The President

Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

entrevista

Formando líderes

entrevista

Formando líderes

O Instituto J&F é um centro de educação voltado para os negócios, ao criar gerações de jovens para o setor produtivo. Gilberto Xandó, CEO da JBS Brasil, explica como ele atua

Da Redação

A JBS é uma das maiores empresas de alimentos do mundo. Uma potência, iniciada ainda em 1953. Portanto, há 70 anos. Atua nos segmentos de carnes bovina e suína, aves, peixes, ovinos, plant-based e alimentos preparados, além de couro, colágeno, embalagens metálicas, biodiesel e transportes, entre outros. São mais de 70 marcas sob o seu guarda-chuva, incluindo Friboi, Eder, Seara, Bordon e JBS Transportadora.

Nem todo mundo sabe, mas a empresa também tem um belo trabalho na educação por meio do Instituto J&F. É o que conta, nesta entrevista, o CEO da companhia no Brasil, Gilberto Xandó, ex-executivo sênior da Natura Brasil e da Sadia e ex-diretor-presidente da Vigor.

THE PRESIDENT - Qual é a inspiração do modelo educacional do Instituto J&F? De que forma ele foi concebido e tem sido aperfeiçoado desde 2008?

Gilberto Xandó

Em 2008, quando Joesley e Wesley Batista idealizaram o projeto, o objetivo era construir uma iniciativa de educação com foco em excelência na transmissão de conhecimento. Ensinar o aprendizado que a empresa conquistou ao longo de tanto trabalho. Fizemos 70 anos em 2023. Sabemos que só se aprende a administrar administrando. A ideia é que a teoria e a prática deveriam estar juntas. Ano a ano, fomos ajustando o modelo até chegarmos ao que hoje é o Instituto J&F, nosso Centro de Educação para os Negócios.

Quais foram os grandes marcos do Instituto J&F?

Podemos começar pelo projeto de compartilhar nosso conhecimento de negócio, em 2008. Nesse início, nos concentrávamos em ser uma escola de ensino de qualidade e voltada ao empreendedorismo, a Germinare BUSINESS. Continuamos nos aprimorando e, em 2015, o ensino se tornou técnico em administração. A partir daí, demos início a um movimento cada vez maior de aproximação entre empresa e escola. Trouxemos colaboradores do grupo para oferecer tutoria aos alunos e compartilhar suas vivências. Essa aproximação foi o início do que hoje se tornou uma jornada inteira de estágios, com objetivos diferentes para cada trajetória. Em 2019, introduzimos o sistema de academias para dar ainda mais base de sustentação do aprendizado na prática. Nele, as disciplinas são divididas em quatro áreas de conhecimento, cada uma representada por um negócio do Grupo J&F. São elas: Varejo, Commodities, Marca, Negócios Digitais e Finanças.

Quais foram as iniciativas mais recentes?

Em 2021, expandimos a atuação do Projeto Comunidade, que muito nos orgulha, oferecendo apoio a mais de 170 escolas públicas. Um ano depois, demos início à Germinare TECH, uma escola técnica que forma profissionais na área de tecnologia, além de intensificar a atuação da Germinare Família, um projeto que atua na orientação e formação voltadas aos responsáveis pelos alunos. Em 2023, expandimos ainda mais a atuação do Instituto J&F. Tivemos o primeiro ano da escola Germinare VET, Ensino Médio com ênfase em Liderança na Produção, e lançamos o MASTER, programa de qualificação para colaboradores que já estão na ativa em nossos negócios. Além disso, nos posicionamos como um Centro de Educação para os Negócios com compromisso de transformar cada vez mais empresas em Empresas Educadoras, com a educação no centro da sua estratégia e guiadas pelo compromisso de ensinar e aprender sempre.

Como está o desenvolvimento da Germinare VET?

Está avançando de forma muito positiva. Ela oferece um ensino médio com ênfase em liderança na produção, formando jovens aptos para atuar na supervisão de produção. Em 2023, lançamos a escola em duas cidades em que estamos muito presentes, Amparo (SP) e Lins (SP). A Germinare VET é uma extensão do Instituto J&F. Leva desenvolvimento e oportunidade para que os jovens melhorem suas vidas, as de sua família e as de seu entorno. As escolas ficam nas plantas das unidades de processamento animal da JBS. Isso permite que os alunos tenham uma experiência prática. É nisso que a gente acredita, na formação de alta qualidade, que combina o conhecimento teórico com a prática, utilizando as mais modernas tecnologias. Abriremos mais uma unidade na nossa planta de Dourados, no Mato Grosso do Sul. No total, teremos 75 novas vagas para alunos em 2024.

O que está previsto para os próximos anos?

Esperamos conseguir transformar cada vez mais negócios em Empresas Educadoras. Queremos oferecer uma formação de qualidade para mais pessoas. Para alcançar esse objetivo, investimos na educação continuada. Inauguraremos uma faculdade, que já está em aprovação do Ministério da Educação, e revitalizaremos o Programa Jovem Aprendiz, para maximizar as oportunidades para esses jovens.

Um dos pontos da cultura da empresa é a "atitude de dono". De que forma isso foi concebido na orientação pedagógica?

Incentivamos nossos jovens a desenvolver a autonomia desde o início de suas trajetórias. Tanto nos estudos quanto no trabalho e nas tomadas de decisão. Esse processo de busca tem o auxílio das famílias, por meio da Germinare Família.

Outras empresas buscam profissionais no instituto?

Não temos a obrigatoriedade de permanência ao final de cada curso. O objetivo é formar profissionais qualificados para o mercado. É natural que eles sejam procurados e recrutados por outras empresas. Mas, pela familiaridade adquirida durante os anos de formação, muitos escolhem permanecer no Grupo J&F. Somos procurados por muitas empresas e instituições, que nos reconhecem como um caso bem-sucedido de alta qualidade no ensino, o que nos deixa muito felizes. Conseguimos integrar empresa e escola, iniciativa privada e educação. É uma relação de ganha-ganha, um motivo de orgulho. Quem aprende ganha com o conhecimento e quem ensina ganha com a qualificação de profissionais.

Embora não utilizem um sistema de cotas, as empresas do grupo JBS têm um olhar direcionado para a diversidade?

Apesar de não trabalharmos com cotas, acreditamos que a diversidade é fundamental para o aprendizado e para os negócios. Por isso, promovemos um ambiente diverso em nossos valores e práticas. Os números mostram nossa diversidade. Nossos alunos são 29% pardos, negros ou de origem oriental; 50% provêm de escola pública; 52% são mulheres; e mais de 39% das famílias dos alunos admitidos recebem até um salário mínimo e meio per capita. Todas as nossas escolas são gratuitas, o que possibilita a participação de todos, a despeito da condição socioeconômica. Hoje, temos 413 alunos formados e 1,1 mil em atividade. Dos formandos de 2022, 98% estão no mercado de trabalho com carteira assinada.

Como é o processo de seleção?

É cuidadoso e longo. Aperfeiçoamos a metodologia todos os anos. Abrimos as inscrições em abril e elas vão até julho. É um processo aberto a todos que tenham interesse em fazer parte do nosso projeto. Basta estar na idade certa, a depender da escola de ingresso.

Como o consumidor entra em contato com tudo que a marca faz? Quais são as estratégias de comunicação para alavancar tudo isso?

São muitos esforços ao longo do ano todo. Há um grande foco nas redes sociais, com produção de conteúdo constante. No ponto de venda, trabalhamos com uma atuação maciça no período de volta às aulas. Paralelamente, atuamos com campanhas de produto e campanhas institucionais para materializar ainda mais o nosso propósito na mente dos consumidores. Como exemplo recente, cito a campanha Lente da Criatividade, apresentada pela Faber-Castell ao mercado com conceito “a criatividade em suas mãos”

Os filhos dos funcionários e diretores têm prioridade na admissão?

Não, nenhuma. Todos os candidatos passam pelo mesmo processo de admissão. São selecionados os que têm muita vontade e inteligência, tanto cognitiva quanto emocional, e que compartilhem cada um dos nossos sete valores.

Em iniciativas como o instituto, a JBS já trabalhava o ESG antes mesmo de esse termo ser conhecido. Foi um diferencial para as empresas, tanto do ponto de vista de formação dos seus colaboradores quanto para atrair investidores?

A agenda de ESG sempre foi muito cara para nós. O Instituto J&F agrega muito do S do ESG, o social, o território da educação, o sentido de Empresa Educadora, que é a empresa que coloca gente como o centro de tudo, como estratégia central dos negócios. Além disso, nossa atuação nas escolas públicas amplia nossa capilaridade e impacta a comunidade de forma ampla. Esse é, sem dúvida, um diferencial para o sucesso dos nossos negócios.

 

O Instituto J&F tem iniciativas ou projetos em outros países?

A JBS tem iniciativas em vários países. Nosso Instituto também vai alçar muitos voos internacionais. Antes disso, como maior empregadora atual do país, com 152 mil colaboradores espalhados em todos os estados, sentimos que temos uma enorme missão como Empresa Educadora por aqui. Ainda temos muitos projetos pela frente e potencial para crescer no Brasil.

Chegou a ter maior contato ou comandar alunos formados pelo instituto?

Tive vários momentos com os alunos e convivo com vários ex-alunos em nossas equipes. Recentemente estive no projeto Conhecer e Encantar, para alunos do sexto ano do Fundamental, os mais jovens da Germinare BUSINESS. Criamos muitos ambientes como os de trocas e aprendizados mútuos. Um dos momentos que muito me marcaram aconteceu em 2012, quando a Vigor abriu capital. Era de manhã, e fui conversar com um auditório cheio de alunos. Subi no palco, falei sobre a abertura, falei sobre a empresa. Ao final, abrimos para perguntas. A primeira delas foi: “Qual foi o índice de deságio no dia da abertura de capital da empresa?” A partir daí, transpirei muito. (risos) Nós nunca subestimamos os jovens e sua capacidade de aprendizado.

De que forma você analisa o sucesso do Instituto?

Podemos analisá-lo de várias formas. De forma qualitativa, observando a transformação real na vida das pessoas por meio da educação de alta qualidade. É muito bonito conhecer as histórias dos alunos, dos ex-alunos, das famílias e das comunidades impactadas. De forma quantitativa, há o crescimento de 72% na renda familiar per capita dos estudantes formados, um dado de empregabilidade muito significativo. Em um país com alta taxa de desemprego entre os jovens e baixa adesão às universidades, esse dado é bem expressivo. Queremos fazer ainda mais, impactar cada vez mais pessoas com os nossos projetos.