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Primeiro brasileiro a assumir o Banco Mercedes-Benz lidera também a operação na Argentina

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Primeiro brasileiro a assumir o Banco Mercedes-Benz lidera também a operação na Argentina

Primeiro presidente brasileiro e CEO do Banco Mercedes-Benz, da Mercedes-Benz Corretora de Seguros e da Mercedes-Benz Locações Caminhões e Ônibus, Leonardo Piccinini agora também é responsável pela operação na Argentina

Por Felipe Novis/Redação

Foto Divulgação

Primeiro brasileiro a assumir a presidência do Banco Mercedes-Benz, o CEO Leonardo Piccinini soma agora também a liderança da operação na Argentina, firmando sua carreira em posições de destaque dentro do BMB. Com passagens por países como Argentina, Estados Unidos, Índia e Alemanha, o executivo traz uma visão ampla, pautada pela escuta ativa, colaboração e foco em resultados, se destacando pela capacidade de liderar em cenários complexos e voláteis como o atual, com a crise entre Brasil e EUA. Em entrevista à THE PRESIDENT, Piccinini fala sobre os desafios de liderar em um cenário econômico complexo, a integração entre Brasil e Argentina, a importância da digitalização e dos investimentos sustentáveis, além de sua visão estratégica para a América Latina.

Leonardo Piccinini, CEO do Banco Mercedes-Benz, da Mercedes-Benz Corretora de Seguros e da Mercedes-Benz Locações Caminhões e Ônibus. Foto: Divulgação

THE PRESIDENT _ Você foi o primeiro brasileiro a assumir a presidência do Banco Mercedes-Benz e agora lidera também a operação na Argentina. Como enxerga o significado dessa conquista para sua carreira?

Leonardo Piccinini – Ser escolhido para ser o primeiro presidente brasileiro e CEO do Banco Mercedes-Benz, da Mercedes-Benz Corretora de Seguros e da Mercedes-Benz Locações Caminhões e Ônibus, foi uma honra, acompanhada da plena consciência dos grandes desafios que essa responsabilidade traz. E eles são muitos e complexos. Cada desafio é uma oportunidade de crescimento e é com determinação e convicção, sempre apoiados por uma equipe comprometida e focada, que continuaremos a alcançar resultados consistentes. Os avanços que já alcançamos comprovam nossa capacidade de entregar excelência e essa trajetória me conduz agora a assumir a liderança da América Latina.

Como empresa global, a Daimler Truck Financial Services valoriza competências, experiências e a capacidade de liderar com propósito, independentemente da nacionalidade. Ao longo da minha carreira, tive a oportunidade de atuar em diferentes áreas e países: Argentina, Estados Unidos, Índia e Alemanha, o que me proporcionou uma visão ampla e um líder preparado para contextos de VUCA – Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade, potencializando minha habilidade em negociar e em liderar equipes multiculturais. Com isso, pude consolidar minha liderança focada na escuta, na colaboração e na entrega de resultados consistentes e sustentáveis. 

Nossa estrutura funcional, aliada a uma cultura organizacional baseada no diálogo aberto e na transparência, têm permitido respostas rápidas e assertivas às demandas emergenciais. Essa agilidade operacional é um diferencial competitivo, especialmente em momentos desafiadores como este que estamos vivendo. Assim, nossos resultados têm se mantido dentro das expectativas, demonstrando resiliência da nossa operação e a capacidade de adaptação da equipe frente a adversidades. São esses elementos — resiliência financeira, agilidade operacional e fortalecimento da cultura organizacional, fundamentais para sustentar nosso desempenho e preparar a empresa para os próximos ciclos de crescimento — que levarei também para a liderança na Argentina.

Quais foram os principais desafios e aprendizados no seu primeiro ano à frente do Banco Mercedes-Benz no Brasil?

LP – O principal desafio enfrentado pela nossa operação no Brasil tem sido o cenário prolongado de juros elevados, que impacta diretamente o custo do crédito e, consequentemente, o apetite por financiamentos no setor de veículos comerciais. Esse ambiente exige uma gestão ainda mais cuidadosa do risco, além de soluções financeiras mais flexíveis e adaptadas à realidade dos nossos clientes.

Mesmo diante desse contexto desafiador, temos conseguido manter a solidez da operação por meio de uma atuação ágil, próxima do cliente e com foco em inovação.

Nossa instituição oferece soluções financeiras, de seguros e de locação. Dessa forma, é essencial conhecer profundamente as realidades e expectativas de nossos clientes. Percorri o país, realizando visitas a diversos clientes estratégicos, com o objetivo de escutá-los e identificar oportunidades de agregar valor por meio de nossos produtos e serviços, apoiando seus negócios em todos os momentos.

Paralelamente, intensificamos o relacionamento com a rede de concessionários e com a fábrica, adotando uma abordagem baseada no diálogo aberto, na escuta ativa e no aprendizado contínuo.

Transformamos a comunicação em um canal de construção coletiva, em vez de um instrumento meramente institucional. A consequência foi um ambiente de trabalho mais colaborativo, fortalecendo a cultura interna e reposicionando o banco como um parceiro ainda mais estratégico para seus públicos.

A nova função amplia sua responsabilidade para toda a América Latina. Quais são as principais diferenças e similaridades entre os mercados brasileiro e argentino que influenciam a estratégia?

LP – Os dois mercados valorizam a proximidade com o cliente, a confiança nas relações comerciais e a busca por soluções financeiras que tragam estabilidade e previsibilidade. Embora compartilhem essas e outras semelhanças, como a importância do setor de transporte para a economia e a relevância da marca Mercedes-Benz, esses países, pelas suas características distintas, exigem abordagens específicas. O Brasil oferece um campo fértil de oportunidades, especialmente em setores estratégicos como o agronegócio, que segue como um dos grandes motores da economia nacional.

No Brasil, o crescimento econômico deve se manter moderado, com projeção em torno de 2,4% para 2025, de acordo com projeção do Banco Mundial, em função dos efeitos de uma política monetária restritiva, com juros elevados impactando consumo e investimentos. A elevação da taxa Selic no primeiro semestre, em resposta à instabilidade das expectativas inflacionárias, impõe desafios ao crédito e ao investimento, mas também reforça o papel do setor bancário na intermediação eficiente de recursos e na oferta de soluções financeiras que apoiem a produtividade e a transição ecológica da economia. 

Portanto, seguiremos atentos às oportunidades de financiamento sustentável, digitalização de serviços e expansão do mercado de capitais, com foco em contribuir para um ciclo de crescimento mais robusto e inclusivo. 

Em se tratando de Argentina, as projeções para 2025 indicam uma retomada significativa, com expectativa de crescimento de 5% do PIB, segundo o Fundo Monetário Internacional, e uma queda expressiva da inflação, reflexo direto das medidas de ajuste fiscal implementadas pelo atual governo. A consolidação do superávit fiscal e a redução da taxa básica de juros criam um ambiente mais estável e previsível, o que abre espaço para o fortalecimento da atuação bancária no país.

Como pretende promover a integração e o intercâmbio de boas práticas entre Brasil e Argentina?

LP – Sempre respeitando as particularidades locais e com o mesmo objetivo de entregar excelência, inovação e soluções integradas aos nossos clientes em toda a região.

Atuaremos sob três pilares principais: promover sinergias entre países, com intercâmbio de boas práticas; desenvolver soluções integradas, sempre com foco nas reais necessidades dos clientes; e fortalecer a cultura de escuta, valorizando os talentos locais e promovendo ambientes mais diversos e colaborativos. A experiência adquirida no Brasil, especialmente em contextos de alta complexidade, como o atual cenário de juros elevados, certamente contribuirá para agregar valor à operação argentina.

E mais do que metas, queremos gerar impacto real. Isso só acontece quando colocamos as pessoas no centro e atuamos com empatia, transparência e compromisso com o futuro da América do Sul.

Você destacou a importância de investimentos sustentáveis e digitalização de serviços. Como essas frentes devem evoluir na sua gestão?

LP – A estabilidade institucional, a sofisticação do sistema financeiro e a digitalização crescente criam um ambiente propício para inovação e expansão de serviços.

No campo da sustentabilidade, direcionaremos recursos para linhas de crédito que incentivem a renovação da frota e a adoção de veículos com menor impacto ambiental. Essa abordagem contribui para reduzir emissões e, também, para fortalecer a competitividade de nossos clientes em um mercado cada vez mais atento à preservação do meio ambiente.

No que se refere à digitalização, vemos a transformação tecnológica como um caminho sem volta. A ampliação das plataformas digitais, o uso de inteligência artificial para análise de crédito e a oferta de jornadas 100% digitais de contratação trazem mais agilidade, conveniência e segurança para os clientes. Nosso objetivo é simplificar a experiência, garantindo que o financiamento seja acessível e transparente, tanto para pessoas físicas quanto para empresas de transporte e logística.

Em resumo, queremos combinar sustentabilidade e digitalização como pilares de crescimento. No Brasil, isso significa superar barreiras estruturais com inovação; na Argentina, ampliar as oportunidades em um mercado em expansão. Nos dois casos, seguimos orientados por um propósito claro: apoiar a mobilidade e o desenvolvimento econômico de forma responsável e moderna. E para isso, contamos com uma equipe engajada, uma estrutura sólida e uma cultura de colaboração. Estou confiante de que podemos posicionar a América Latina como uma referência dentro do grupo global, em resultados e inovação e impacto positivo.

No caso específico da Argentina, como a instituição pretende aproveitar a expectativa de retomada econômica para ampliar sua atuação?

LP – A experiência de comandar, como CFO, a operação da empresa na Argentina entre 2017 e 2019, aliada à atual posição como CEO no Brasil desde 2024, me proporcionou um conhecimento e perspectivas únicas sobre as dinâmicas econômicas, regulatórias e culturais da região. Essa trajetória fortalece a identificação de sinergias operacionais, compreensão das particularidades de cada mercado e, ao mesmo tempo, a capacidade de explorar as similaridades estruturais. Tal vivência contribui também diretamente para a construção de uma agenda de crescimento integrada, com foco em soluções financeiras adaptadas às realidades locais, mas alinhadas a uma visão regional de longo prazo, promovendo maior eficiência e inovação.

Venho acompanhando com atenção e otimismo as transformações econômicas em curso na Argentina. As projeções para 2025 indicam uma retomada significativa, com expectativa de crescimento de 5% do PIB e uma queda expressiva da inflação, reflexo direto das medidas de ajuste fiscal implementadas pelo atual governo. A consolidação do superávit fiscal e a redução da taxa básica de juros criam um ambiente mais estável e previsível, o que abre espaço para o fortalecimento da atuação bancária no país. Desta forma, nosso foco está em ampliar a oferta de crédito, apoiar investimentos produtivos e fomentar parcerias estratégicas que contribuam para o desenvolvimento sustentável da economia argentina. E o principal desafio está em construir resiliência e capturar o potencial de retomada com soluções financeiras adaptadas à realidade local.

Como cenário atual, com crise entre os governos de Brasil e EUA, afeta todo o seu planejamento a médio prazo?

LP – As recentes mudanças no comércio internacional trazem novos desafios ao agronegócio brasileiro, mas também reforçam a nossa convicção de que o transporte de cargas continuará sendo um pilar essencial da economia, sem alterar a essência do nosso planejamento de médio prazo.

O Brasil possui uma base produtiva sólida, altamente competitiva e com grande capacidade de adaptação, fatores que garantem a continuidade da demanda por transporte eficiente.

Como banco de montadora, nosso papel é apoiar nossos clientes, oferecendo condições de crédito que ajudem o transportador a manter sua frota moderna, competitiva e sustentável. Há também oportunidades em segmentos que crescem independentemente das exportações, como logística urbana, e-commerce e distribuição regional.

Enxergamos na Argentina, e em outros mercados da região, um ambiente favorável para acelerar investimentos, o que reforça nossa estratégia de crescimento sustentável.

Acreditamos que, mesmo em um cenário global em transformação, o setor de transporte seguirá se renovando, e estaremos ao lado dos nossos clientes para transformar cada desafio em oportunidade.