Quando a fidelidade se torna a nova semente do crescimento
Por Andreia Mariano*
O campo brasileiro está passando por uma transformação que poucos percebem, mas que mudará para sempre a forma como fazemos negócios no agro. Enquanto todos olham para as commodities e os preços internacionais, uma revolução silenciosa acontece bem debaixo dos nossos olhos: o número de fazendas diminui, as propriedades crescem e cada agricultor se torna um tesouro cada vez mais raro e valioso.
É como se estivéssemos assistindo a um filme em câmera lenta. De acordo com dados do USDA, o número de fazendas nos Estados Unidos caiu 7% apenas entre os últimos censos, enquanto o tamanho médio das propriedades aumentou proporcionalmente. No Brasil, embora os números sejam diferentes, a tendência é similar: consolidação, concentração e, inevitavelmente, menos clientes para disputar.
É exatamente nesse contexto que a experiência do cliente deixa de ser um “nice to have” e se torna uma questão de sobrevivência. Não estamos falando apenas de sorrisos no atendimento ou respostas rápidas no WhatsApp — embora isso também seja importante. Estamos falando de criar uma experiência tão valiosa, tão integrada ao dia a dia do agricultor, que a simples ideia de trocar de fornecedor se torne impensável.
Uma empresa americana chamada Growers, entendeu essa dinâmica antes de muitos outros, desenvolveu algo que parece simples na superfície, mas é revolucionário na prática: um programa de fidelidade que funciona como uma plataforma agronegócio. Cada compra de sementes, defensivos, fertilizantes ou serviços gera pontos que ficam armazenados numa carteira digital. O agricultor acompanha suas recompensas em tempo real e vê suas compras futuras ficarem progressivamente mais vantajosas.
Mas o grande diferencial não está nos pontos em si, e sim na integração. O sistema da Growers conversa diretamente com o ERP e o CRM dos varejistas, transformando cada transação em informação valiosa. Isso permite que as ofertas sejam personalizadas de acordo com o histórico, as necessidades sazonais e até mesmo as particularidades de cada negócio. O resultado é uma experiência que parece feita sob medida — porque, de fato, é.
A beleza desse modelo está na sua simplicidade psicológica. O agricultor sabe que vai precisar comprar insumos na próxima safra, e na seguinte, e na que vem depois. Quando ele percebe que cada compra o aproxima de benefícios reais e tangíveis com um fornecedor específico, a decisão de concentrar as compras se torna natural, quase automática.
Esse tipo de estratégia vai muito além do que conhecemos tradicionalmente como “relacionamento comercial”. Estamos falando de criar rituais de consumo, de transformar transações rotineiras em momentos de reconhecimento e valor. É como se cada compra fosse um pequeno investimento no futuro da própria fazenda.
Claro que nem tudo são flores nessa jornada. Implementar um programa de fidelidade eficaz no agronegócio exige muito mais do que tecnologia — exige uma mudança cultural profunda. É preciso sair da mentalidade de venda transacional e entrar na lógica do relacionamento duradouro. Isso significa treinar equipes, reformular processos internos e, principalmente, ter paciência para colher resultados que talvez só apareçam na próxima safra.
O fato é: a nova safra de crescimento no agronegócio não virá da terra — virá dos corações e mentes dos agricultores que escolherão, safra após safra, confiar seus negócios a empresas que souberam transformar transações em relacionamentos e relacionamentos em parcerias genuínas. E nesse campo, quem plantar fidelidade primeiro será quem colherá os frutos mais doces.
*Andreia Mariano é estrategista em experiência do cliente, com passagens por American Express e Bradesco, e fundadora da FuturExperience. Também atua como professora associada da Fundação Dom Cabral e orientadora técnica do Paex — Parceiros para a Excelência.