THE PRESIDENT _ Como a sua formação e experiências em empresas como Magazine Luiza e Americanas moldaram sua visão sobre varejo digital?

João Almendra – Minhas experiências em empresas de varejo de grande escala, como Magazine Luiza e Americanas, foram fundamentais para consolidar minha visão de que tecnologia e dados devem estar no centro de qualquer estratégia de varejo digital. Essas companhias me mostraram na prática a relevância de operar com escala sem perder a agilidade e a proximidade com o consumidor. Aprendi que eficiência operacional precisa caminhar lado a lado com uma experiência de consumo fluida, e que decisões rápidas, baseadas em dados, são decisivas para manter a competitividade em um mercado tão dinâmico. Além disso, tive a oportunidade de vivenciar processos de transformação digital em diferentes frentes, desde a integração entre canais até a personalização da jornada do cliente, o que reforçou minha convicção de que inovação e escalabilidade são pilares indispensáveis para sustentar crescimento no longo prazo.

O que motivou sua entrada no Grupo Icomm e como foi o processo de assumir a liderança como CEO?

JA – O que me atraiu no Grupo Icomm foi o desafio de liderar uma operação de moda no ambiente digital, um segmento que exige sofisticação, curadoria e tecnologia ao mesmo tempo, e que ainda tem muito potencial de crescimento. Mas, além do desafio estratégico, o que realmente brilhou meus olhos foi a força e o carinho que os clientes têm pelas marcas do grupo. São marcas queridas, reconhecidas e com uma conexão genuína com seus consumidores.

O desafio de potencializar marcas 100% digitais em um segmento de crescimento acelerado foi um divisor de águas para mim. Estruturei minha liderança com uma abordagem baseada em dados e uma cultura ágil. Fomentamos rituais de experimentação, integração entre dados, produto e conteúdo e aceleramos o uso prático de IA em toda operação, resultando em mais eficiência, engajamento e resultados. Viemos, assim, do discurso para a execução, colocando o consumidor (agora muito mais exigente e informado) no centro das decisões do negócio.

Como você enxerga a construção de um portfólio premium no e-commerce de moda e o diferencial das marcas Shop2gether e OQVestir?

JA – O Shop2gether e o OQVestir são duas plataformas de e-commerce reconhecidas por suas curadorias criteriosas e pela experiência diferenciada que proporcionam aos clientes.

O Shop2gether se consolida como uma plataforma aspiracional, reunindo marcas de luxo, designers consagrados e coleções exclusivas, com um olhar editorial que traduz desejo e referência de lifestyle premium. Já o OQVestir traduz esse mesmo DNA com uma abordagem mais versátil, conectada às tendências e ao ritmo da vida real.

Essa complementaridade amplia o alcance e o nosso mercado endereçável e fortalece a relevância das marcas, criando uma proposta única no mercado brasileiro: conectar diferentes perfis de consumidores a um universo de moda e serviço de excelência. Mais do que vender produtos, o nosso papel é construir uma jornada digital que inspira confiança e gera desejo, unindo curadoria, inovação e relacionamento próximo para elevar o padrão da experiência de compra online.

Quais são hoje os principais projetos de automação e uso de dados que transformam a operação do grupo?

JA – Estamos focados em automatizar fluxos logísticos, personalizar a jornada de compra e acelerar processos de decisão baseados em dados.

Nossa operação está na fronteira do digital, com IA como protagonista. A vitrine Smart Recommender personaliza a navegação do site para cada cliente, fazendo crescer taxa de conversão e valor do carrinho; o provador virtual garante precisão na escolha do tamanho, diminuindo devoluções de modo consistente. Toda a jornada de compra é acompanhada em tempo real via painéis de BI, com experimentação contínua através de testes A/B e investimentos otimizados com modelos preditivos. O atendimento via WhatsApp, potencializado por IA, atua como consultoria digital personalizada.

Essas ações, sempre suportadas por dados, ajudam a manter nosso NPS em 82 e ajudaram a aumentar a taxa de conversão e o nosso ticket médio.

Qual é o seu estilo de gestão para manter equipes motivadas em um mercado tão competitivo e em constante mudança?

JA – Incorporei à minha liderança o aprendizado de que adaptabilidade e clareza de propósito são essenciais em alta velocidade. Dou autonomia com responsabilidade, apoiada por processos claros e dados transparentes.

A valorização da experimentação, da comunicação aberta e do aprendizado contínuo é reforçada por rituais colaborativos e compartilhamento de resultados. Assim, cada pessoa cresce junto com o negócio, sabendo que suas iniciativas podem ser testadas, medidas e reconhecidas.

Onde você vê o varejo de moda premium on-line no Brasil nos próximos cinco anos?

JA – O futuro do varejo de moda premium online no Brasil será marcado por integração entre canais, hiperpersonalização, experiências digitais imersivas (como provadores em realidade aumentada) e logística de excelência (entregas expressas, devoluções facilitadas, experiência sem fricção). O consumidor buscará não apenas produtos, mas marcas com propósito e serviço impecável.

Dados apontam potencial de o segmento dobrar de tamanho até 2030, impulsionado por tecnologia, curadoria autoral e conexão autêntica. Nesse cenário, marcas que evoluem do “e-commerce” para plataformas de experiência e lifestyle tendem a liderar o movimento.

Quais hábitos ou rotinas pessoais o ajudam a manter clareza e energia para liderar grandes operações?

JA – Equilíbrio é essencial: pratico musculação, tênis e esportes ao ar livre para manter a energia, mas também busco criatividade em leitura e viagens, onde acesso novos repertórios. Esse mix de disciplina e visão ampla é fundamental para enfrentar desafios e inovar de forma constante.

Além disso, me mantenho conectado direto com colegas, parceiros e gente do mercado. Essa troca constante é o que garante que a gente não perca o passo, que a gente inove e tenha uma visão real do que está acontecendo no setor.

Se pudesse compartilhar uma lição de sua história empreendedora para jovens executivos, qual seria?

JA – Diria que a chave é aprender a unir visão de longo prazo com a capacidade de executar no curto prazo. O mercado muda rápido, mas quem tem clareza de onde quer chegar e disciplina para construir esse caminho com consistência consegue se diferenciar.

Resiliência, adaptabilidade e foco no cliente são valores que nunca saem de cena. Do ponto de vista pessoal, acredito que nunca devemos perder a curiosidade e a capacidade de aprender. Ao longo da minha trajetória, percebi que as maiores oportunidades surgem quando estamos abertos a ouvir, testar e nos reinventar. Construir uma carreira sólida exige coragem para tomar decisões difíceis, mas também humildade para reconhecer que ninguém faz nada sozinho. É sempre sobre pessoas, times e relações de confiança.

Se pudesse deixar um conselho, diria: sonhe grande, mas execute com disciplina todos os dias. Essa combinação, no fim, é o que transforma a visão em legado.