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GWM em solo brasileiro

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GWM em solo brasileiro

Montadora inaugura fábrica em Iracemápolis (SP), a primeira nas Américas, com alto investimento e foco em multienergia

Por Mario Ciccone

Fotos Claudio Gatti

Iracemápolis, a 167 quilômetros de São Paulo, tem o nome da personagem indígena Iracema, do romance homônimo do cearense José de Alencar (1829-1877), tratada pelo autor como “a virgem dos lábios de mel”. No entanto, a vida estava menos doce no município de 23 mil moradores, depois do fechamento da fábrica da Mercedes-Benz na região, ocorrida em 2021. Ainda bem que os empregos voltaram por obra e graça da GWM (Great Wall Motor). A montadora chinesa GWM adquiriu o complexo com porteira fechada — instalações, equipamentos, tudo.

Quatro anos após o fechamento do negócio, a planta foi inaugurada, em agosto de 2025, com tudo a que tem direito: autoridades, festa e muita empolgação dos funcionários. A unidade, com capacidade inicial de 50 mil veículos por ano, marca a chegada definitiva da montadora chinesa ao Brasil e ao Hemisfério Sul. É a primeira das Américas. O evento de inauguração contou com a presença do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, de ministros do governo e da alta cúpula global da empresa.

O Brasil passa a ser estratégico para a expansão da companhia na América Latina. “A inauguração da fábrica em Iracemápolis foi um marco importante para a trajetória da GWM no Brasil”, afirma Ricardo Bastos, diretor de Assuntos Institucionais da empresa. “Representa não apenas o nosso compromisso de longo prazo com o país, mas também um passo relevante dentro do grupo GWM.” Bastos lembra que a unidade é a terceira fora da China e “a operação de maior volume nas Américas”.

A linha de montagem já foi iniciada, com três modelos: o SUV híbrido Haval H6, a picape Poer P30 e o SUV de sete lugares Haval H9 (os dois últimos a diesel). Durante a cerimônia de inauguração, ocorreu a finalização simbólica do primeiro veículo produzido pela GWM no país — um Haval H6 GT branco. Coube ao presidente Lula colar o adesivo de “fabricado no Brasil”.

A GWM inaugurou uma fábrica em Iracemápolis-SP

A fábrica ocupa área de 1,2 milhão de m², dos quais 94 mil m² construídos, incluindo setores de soldagem, pintura robotizada, montagem e logística integrada. Hoje, 18 fornecedores nacionais participam do processo produtivo, entre eles Basf, Bosch e Goodyear. Segundo o plano da montadora, mais de 110 empresas estão cadastradas para ampliar o fornecimento de peças e componentes.

O investimento total no país é de R$ 10 bilhões em dez anos. A primeira fase, até 2026, soma R$ 4 bilhões e inclui a reativação da fábrica, lançamentos e adaptação ao mercado brasileiro. Entre 2027 e 2032, outros R$ 6 bilhões serão destinados à nacionalização de peças e desenvolvimento de novos produtos.

A unidade conta hoje com 600 trabalhadores e deve chegar a mil até o final do ano, alcançando mais de 2 mil no futuro, com o início das exportações para a América Latina. Bastos destaca que o impacto vai além dos empregos diretos: “Temos os postos que já estão sendo criados, mas também toda a cadeia de autopeças, fornecedores e prestadores de serviços. A presença da GWM gera renda e riqueza não só na região onde produzimos, mas em todo o país”.

A unidade da GWM conta com 600 colaboradores

Estratégia multienergia

A GWM aposta em veículos híbridos, híbridos plug-in e elétricos, mas também enxergou espaço para o diesel no interior do Brasil, onde a infraestrutura de recarga ainda é limitada. “Nosso objetivo é ser uma empresa multienergia, oferecendo diferentes tecnologias de acordo com as necessidades dos consumidores de cada região”, explica Bastos.

Para se diferenciar num mercado competitivo, a empresa pretende atender nichos específicos, como o agronegócio e o uso off-road, sem perder de vista o consumidor urbano. Além dos produtos, a estratégia inclui pós-venda estruturado e fortalecimento da rede de concessionárias.

A fábrica ocupa 1,2 milhão de m², com 94 mil m² de área construída

Centro de P&D e inovação

Um dos anúncios da inauguração foi a construção do primeiro Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da GWM na América do Sul, ao lado da fábrica. Com 15 mil m² de área, o espaço abrigará laboratórios voltados a sistemas híbridos, elétricos e combustíveis de nova geração.

“O nosso Centro de P&D será fundamental para aproximar a GWM do consumidor brasileiro, incluindo a chegada da tecnologia flex prevista para o final do ano que vem”, adianta Bastos. A estrutura terá mais de 60 técnicos e engenheiros e deve crescer nos próximos anos, em parceria com universidades e institutos de pesquisa.

Antes mesmo de iniciar a produção, a fábrica conquistou a certificação ISO 9001:2015, sem nenhuma não-conformidade — feito inédito entre montadoras no Brasil. A meta da empresa é consolidar o país como base para a América Latina. “Queremos crescer com produtos pensados para o consumidor local e com o melhor da tecnologia global”, reforça Mu Feng, CEO da GWM.

No evento, a companhia também apresentou suas soluções em hidrogênio, como o primeiro caminhão zero emissão da marca e a maquete da embarcação que será lançada na COP30, em Belém. A diversificação tecnológica ilustra a ambição da GWM de ocupar espaço tanto no transporte leve quanto no pesado.

Com a operação de Iracemápolis, a empresa busca ampliar sua competitividade no mercado nacional, que já superou 3,8 milhões de unidades vendidas na última década e mantém potencial de crescimento. Bastos celebra: “O Brasil é um mercado de grande relevância, e a GWM chegou para oferecer tecnologia e soluções adequadas a todos os perfis de consumidores”.

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