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Completar ciclos internos fortalece a tomada de decisão e potencializa resultados no ambiente corporativo

Por Amélia Whitaker

Fotos de Divulgação

No ambiente empresarial, virar o ano costuma significar redefinir metas, rever indicadores, ajustar estratégias e projetar crescimento. Mas há um ponto silencioso, raramente discutido nas salas de conselho, que influencia diretamente a qualidade dessas decisões. O que não foi concluído internamente continua operando.

Segundo o psiquiatra e PhD em Neurociências Dr. Diogo Lara, emoções não elaboradas, conflitos não resolvidos, frustrações acumuladas e narrativas antigas permanecem ativas no sistema nervoso como um estado de vigilância constante. Esse funcionamento consome energia cognitiva e afeta clareza, foco e capacidade de decisão, exatamente os recursos mais exigidos de quem lidera.

Na prática, isso significa que muitos executivos iniciam novos ciclos estratégicos carregando estruturas internas que pertencem a contextos antigos. Histórias pessoais não revisadas funcionam como filtros automáticos. Elas distorcem percepções, reforçam padrões reativos e influenciam escolhas sem que o líder perceba.

Dr. Diogo explica que o cérebro não diferencia passado e presente quando emoções seguem sem elaboração consciente. O organismo permanece ocupado resolvendo internamente o que nunca foi nomeado, discutido ou reorganizado. O resultado aparece em decisões menos assertivas, relações profissionais mais tensas e uma sensação recorrente de desgaste, mesmo em cenários de sucesso externo.

“A pergunta não é apenas onde se quer chegar, mas o que precisa ser preservado e atualizado internamente para sustentar qualquer objetivo” – Dr. Diogo Lara.

Nesse contexto, concluir um ciclo não tem relação com motivação ou positividade. Trata-se de organização interna. Revisar o que ficou pendente, como limites não colocados, expectativas não cumpridas e conflitos evitados, libera recursos mentais essenciais para sustentar crescimento real.

O especialista também aponta que, mesmo em intervenções clínicas avançadas, como tratamentos neurobiológicos para depressão resistente, nenhuma mudança se sustenta sem posicionamento interno. A biologia pode abrir caminhos, mas a direção depende da capacidade de revisar interpretações, assumir responsabilidade emocional e escolher conscientemente novos modos de operar.

Para líderes, o encerramento do ano pode ser visto como um processo de seleção estratégica. Não apenas do que será feito no próximo ciclo, mas do que será mantido internamente. Valores, padrões de relação, formas de reagir à pressão e modelos mentais que já perderam função.

Abrir novos capítulos sem finalizar os anteriores mantém fragmentação. Fragmentação custa caro em ambientes de alta responsabilidade.

Concluir ciclos é, portanto, um ato de liderança. Um movimento silencioso, porém decisivo, que estabelece a base sobre a qual qualquer estratégia futura será construída.