Um bólido antes de tudo equilibrado – e, claro, lindo demais
Por Paulo Manzano
A nova Ferrari Amalfi, revelada oficialmente como substituta da Roma, é a prova de que a marca de Maranello ainda sabe reinterpretar suas tradições com elegância e esportividade. Longe de ser apenas uma evolução estética ou uma troca de nome, a Amalfi representa um ponto de virada, talvez até um mea culpa.
Pouca gente tem noção de como os volumes de produção da Ferrari são baixos. Ainda assim, em 2024, a marca bateu seu recorde com pouco mais de 13 mil unidades. Modelos como a Purosangue, a Roma Spider e a 296 GTS puxaram esse crescimento. Já a Roma original se despediu de maneira discreta, após cinco anos de produção. Sua substituição não chega com alarde, mas sim com propósito claro: reafirmar o papel da grand tourer na linha da Ferrari.
O retorno dos botões físicos no volante da Amalfi é mais do que um capricho estético. É uma resposta direta a quem criticou a ergonomia dos modelos recentes. E também um gesto simbólico de escuta. A marca promete, inclusive, oferecer retrofit para clientes da Roma e da 296. Um movimento raro.
O design externo é fluido, limpo, moderno e elegante. A frente sem grade, com faróis integrados em cortes técnicos, pode causar alguma estranheza, mas demonstra coragem. A cor de lançamento, Verde Costiera, reforça a inspiração na idílica Costa Amalfitana, no Sul da Itália. Por dentro, o painel monolítico e o cockpit duplo criam um ambiente envolvente, com acabamento em fibra de carbono, alumínio usinado e couro verde Bellagio.
A Amalfi traz um V8 biturbo de 640 cv montado na dianteira central, acoplado a um câmbio de dupla embreagem com oito marchas. Vai de 0 a 100 km/h em 3,3 segundos, com conforto e suavidade surpreendentes. É um desempenho brutal disfarçado de elegância. E sem auxílio elétrico. Para quem ainda valoriza o motor a combustão em sua forma pura, isso é um presente.
A aerodinâmica ativa conta com spoiler traseiro móvel em três modos e com uma aba fixa de 20 mm na traseira, além de geradores de vórtice no splitter dianteiro. Tudo pensado para gerar downforce com o mínimo impacto no arrasto.
A experiência sensorial também foi aprimorada. Bancos com massagem, ventilação, três tamanhos e ajustes finos. Um sistema de som Burmester com 14 alto-falantes e 1.200 watts. Tudo integrado ao novo sistema de conectividade MyFerrari Connect, com três telas e comandos bem resolvidos.
A frenagem by-wire e os sensores 6D garantem estabilidade em qualquer condição, enquanto a direção elétrica recalibrada oferece mais progressividade. O comportamento dinâmico parece mais dócil, mais previsível. Um carro menos agressivo, mais acolhedor. Como deve ser uma GT de verdade.
A Ferrari acena com sete anos de manutenção oficial, com revisões periódicas e suporte técnico de fábrica, reforçando o cuidado com quem investe em um carro como esse.
A Amalfi não tenta reinventar nada. Talvez por isso funcione tão bem. É uma Ferrari bem resolvida, com equilíbrio entre forma e função, potência e conforto, tradição e atualização. Uma GT feita para ser usada com prazer e sem esforço. Talvez um sinal de desaceleração em um mundo que muda só por mudar. A Ferrari parece ter entendido isso.