Manu Carvalho, neta de um visionário do rádio, trilha seu próprio caminho entre comunicação, gastronomia e investimentos
Por Natália Souza
Fotos Divulgação
Manu Carvalho, 35 anos, cresceu nos bastidores do rádio. O avô, “Seu” Tuta (Antônio Augusto Amaral de Carvalho, 1931–2024), foi o responsável por transformar a Panamericana na Jovem Pan, inventando um novo jornalismo de prestação de serviços. Além disso, fez parte da Equipe A, que criou os grandes sucessos da TV Record, fundada pelo bisavô de Manu, Paulo Machado de Carvalho (1901-1992).
Desde pequena, ela acompanhou a mente inquieta do avô. Jornalista de formação, passou anos na Jovem Pan, até perceber que queria ir além. Foi assim que fundou sua agência de Relações Públicas, a Match & Co, com foco em marketing de influência e curadoria de conteúdo.
Ao atender marcas e restaurantes, passou a olhar para a gastronomia com outros olhos. Percebeu que não era só um segmento, mas um ecossistema. Nasceu o podcast Match Gastronômico — e, com ele, o desejo de se tornar investidora, hoje concretizado no restaurante Donna. Em paralelo, retornou à Jovem Pan, agora como head de parcerias estratégicas.
THE PRESIDENT _ Como o empreendedorismo entrou na sua vida?
Manu Carvalho – Minha família sempre foi muito empreendedora. Desde pequena, respiro comunicação. Sempre senti esse impulso de fazer diferente. O empreendedor tem esse espírito de iniciativa, de não esperar que as coisas aconteçam. Trabalhei na Jovem Pan até os 26 anos e, a partir daí, comecei a empreender. Criei uma agência de RP a partir de uma demanda que percebi: o marketing de influência. As agências não sabiam lidar com isso, não faziam curadoria nem criavam storytelling. Hoje, atuo conectando marcas a influenciadores, sempre com foco em branding e resultados. Trabalhamos com mais de 30 restaurantes, além de grandes clientes como Swift e Natura.
Como foi o início da carreira?
Já trabalhava na Jovem Pan enquanto cursava a faculdade. Comecei como assistente de produção, passei para a produção de jornalismo e, mais tarde, migrei para a estratégia comercial. Em 2009, criei um blog onde comecei a explorar o lado de influenciadora. Fazia coberturas do São Paulo Fashion Week pela Jovem Pan e entrevistei nomes como Gisele Bündchen e Isabel Goulart. Esse olhar para o conteúdo e para uma cobertura diferenciada me acompanha há mais de 15 anos.
Como surgiu o podcast sobre gastronomia?
Como 50% dos meus clientes são da gastronomia, senti a necessidade de criar uma comunidade voltada para esse universo. Convidei o Gabriel Carvalho, meu sócio no Match Gastronômico (e meu cliente na época), e propus a ideia. Um mês depois, o programa estava no ar. O podcast se tornou uma aula semanal com grandes nomes do setor, incluindo novos talentos. Um dos episódios mais marcantes foi com o André Mifano, hoje meu sócio no Donna. O vídeo Onde os Chefs Comem? ultrapassou 1,5 milhão de visualizações.
Como surgiu a vontade de investir em restaurantes?
O Match Gastronômico também se transformou em uma premiação, com uma mecânica diferente: quem vota são os convidados do programa e profissionais que conhecem profundamente o setor. Em 2024, tivemos mais de 130 jurados, reunidos em mesas temáticas — como a das pizzarias, com nomes como Veridiana e Pizza da Mooca. Cada entrevistado traz uma história única: alguns começaram por paixão, outros por necessidade — como o caso de alguém que, por castigo do pai, teve que ajudar na cozinha e acabou se descobrindo. Essas histórias me inspiram.
Como identificou a primeira oportunidade de investimento?
Minha entrada no Donna veio da vontade de ter uma visão mais completa do negócio. Durante as entrevistas, percebia que me faltava a perspectiva de quem está dentro da operação. O Gabriel já tinha essa experiência, com casas como a Fazenda Churrascada e o Bottega Bernacca. Eu queria entender mais sobre CMV (Custo das Mercadorias Vendidas) e DRE (Demonstração do Resultado do Exercício) — e construir uma estratégia 360º. Com o André Mifano, chef do Donna, tudo fluiu naturalmente.
Existe alguma relação pessoal com a gastronomia?
Meus pais já tiveram uma pizzaria e minha mãe sempre cozinhou muito bem.
Quais valores você espera refletir como investidora no setor gastronômico?
Transparência, inovação e conexão. Leio bastante sobre a Disney e o modelo de encantamento deles. Quero oferecer isso no universo da gastronomia: um espetáculo para o cliente, com momentos únicos e uma conexão genuína.
Quais os próximos passos?
Estamos lançando uma comunidade de aprendizado no Match Gastronômico, com curso, e-book e experiências voltadas ao mercado da gastronomia. Recentemente, realizamos um evento com a Unilever, no qual cuidamos da curadoria e levamos chefs convidados.
Há algum conselho do “Seu” Tuta que lhe acompanha?
“Ninguém faz sucesso sozinho”. Vivo isso na prática. No restaurante, é preciso ter um bom time. No podcast, uma comunidade disposta a trocar. Na agência, uma relação de parceria com influenciadores e clientes. Sucesso é sempre construído em conjunto — na vida profissional e pessoal.