está presente além dos materiais. A Hublot funde estilos, pessoas, arte, tecnologia e uma visão para o futuro sem igual. Aposta na exclusividade com a apresentação constante de edições limitadas para mercados específicos e com pessoas-chave para cada um dos países em que está presente, sem abdicar do apelo global.

Não por acaso, segundo o Top 20 Swiss Watch Company Ranking, divulgado anualmente pelo banco de investimentos Morgan Stanley, a Hublot, apesar de se dedicar ao segmento de alto luxo, é a 12ª maior relojoaria suíça em vendas, com uma participação de mais de 2% em todo o mercado. Agora, em 2023, ela retorna ao Brasil com a visão de abocanhar mais um pouco dessa fatia.

Nesta entrevista, o CEO Ricardo Guadalupe nos leva num viagem pelo sucesso da Hublot, com destaque para o retorno da marca ao Brasil. Ele também compartilha insights sobre a adaptação da companhia ao mundo pós-pandemia, revelando como a maison abraçou a inovação, sempre com o cliente no centro das estratégias.

Guadalupe deixa claro que a Hublot continua a redefinir os limites da relojoaria de luxo com sua abordagem inovadora e seu compromisso com a excelência. É uma jornada que captura a essência da maison: ser pioneira, única e diferente em todos os aspectos. 

THE PRESIDENT - Você herdou o posto de CEO da Hublot de uma das maiores lendas da indústria relojoeira, Jean-Claude Biver. Teve também um convívio próximo com ele. Como foi o período de transição, em 2012?

Ricardo Guadalupe – Foi muito natural, já que eu estava encarregado das operações na Hublot desde 2005. Aliás, nós trabalhávamos juntos desde 1999 na (marca de relógios) Blancpain. Então nos conhecíamos muito bem.

Quais são os aprendizados de Biver que você aplica até hoje na marca e em sua vida?

Jean-Claude inventou a “Arte da Fusão” e criou a filosofia da marca, que é “Unique, Diferent, First” (Única, Diferente, Primeira). Sua contribuição foi muito importante. Tive muita sorte de trabalhar com ele. Na época, grande parte do que impulsionou a Hublot até onde estamos hoje se deve à Arte da Fusão. Jean-Claude acreditava em parcerias, e juntos entendemos o poder da colaboração e do trabalho com talentos em várias indústrias para criar relógios impressionantes. Vimos que o universo de nossos embaixadores tocava muitos de nossos clientes. Isso era especialmente verdadeiro com a arte e o futebol. É tudo sobre construir uma comunidade. Por isso, a família Hublot é tão especial.

São 11 anos à frente de uma das marcas de maior sucesso da relojoaria suíça. Como foi para você a trajetória?

É uma mudança imensa viver esse tipo de experiência em sua carreira profissional. A Hublot faz parte das marcas de referência na indústria relojoeira suíça, e o projeto é se tornar ainda melhor. Temos grandes planos para desenvolver a manufatura, permitindo que a companhia alcance novos patamares e ofereça relógios ainda mais emocionantes. Temos o plano de desenvolver nossa fábrica a um novo nível de alta relojoaria, consolidando a Hublot como uma referência na relojoaria de luxo suíça.

O mercado brasileiro se mostra ainda um pouco retraído e conservador. Como você vê o país para a alta relojoaria?

O Brasil tem um grande amor por relógios de luxo e por itens de luxo em geral. É o lugar perfeito para a alta relojoaria

A Hublot vendia oficialmente seus produtos no Brasil. Depois saiu do mercado e agora está voltando. Você poderia comentar?

A Hublot ama o Brasil! Participamos da Copa do Mundo de 2014. Foi um momento incrível para o futebol e para a Hublot. O lugar perfeito para celebrar nosso amor pelo futebol. Fazia muito sentido para nós voltarmos, porque os brasileiros adoram a marca.

A parceria com celebridades e pessoas notáveis em sua área é algo bastante forte na companhia. Pelé e Mbappé no futebol, Djokovic no tênis, Takashi Murakami nas artes, Depeche Mode na música, para citar apenas alguns que são ou já foram embaixadores da marca. Por que essas escolhas?

Sempre que escolhemos trabalhar com embaixadores, entendemos que isso abrirá um mundo de colaboração. Jamais queremos ter colaborações pontuais. Ao contrário, queremos que isso resulte em uma amizade de longo prazo, que traga valor à marca e aos nossos clientes. Isso faz parte do que a Arte da Fusão representa e está no DNA da Hublot. Ao trabalharmos com talentos de várias indústrias, fundimos o mundo único deles para criar relógios incríveis. 

Como foi a colaboração com Pelé?

Uma das mais singulares. Ele era uma lenda no futebol e uma pessoa incrível. Tivemos muita sorte de tê-lo como parte de nossa família. Foi muito mais do que uma simples colaboração. Durou muitos anos, foi além do branding e se tornou uma amizade genuína, que trouxe muito significado e valor para mim pessoalmente, mas também para a marca. Desde aí estamos sempre trabalhando com personalidades únicas, para compartilhar seu mundo fascinante com nossos clientes.

“A colaboração com Pelé foi muito além do branding. Tornou- se uma amizade genuína”

Juntamente com esses nomes, há uma série de modelos em edição limitada, algo que tornou a Hublot ainda mais conhecida. Qual é o papel da edição limitada? E qual a sua visão pessoal sobre isso?

Na Hublot, a essência de nossa marca é ser Primeira, Única e Diferente. Muitas de nossas peças de edição limitada são o resultado de nossas colaborações, que nos permitem criar peças únicas. Estou pensando na parceria com Takashi Murakami e nos relógios criados em colaboração com ele. São verdadeiras obras de arte. E, como todas as obras de arte, únicas e exclusivas. A limitação cria
a autenticidade.

Esse foi o primeiro ano depois da pandemia que pudemos ver o evento de alta relojoaria Watches and Wonders, em Genebra, com seu potencial completo, com o retorno do mercado asiático. Quais foram as impressões da feira para a marca?

Esse foi o segundo ano da Hublot no Watches and Wonders, e mais uma vez uma oportunidade incrível para nós nos conectarmos e apresentarmos o savoir-faire de nossa maison em um dos momentos mais importantes do calendário relojoeiro. Isso nos permitiu encontrar pessoalmente parceiros, revendedores e imprensa. O evento continua sendo uma das maneiras mais valiosas de compartilhar e trocar conhecimento. Isso fortalece a comunidade relojoeira e cria uma atmosfera muito positiva.



Ao mesmo tempo que o mercado sofreu drasticamente com o período da pandemia, houve a ultravalorização dos relógios de luxo. Como você viu esse movimento?

A pandemia trouxe muitas mudanças na indústria de luxo. É importante destacar que vimos pessoas que, apesar dos desafios, conseguiram economizar mais dinheiro ou gastá-lo de maneira diferente. Também percebemos que a geração mais jovem tem mais propensão a gastar seu dinheiro em compras emocionais, como um relógio, um objeto que pode representar para eles um símbolo de sucesso.

Você acredita que a pandemia aproximou pessoas da relojoaria?

Se isso está diretamente relacionado à pandemia ou não, é difícil afirmar. No entanto, é claro que ela trouxe muitas mudanças: impulsionou a digitalização e levou a encontrar soluções para desafios de produção. Hoje, não enfrentamos mais esses desafios. A indústria relojoeira suíça evoluiu e se adaptou ao mundo pós-pandemia. Vemos a importância de trazer a conexão humana para o mundo digital, e o elemento humano desempenhará um papel importante no crescimento do segmento de luxo. Os clientes estão em busca de autenticidade e experiências personalizadas.

Como você vê o período de recuperação? O mercado tem dado sinais positivos mundo afora.

O ano de 2021 foi um ano recorde para a Hublot. Aliás, 2022 também foi um ano recorde para nós. Esperamos que 2023 seja uma consolidação dos dois anos anteriores.

De alguns meses para cá, houve a redução na quantidade de lançamentos da marca. Trata-se de uma nova estratégia? É uma consequência do período da pandemia?

Não tenho certeza se concordaria com isso, pois estamos sempre trabalhando em novas edições limitadas e lançamentos. Cada vez mais, adotamos uma abordagem regional, criando edições limitadas para mercados específicos. Na Hublot, permanecemos muito focados em nossos clientes, e é por isso que muitos de nossos lançamentos mais recentes são direcionados a um mercado restrito.

Pouco tempo atrás, houve uma movimentação nos ativos digitais NFTs. Como a Hublot atuou nesse mercado? Você acredita ser uma onda que já passou?

A indústria de luxo deve sempre se reinventar. A Hublot está constantemente em busca de inovação e novidades. Ao criar esses NFTs, estamos entrando em um espaço ao qual outros talvez não ousassem ir. Também temos a sorte de contar com Takashi Murakami como nosso embaixador e, ao colaborar com ele, podemos oferecer NFTs exclusivos. Isso é um valor agregado para nossos clientes.

Além disso, a Hublot também se envolveu com o mercado de bitcoins. Qual foi a razão desse passo?

Nossa filosofia sempre foi ser o primeiro, único e diferente. Entrar no Web3 é uma maneira de oferecermos um tipo diferente de experiência e alcançar clientes que fazem parte desse universo. Aceitar criptomoedas, como o bitcoin, é um passo complementar e lógico para a Hublot e para nossos clientes. É mais uma maneira para comprarem nossos relógios de uma forma que faça sentido e seja natural para eles. Graças a isso, podemos alcançar uma base de clientes diferente e nova.

A indústria relojoeira suíça costuma ser bastante conservadora e chega até mesmo a demorar a adotar novidades, como o e-commerce. A Hublot já atua com vendas online?

Sim, a Hublot tem uma plataforma de comércio eletrônico em 44 países. O comércio eletrônico é um aspecto crucial do mercado de luxo. Acreditamos que ele desempenha um papel importante na conquista de novos clientes e no desenvolvimento de relacionamentos. Já lançamos dois relógios de edição limitada exclusivos para o comércio eletrônico. São o Big Bang Unico Essential Grey e o Spirit of Big Bang Essential Grey. Ambos fizeram um grande sucesso devido ao fato de serem colecionáveis.

Estar em uma marca global requer disposição e pensamento estratégico. O que você faz em seu tempo livre para depois manter o foco quando está trabalhando?

Gosto de tirar um tempo para cozinhar ou dar um passeio na natureza. É importante desfrutar dessas experiências simples.

O que você costuma ouvir? Não vale o Depeche Mode...

Eu amo jazz. Amo Frank Sinatra, João Gilberto e Stan Getz.

E ler? Qual sua leitura atual e qual livro você considera como o de sua vida?

Atualmente, estou lendo L’Affaire Alaska Sanders, de Joël Dicker. O livro da minha vida é O Alquimista, de Paulo Coelho.

Qual é o relógio que você está usando hoje? Por que essa foi a sua escolha?

Eu uso o Big Bang UNICO 42mm de titânio. Ele representa o que é a Hublot e sua Arte da Fusão: os materiais, combinando titânio e cerâmica azul, e o movimento de cronógrafo UNICO

Para você, existe um modelo favorito da coleção da Hublot?

O Big Bang All Black.