A sabedoria de viver está implícita na expressão idiomática “nem tanto ao céu, nem tanto à terra”
Por Mariela Silveira*
Fala-se muito sobre equilíbrio, mas pouco se compreende o quanto ele é vital. Equilíbrio não é um estado estático: é um movimento vivo, uma dança entre forças opostas que, em harmonia, mantém a saúde e a vida. Desde a medicina ayurvédica e o taoismo afirma-se que viver bem é viver em sintonia com o ritmo natural, respeitando a essência e a individualidade orgânica. Hipócrates já ensinava que a doença nasce do desequilíbrio dos humores; Aristóteles falava da virtude como o meio-termo entre dois vícios; Jesus Cristo apontava a fé como força de pacificação e equilíbrio interior. A sabedoria antiga continua atual: quando o ritmo natural se perde, o adoecimento começa. Na fisiologia, quando há um estímulo extremo — frio, calor, esforço ou privação —, o corpo reage, adapta-se e volta ao centro. Muitas vezes é esse ciclo de desequilíbrio e reajuste que fortalece o organismo. Na crioterapia, ao submeter-se por alguns segundos a uma temperatura extremamente baixa, o corpo responde com intensa vasoconstrição. Assim que o estímulo cessa, ocorre uma vasodilatação reflexa, ajustando fluxo sanguíneo, pressão arterial, frequência cardíaca e temperatura até reencontrar o ponto ideal. Esse pequeno “desequilíbrio controlado” estimula mecanismos de reparo metabólico, aumentando resiliência e capacidade de autorregulação. O desequilíbrio faz parte da natureza do equilíbrio. Assim como os músculos se fortalecem ao se reconstruírem após o esforço, nós também evoluímos quando permitimos que o corpo e a mente atravessem ciclos de tensão e repouso, de movimento e quietude. Por outro lado, os desequilíbrios persistentes ou extremos são as grandes causas do adoecimento moderno. O excesso de alimentos ultraprocessados, abusivos em açúcares, gorduras e aditivos químicos, tem relação direta com obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e alterações do humor. Mas o oposto também pode ser prejudicial: escolher “100% saudável” o tempo todo pode levar a isolamento social, ansiedade e ortorexia, transtorno alimentar caracterizado pela obsessão patológica pela alimentação perfeita. O que é saudável no corpo, mas doentio na alma, não é equilíbrio — é extremismo disfarçado de virtude. O mesmo vale para o sono e o movimento. Dormir pouco compromete a memória e aumenta o risco de doenças cardiovasculares; dormir demais também eleva a mortalidade. O sedentarismo causa disfunções orgânicas; o exercício em excesso, estresse oxidativo e lesões. O equilíbrio resolveria grande parte das nossas doenças — e das mazelas do mundo. É nele que mora a cura: no espaço onde o corpo e a mente respiram juntos, onde o prazer e a disciplina se complementam, onde o silêncio tem o mesmo valor da ação. Equilíbrio é um ato de amor e escuta profunda da vida — e talvez a forma mais refinada de medicina que podemos praticar em nós mesmos.