O impressionante crescimento do setor de apostas esportivas no Brasil
Por Deia Gorayeb*
O Brasil está vivendo um boom das apostas esportivas. Nos últimos anos, as bets saíram do nicho dos sites especializados e invadiram a TV, os estádios e as redes sociais. Milhões de brasileiros arriscam palpites em futebol, basquete, vôlei e até eSports. Com patrocínios pesados e campanhas publicitárias chamativas, as casas de apostas se tornaram parte do cotidiano — e movimentam cifras bilionárias.
A corrida para regular o mercado começou em 2018, com a Lei nº 13.756, que autorizou as apostas de quota fixa. Daí em diante, o governo vem ajustando regras para licenciamento, tributação, rastreabilidade, jogo responsável e combate a fraudes. A ideia é criar um ambiente mais seguro tanto para os apostadores quanto para as empresas — e também garantir uma fatia para os cofres públicos.
Dados recentes ajudam a traçar um retrato do público que mais aposta. Homens são maioria (62%), mas a presença feminina já passa dos 38%. Os jovens dominam o cenário: mais da metade dos apostadores tem entre 16 e 39 anos. Em termos de escolaridade, 40% completaram o ensino médio, enquanto cerca de 20% chegaram ao ensino superior. E no bolso? Mais da metade (52%) ganha até dois salários mínimos. Ou seja, as apostas conquistaram sobretudo a base da pirâmide.
Com tanto dinheiro em circulação, surgem dilemas. Ainda há plataformas sem licença no país, o que expõe apostadores a fraudes e falta de transparência. A manipulação de resultados é um risco real e exige fiscalização pesada. O impacto social também preocupa: endividamento, vício em apostas e saúde mental entraram no radar das autoridades. Outro ponto sensível é o efeito econômico. Bilhões que poderiam ser destinados ao consumo tradicional ou a investimentos produtivos estão indo parar nas bets, reduzindo o poder de compra das famílias. No campo do marketing, cresce o debate sobre limites para campanhas agressivas e patrocínios esportivos.
Será que o apostador está percebendo os riscos que corre? Para as empresas, descumprir regras pode significar multas, perda de licença e danos à reputação. O chamado “jogo responsável” — com limites claros de gastos e ferramentas de autoexclusão — é um caminho para tentar equilibrar diversão e segurança.
Os números impressionam. Em 2024, o mercado brasileiro de apostas esportivas movimentou cerca de R$ 260 bilhões em volume apostado, considerando também os prêmios pagos. Para 2025, as projeções apontam para R$ 350 bilhões. Além disso, estima-se que as empresas do setor tenham investido entre R$ 5,8 bilhões e R$ 8,8 bilhões em marketing. Deste montante, cerca de R$ 3,5 bilhões foram destinados a patrocínio ao futebol — uma demonstração do peso publicitário desse mercado.
Com um crescimento explosivo, cifras astronômicas e publicidade agressiva, o Brasil está prestes a se tornar o maior cassino digital a céu aberto do planeta.
*Deia Gorayeb é economista. Atua no mercado financeiro como investidora, estrategista de negócios e conselheira de empresas.