A extrema dedicação ao cliente é o segredo de Rosângela Barchetta, do Studio W, a maior rede de salões de beleza de alto padrão do país
Por Silviane Neno
Dos nascidos sob o signo de Touro, ela carrega com propriedade a característica de ser um bom garfo. Não à toa descreve a empanada servida no salão de beleza como iguaria imperdível. Também é determinada e dedicada, outros traços dos taurinos. Mas qualquer um que acredite em astrologia, ao acompanhar o ritmo de Rosângela Barchetta numa manhã solar na novíssima e luxuosa sede do Studio W, na avenida Rebouças, em São Paulo, apostaria que há ali o espírito de liderança de Áries, com ascendente em Câncer pela forma amorosa como trata os funcionários a quem chama pelo nome, um a um.
Talvez a prática venha lá de trás, dos tempos em que foi professora durante 22 anos na rede municipal paulistana. Rosângela formou-se em pedagogia muito nova, aos 20 anos, e depois fez especializações em orientação e administração escolar e psicopedagogia. “Sempre fui muito questionadora sobre o que é possível fazer para melhorar a si mesmo e o seu entorno”, diz. “Queria impactar a vida das pessoas por meio da educação.” E assim foi. Depois de vencer concursos e prêmios com seus projetos inovadores de educação, ela se viu prestes a se aposentar, precocemente, aos 45 anos.
Foi quando conheceu Wanderley Nunes, vizinho da casa de praia na Riviera de São Lourenço (SP). Nunes procurava um sócio para um salão de beleza. “Quando conheci o universo em que ele trabalhava, as pessoas que trabalhavam no lugar, comecei a enxergar os meus alunos ali, como profissionais de beleza”, relembra Rosângela. “Pensei: ‘gente, tem muita coisa para fazer nesse mercado’.”
A parceria com Wanderley se transformou na primeira rede de salões de beleza de luxo dentro de shopping centers. Foram 23 anos juntos. Há dois anos, de comum acordo, resolveram seguir caminhos separados. Rosângela então assumiu a rede de cinco unidades do Studio W nos principais shoppings de São Paulo, além do novo espaço na avenida Rebouças, e o seu primeiro salão internacional, em Miami, nos Estados Unidos.
Hoje ela comanda sozinha 91 cabeleireiros, 17 maquiadores, 75 manicures e segue fazendo do seu negócio uma ferramenta de educação que transforma vidas. Mais de 90% dos funcionários foram formados na Academia W, como profissionais de beleza.
THE PRESIDENT _ Como diz o ditado, “não se deve dar o peixe, mas ensinar a pescar”. É essa a sua prática?
Rosângela Barchetta – Isso. Desde 2003, temos a Academia W, para formar e atualizar a equipe, os profissionais de beleza. A formação é contínua. A gente vai verificando e destacando alguns talentos. Há um plano de carreira e eles vão crescendo. Às vezes, iniciam como auxiliar. Houve quem começou como estoquista e hoje é cabeleireiro. Houve um engenheiro que cresceu como assistente de cabeleireiro e hoje é cabeleireiro. A questão educacional é um pilar fundamental.
Esse caminho vem de sua formação como pedagoga?
Muito. Mesmo tendo feito depois uma especialização em mercado de luxo, sempre estive atenta ao aspecto educacional. Essa ideia que a gente tem de estudar muito, de ser muito dedicada, faz com que estejamos sempre atentos ao que está acontecendo. Acredito que o comportamento humano dá todo o direcionamento para o negócio. Principalmente no pós-pandemia. O mundo já vinha bem complexo. Toda hora você ouvia falar de síndromes e doenças diferentes que impactavam a saúde mental. E então ficou evidente: as pessoas têm necessidade de serem cuidadas.
Qual a relevância do autocuidado como forma de autoconfiança e o bem-estar?
Roger Scruton, filósofo britânico, nos ajuda a iluminar o caminho, em um pensamento lindo: “A beleza não pode ser banalizada. Beleza não é futilidade”. Quando a gente acorda de manhã, e se sente bem com a nossa própria imagem, ganha autoconfiança.
É assim com todo mundo?
Sim. A beleza imaginada e alcançada é uma transformação imediata. Quando você está com a unha descascada, quebrada, fica fechando a mão, porque faz parte da alma humana querer se sentir bem. Todo mundo quer se sentir bem, ter a pele bonita, luminosa, os cabelos bonitos. Porque isso impacta em como a gente se sente.
Foram 23 anos junto com o Wanderley. O que mudou no Studio W depois da saída dele?
Eu já era majoritária, quando comprei a parte dele. Senti que era o momento de rejuvenescer a marca e criar os novos capítulos baseados em inovação e no atual perfil de comportamento dos consumidores. Queria continuar a história do Studio W, mas trazendo um diferencial não só para quem trabalha comigo, mas para quem frequenta o Studio W. Fazer uma nova história com foco no futuro. Contratamos uma empresa de rebranding, mudamos totalmente o posicionamento da empresa, desde a logomarca, que estava ultrapassada, até a identidade, as cores. Mantivemos os principais valores, porque são muito fortes na marca, fazem parte do DNA. Decidimos sair do Shopping Iguatemi para criar uma história diferente. A cliente que vem ao Studio W hoje é alguém que também é empreendedor. Tem as mesmas dores que eu tenho. Ele sabe o que está acontecendo, percebe a ansiedade e a velocidade do mundo acelerado pelas redes sociais. Escolhemos fazer a flagship aqui na Rebouças pensando nisso tudo.
Quais os diferenciais da flagship da Rebouças?
Pensamos em cada detalhe, para que, quando a cliente estivesse aqui, se desconectasse um pouquinho do lado de fora. Ela entra com o seu carro, deixa na porta do elevador. O manobrista pega e estaciona o carro e ela já sobe para o salão. O elevador é privativo. O prédio é exclusivo do W. O espaço é maior até do que do Iguatemi, mas é mais acolhedor. Enquanto a cliente faz o cabelo, está enxergando a paisagem do jardim.
O luxo mora nos detalhes.
Verdade. Quando você pensa nesse mercado, percebe que tudo tem que ser bem pensado. Não pode ser exagerado ou banalizado. O luxo tem muito a ver com exclusividade, mas sem arrogância. O arquiteto Marcelo Passarelli, responsável pelo projeto, acredita nas coisas que a gente acredita. Ele criou as bancadas com luminosidade na frente, para que a cliente se sinta mais bonita. Tem cliente que não quer ser visto, então fica em um andar mais reservado. Outro que quer ver e ser visto, vai ficar no outro pavimento. Cada detalhe buscou atender os desejos de quem quer se cuidar.
Como é possível democratizar o autocuidado sem perder a sofisticação?
Vamos pensar no exemplo de uma cliente que tem uma vida muito ativa, agitada. Vamos supor que ela tenha cabelos escuros e quer ficar loira, blonde. Ela vai conseguir ter tempo para a cada 15 dias retocar a raiz? Talvez, não. Quando você fala em democratizar, também é entender o tempo. O tempo é hoje um ativo de luxo. O W hoje tem profissionais extremamente bem preparados e com foco na qualidade. E eu brinco sempre que temos o ego sob controle aqui. Porque criou-se no mercado que o bom profissional é o que tem o Instagram bombado. O bom profissional, ao contrário, não é o que faz barulho, é o que sabe entregar aquilo que a cliente precisa, respeitando o estilo de vida dela. É completo na qualidade técnica, na delicadeza dos gestos, porque ama cuidar de pessoas.
“Na flagship Rebouças, pensamos em cada detalhe, para quem quer se cuidar se desconectar”
Qual é o perfil dos clientes do W?
O W é extremamente democrático. Atendemos senhoras de 80 anos. A gente cuida delas, mas também das noras, de vidas super agitadas, do filho médico, da filha dela, da neta que vai fazer a primeira comunhão. Cuidamos de pessoas, de diferentes faixas etárias e estilos de vida, mas somos um lugar que cuida de famílias inteiras. Atendemos famosos que normalmente querem ser tratados como pessoas comuns, porque o cuidado oferecido aqui é importante para todos.
Da família moderna, de mulheres que trabalham…
Sim, o nicho do Studio W são mulheres que trabalham, que quase não têm tempo de sobra ou que têm uma vida social ativa. Esse é o nosso nicho. A grande maioria é de mulheres que desejam a naturalidade e bem-estar na entrega de serviços de beleza. Nossos clientes gostam da beleza sem exageros e modismo passageiro, algo mais sofisticado e clássico. Somos muito exigentes com todos os produtos que usamos. Tem uma curadoria fortíssima.
Por que abrir um salão em Miami?
Sempre frequentei muito a cidade, que adoro. E eu mesma sentia falta quando precisava: “Cadê o W?”. O espaço fica em Midtown. É um salão que vai acontecer. A marca é forte. Tem muito brasileiro morando lá, mas a gente não quer só o público brasileiro. A Bárbara, minha sócia e cabeleireira, tem um público 80% hispânico, latino.
Tem outros planos para expandir no exterior?
Passa pela cabeça começar pela Flórida e expandir nos Estados Unidos. A ideia é dar um passo de cada vez.
Como vê o futuro dos negócios de beleza?
Não consigo ver futuro sem gestão formal, e que não conecte beleza com bem-estar. Cada vez mais as pessoas estão se conectando com marcas éticas, sérias. Quando a gente faz uma curadoria para uma marca que vai atuar no Studio W, essa marca tem de ser extremamente profissional, tem de ter um propósito, valores que tenham sinergia com o nosso posicionamento.
O Studio W, enfim, pretende ser uma referência em bem-estar?
Já estamos começando. Temos a primeira cabine de luxo de tratamento capilar da Kerástase da América Latina. Temos a Renata França, uma referência mundial, como parceira de massagens. E teremos a primeira butique Invisalign da América Latina, além de outros serviços que já estamos em negociação.
O Studio W vai fazer 25 anos. Qual é o segredo para a longevidade de um negócio?
É a história que você cria com aquela pessoa que cuida de você e que não está só interessada em você voltar para pagar, mas pelo prazer em cuidar de você. Essa conexão faz parte do W. É o nosso tema principal. Você pode fazer um salão lindo, gigante e cheio de mármores, mas se ele não tiver alma… Trabalha aqui um menino que era do estoque e depois foi virando assistente, colorista, as clientes torciam por ele, elas comemoram a sua evolução. Elas gostam de ver a trajetória das pessoas que acontece aqui dentro. A beleza é ver as pessoas crescerem com base no conhecimento como nosso motor de transformação.