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Saúde

Inteligência ampliada

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Inteligência ampliada

IA é um avanço e tanto. Mas não se basta. É preciso, antes de tudo, a participação humana

Por Mariela Silveira*

A revolução tecnológica está em curso. Vivemos a ascensão da inteligência artificial (IA), com impactos profundos em todas as áreas — inclusive a medicina. Mas, ao contrário do que muitos pensam, não é “a hora da máquina”. É a hora de a humanidade mostrar o seu melhor.

A verdadeira virada não está na inteligência artificial isolada, mas sim na inteligência ampliada — que representa a fusão entre a precisão algorítmica das máquinas e a sensibilidade analítica do ser humano. É essa integração que potencializa nossa capacidade de pensar, decidir e cuidar. Um estudo recente do Massachusetts Institute of Technology (MIT) evidenciou isso de forma concreta. Ao comparar dois grupos diante de um mesmo desafio cognitivo, observou-se que aqueles que usaram IA imediatamente, sem reflexão prévia, apresentaram uma redução na atividade de áreas cerebrais superiores, como o córtex pré-frontal. Já aqueles que primeiro ativaram seu próprio raciocínio e só depois consultaram a IA, mostraram melhor desempenho e maior ativação neural. Ou seja, pensar antes de usar a IA fortalece o cérebro — e não o enfraquece. A combinação, quando feita com consciência, não apenas amplia os resultados, como preserva nossa autonomia intelectual.

Como médica, e após imersões em health tech no Vale do Silício, em Israel e tendo visitado 58 países, venho acompanhando de perto o impacto da tecnologia na medicina do estilo de vida. O que vejo é claro: não é a inteligência artificial que mudará o mundo — é a inteligência ampliada.

(Foto: iStock/alejomiranda)

Na medicina, os benefícios dessa sinergia são imensos. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que até 45% dos erros médicos poderiam ser evitados com melhor acesso a dados e suporte à decisão. Ferramentas de IA, quando aliadas à escuta, ao cuidado e à ética, podem salvar vidas e ampliar a qualidade do atendimento.

No Kurotel, desenvolvemos uma solução própria de IA que integra todo o histórico clínico dos nossos clientes — exames, sintomas, evolução, objetivos —, permitindo uma visualização inteligente de dados e apoio assertivo à decisão médica. A tecnologia serve como um copiloto: analisa padrões, sugere caminhos, mas quem conduz é o olhar humano.

Porque não basta alimentar as máquinas com dados. Os inputs precisam vir do que há de mais elevado em nós: valores, ética, compaixão, sensibilidade. A IA pode otimizar a precisão diagnóstica, prever riscos com mais exatidão, personalizar condutas. Mas só a inteligência humana pode interpretar com empatia e decidir com propósito.

Por isso, este momento não é apenas sobre inovação tecnológica. É sobre uma revolução de consciência. É sobre reafirmarmos o que nos torna humanos.

A medicina do futuro não é artificial. Ela é ampliada — e profundamente humana.

*Dra. Mariela Silveira, médica especialista em nutrologia e diretora médica do Kurotel.