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A hora das agroalianças

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A hora das agroalianças

É preciso semear a união nacional e internacional para colher resultados ainda melhores

Por Caio Carvalho*

O mundo atravessa um período de intensas transformações. O multilateralismo, que por décadas guiou a cooperação global, perde força diante de nacionalismos, protecionismos e disputas geopolíticas. Ao mesmo tempo, desafios urgentes — como mudanças climáticas, segurança alimentar e transição energética — exigem respostas coordenadas e inovadoras, em complexo cenário de unilateralismos. É nesse ambiente que o agronegócio brasileiro — fruto de meio século de investimento em ciência, tecnologia e gestão sustentável — se posiciona como protagonista de soluções em nosso mundo com limites físicos. E é aqui que surge, com força renovada, a necessidade de construir agroalianças. Estamos falando de parcerias estratégicas que vão muito além de acordos comerciais. Elas representam a união entre países, produtores, empresas, cooperativas e centros de pesquisa, para gerar sinergias capazes de fortalecer cadeias produtivas, abrir mercados, compartilhar tecnologias e permitir que o agro brasileiro continue contribuindo para um mundo com segurança alimentar e ações para a transição energética.

Em uma conjuntura global marcada por tensões e incertezas, alianças sólidas se tornam um escudo contra as tais barreiras protecionistas, subsídios distorcidos e instabilidades políticas. Permitem transformar riscos em oportunidades, substituindo a lógica da competição predatória pela construção conjunta de soluções. O Brasil tem credenciais únicas para liderar essa agenda. Somos um país que alia produtividade crescente com preservação ambiental, graças à revolução verde tropical construída por pesquisadores, agricultores e empreendedores. Integramos lavoura, pecuária e floresta em sistemas produtivos que regeneram o solo e capturam carbono. Integramos agriculturas com biorrefinarias. Temos uma das matrizes energéticas mais limpas do planeta, com forte presença de biocombustíveis e renováveis. Sobretudo, somos referência em garantir segurança alimentar para uma população mundial em expansão. Vale lembrar que integração e biocompetitividade, por mais essenciais que sejam, não bastam. É preciso um olhar amplo, para o interior e o exterior. No primeiro caso, fortalecendo cooperativas, capacitando pequenos e médios produtores e criando condições para que todos tenham acesso à inovação, crédito e seguro rural. No segundo, buscando alianças com mercados-chave, diversificando destinos e consolidando parcerias com potências como Estados Unidos, China e União Europeia. As agroalianças também precisam dialogar com temas centrais da agenda global, como a transição energética. A demanda por fontes limpas cresce exponencialmente, não apenas para movimentar economias, mas também para alimentar a revolução tecnológica impulsionada pela inteligência artificial. O Brasil, com sua capacidade de produzir bioenergia em larga escala e de forma sustentável, pode e deve ser parceiro preferencial na construção dessa nova matriz mundial.

O caminho não será simples. As condições macroeconômicas internacionais são desafiadoras, e a incerteza doméstica também exige atenção. De qualquer maneira, a história do agro brasileiro prova que é possível transformar limitações em oportunidades. Foi assim com a expansão agrícola no Cerrado, com a adoção de tecnologias de baixo carbono e com a conquista de mercados globais exigentes, sempre no conceito do “poupa-terra”, ou seja, crescimento da produtividade muito acima do aumento da área para produção. O momento, portanto, é de ousadia e visão estratégica. As agroalianças não são apenas uma resposta às dificuldades do presente; são um projeto de futuro. Um futuro em que o Brasil não apenas exporta produtos, mas também compartilha conhecimento, práticas sustentáveis e soluções tecnológicas que podem ajudar o planeta a enfrentar seus maiores dilemas. Como disse o saudoso Alysson Paolinelli, “o Brasil fez uma revolução agrícola”. Agora, cabe a nós liderarmos a próxima revolução. Mais inovadora, inclusiva e sustentável. Construindo pontes, fortalecendo laços e abrindo caminhos. As agroalianças são o solo fértil onde esse futuro será cultivado.