Com a expansão e o Brasil na presidência, o BRICS 2025 busca transformar diversidade em força estratégica
Por Deia Gorayeb*
A concepção do BRICS surgiu em 2001, quando Jim O’Neill, então economista-chefe do Goldman Sachs, apresentou a ideia no artigo Building Better Global Economic. Em 2005, o conceito evoluiu para uma aliança formal entre Brasil, Rússia, Índia e China, com o objetivo de promover crescimento, desenvolvimento e cooperação mútuos. As operações começaram no ano seguinte e, em 2011, a África do Sul foi incorporada, ampliando a representatividade. Ainda assim, muitos analistas classificam o BRICS como uma associação mais voltada para articulações políticas do que um bloco econômico tradicional.
O grupo busca ampliar a influência global de seus membros e acelerar processos de desenvolvimento. Em resposta à necessidade de investimentos em infraestrutura e projetos sociais, o BRICS criou, em 2014, o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), sediado em Xangai, com capital inicial de US$ 100 bilhões, dividido igualmente entre os fundadores.
A expansão se intensificou com a entrada de Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irã e Indonésia. Outros nove países se tornaram parceiros: Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda e Uzbequistão. A ampliação trouxe perfis econômicos e interesses políticos diversos, tornando a cooperação uma necessidade essencial para a sobrevivência e fortalecimento do grupo.
Este ano, o Brasil assumiu a presidência rotativa do BRICS e será anfitrião da cúpula anual, no Rio de Janeiro, nos dias 6 e 7 de julho. A agenda oficial inclui temas como saúde global, comércio, financiamento, mudanças climáticas, inteligência artificial, segurança internacional e fortalecimento institucional do bloco.
É provável que as discussões se concentrem nas incertezas comerciais, diante das recentes políticas protecionistas dos Estados Unidos. Em um momento de redefinição da ordem econômica global, o BRICS tem a oportunidade de coordenar posições, negociar em bloco e construir estratégias. O Brasil, com sua liderança diplomática, poderá desempenhar um papel central, fortalecendo o grupo e discutindo alternativas como a interligação de pagamentos em moedas locais, o que reduziria desequilíbrios e aumentaria a autonomia financeira dos membros.
O BRICS representa 39% do PIB mundial, detém 26% do poder de compra no comércio global e reúne 40% da população do planeta (InfoMoney). Em meio às tensões e interesses divergentes no cenário internacional, o sucesso da cúpula de julho dependerá da capacidade de transformar ideais de cooperação em ações concretas.
Mesmo em um cenário volátil, é possível lançar um voto otimista. Os países-membros e parceiros fortalecerão o multilateralismo. Mais do que isso, são convidados a debater grandes questões globais, com forte poder decisório. Nesta união de nações tão diversas, o curso da História pode estar mudando diante de nós.
*Deia Gorayeb é economista. Atua no mercado financeiro como investidora, estrategista de negócios e conselheira de empresas.