Por Alsones Balestrin
Como o surgimento de soluções como o ChatGPT, EdGPT e o Khanmigo permitem que os educadores criem planos de aula personalizados
A partir do lançamento de soluções como o ChatGPT, um marco significativo foi alcançado na linha histórica da inteligência artificial generativa (IAGen). Ela tornou-se acessível ao grande público, dando início a uma nova era na revolução tecnológica que vivemos. Um dos campos onde essa revolução é mais profunda e promissora é o da educação e pesquisa acadêmica.
Enquanto alguns setores expressam preocupações sobre os possíveis usos indevidos dessa tecnologia, como trapaças acadêmicas ou a erosão da integridade das avaliações, uma visão mais otimista sugere que a IAGen oferece uma oportunidade única para revolucionar a forma como ensinamos, aprendemos e conduzimos pesquisas.
Recém publicado, o Guia da UNESCO para a IA Generativa na Educação e na Pesquisa, explora como essa tecnologia está sendo utilizada para reconfigurar os modelos educacionais, ao mesmo tempo em que discute os desafios éticos e práticos que acompanham essa revolução. Trata-se de uma leitura fundamental para entender o presente e futuro da educação. As sociedades sempre buscaram maneiras de transmitir conhecimento e habilidades para as gerações futuras, seja através de métodos tradicionais de ensino, como a tutoria individualizada, ou por meio de inovações tecnológicas, como a introdução de livros didáticos e, mais recentemente, plataformas de aprendizado online. A chegada da IAGen, contudo, representa um salto quântico nessa evolução, oferecendo novas ferramentas que não apenas transformam a forma como o conhecimento é transmitido, mas também a maneira como ele é absorvido.
Tradicionalmente, a educação tem sido uma experiência uniforme, com currículos padronizados e métodos de ensino que muitas vezes não atendem às necessidades individuais dos estudantes. Conforme o Guia da UNESCO, a IAGen rompe com essa abordagem, permitindo que o ensino seja adaptado ao ritmo, estilo de aprendizado e necessidades específicas de cada aluno.
Ferramentas como o EdGPT e o Khanmigo permitem que os educadores criem planos de aula personalizados, questionários e atividades interativas que são ajustadas para atender às necessidades individuais de cada aluno. Isso não só torna o aprendizado mais envolvente e eficaz, mas também ajuda a eliminar as desigualdades que têm atormentado o sistema educacional por décadas.
Outra aplicação prática é na automação dos processos de avaliação. A avaliação é uma parte essencial do processo educacional, pois permite que os educadores meçam o progresso dos estudantes, identifiquem áreas de dificuldade e ajustem o ensino conforme necessário.No entanto, o novo Guia da UNESCO ressalta que, embora a automação das avaliações possa tornar o processo mais eficiente, é crucial que essas ferramentas sejam usadas de maneira que complemente o julgamento profissional dos educadores, ao invés de substituí-lo. A IA deve ser vista como uma ferramenta para melhorar e apoiar o desenvolvimento contínuo dos estudantes e professores, e não como substituta para a interação humana.
Na pesquisa acadêmica, a revolução é igualmente profunda. Isso porque a pesquisa, tradicionalmente, é um processo que exige tempo, paciência e, muitas vezes, a colaboração de grandes equipes para a coleta de informações. A IAGen permite o processamento de grandes volumes de dados em questão de minutos, identifica padrões complexos que passariam despercebidos por métodos tradicionais e até mesmo contribui para criação de novas hipóteses..
Pesquisadores de todo o mundo, independentemente de sua localização ou recursos financeiros, podem agora acessar ferramentas que lhes permitem competir em pé de igualdade com grandes instituições. Isso é particularmente significativo em áreas onde o financiamento para pesquisa é escasso, pois a IAGen oferece uma maneira eficiente e econômica de realizar investigações complexas e de ponta. A IA está, sem dúvida, transformando a educação e a pesquisa de maneiras profundas. No entanto, a integração dessa tecnologia deve ser feita com cuidado, garantindo que os desafios éticos e práticos sejam abordados de forma rigorosa, aponta o novo estudo.
O futuro da educação e da pesquisa a partir dessa ferramenta poderosa é promissor, mas depende da nossa capacidade de equilibrar os benefícios tecnológicos com os princípios éticos e humanos fundamentais.
Alsones Balestrin, professor, cofundador da edtech Startup Academy e ex-Secretário de Inovação, Ciência e Tecnologia do RS.