A casa paulistana completa 27 anos graças ao olhar atento e inovador de seu proprietário, Denis Rezende
Por Ney Ayres
No vibrante cenário gastronômico de São Paulo, o Café Journal, no bairro de Moema, se destaca. São 27 anos de vida. Por trás de sua longevidade e prestígio estão a visão e a dedicação do proprietário, Denis Rezende. Com uma trajetória que se confunde com a do próprio estabelecimento, ele é o guardião de um espaço que, há quase três décadas, oferece uma experiência única aos frequentadores.
Conhecido pela arquitetura marcante e ambiente acolhedor, o Café Journal reflete a decisão de Denis em criar um ponto de encontro onde boa gastronomia, adega renomada e conversas agradáveis se unem. Sob sua liderança, o restaurante conseguiu manter-se relevante, equilibrando a preservação de clássicos contemporâneos com a introdução de novidades que acompanham as tendências do mercado.
A gestão atenta aos detalhes e o compromisso com a excelência são os pilares que garantem ao Café Journal um lugar especial no coração dos paulistanos. Denis Rezende continua trabalhando para que o Café Journal siga sendo um referencial para quem busca uma experiência diferenciada na capital.
THE PRESIDENT _ O Café Journal está completando 27 anos. Conte um pouco da sua história. Como você decidiu entrar na gastronomia?
Denis Rezende – Isso mesmo! A casa existe desde 1997. Comecei minha vida profissional na indústria. Meu pai tinha uma empresa de laminados técnicos industriais em Santo Amaro, na zona Sul de São Paulo, chamada Eletrisol. Produzíamos componentes para os setores eletroeletrônico e automotivo. Mais tarde, passei a me especializar em programação de produção e sistemas de qualidade. Mas veio o Plano Collor, com o confisco da poupança pela Zélia Cardoso de Mello, e duas coisas aconteceram: a empresa começou a enfrentar dificuldades com a abertura das importações (a indústria nacional não estava preparada para competir) e, além disso, nosso maquinário estava sucateado e a empresa sem fluxo de caixa. O cenário ficou muito complicado. Comecei a procurar outro negócio. Peguei os classificados do Estadão e comecei a pesquisar: estacionamento, loja em shopping. Até que encontrei um restaurante recém-inaugurado, que era o Café Journal.
Já estava pronto?
DR – Sim. A casa foi inaugurada em abril de 1997. No final do mesmo ano, conheci o negócio e assumi a sua gestão no início de 1998. O negócio tinha dez sócios na época; eu comprei a parte de sete deles. Os sócios, que começaram como amigos, acabaram se desentendendo. Um deles ficou comigo por mais de 17 anos. Era o Reginaldo Leme, jornalista e comentarista de automobilismo da Globo. Quando ele ía a Heidelberg, na Alemanha, havia um pequeno Café Journal onde os jornalistas se encontravam. Isso inspirou o nome. Na época, os cafés temáticos estavam em alta — como Café Cancun e Café de La Musique — e vivíamos o auge do Hard Rock Café. O Café Journal nasceu como uma casa temática. Tínhamos jornais nas paredes, e os pratos levavam nomes de jornais: salada New York Times, sanduíche Daily Mail, por aí afora. Mas, com o tempo fui deixando esse tema de lado, gradualmente. Minha visão era ser reconhecido por excelência no ambiente, na gastronomia e no serviço.
A época desses cafés temáticos realmente passou.
DR – Sim, mas o nome permaneceu, enquanto o Café Journal se transformava. Quatro ou cinco anos após a inauguração, criamos um bar muito forte, o Clube Whisky. Só para ter uma ideia, tínhamos mais de 2 mil clientes. Montei uma adega com mil rótulos na época. Eu não era um cara com pedigree na gastronomia — todo mundo achou loucura. Muita gente tinha resistência ao vinho na época. As pessoas tinham receio por falta de conhecimento. Mesmo apreciando, muitas pessoas evitavam tomar vinho em rodas sociais, por insegurança ou desconhecimento. Fizemos um trabalho bacana de catequese, trazendo esses clientes para o mundo do vinho. Na época, só o Rubaiyat e talvez alguns hotéis, Fasano, tinham algo parecido. Fora dos hotéis, era raro. Hoje podemos dizer que correm vinhos nas veias do Café Journal.
E como foi o início para você, pessoalmente?
DR – Eu tinha 23 anos. Foi um desafio atrás do outro: minha esposa — na época, minha namorada — ficou grávida. Isso acabou me amadurecendo rapidamente.
E vocês estavam fora da rota gastronômica?
DR – Sim. Moema, em 1997, estava fora do circuito. Mas a Expand, a maior importadora na época, me ajudou. O Otávio Piva de Albuquerque, dono da empresa, veio aqui, sentou-se, observou o movimento e disse: “Cara, é aqui!”. Hoje temos de 300 a 320 rótulos de vinho. Já chegamos a ter mil. Devido às mudanças tributárias e à necessidade de capital embarcado, tornou-se inviável manter tantos rótulos.
E a parte gastronômica?
DR – Tivemos vários chefs. Durante anos, trabalhamos com o Ivan Ashcar, que depois fundou uma escola de gestão em gastronomia. Dei aulas lá por bastante tempo. Hoje, nosso chef é o André Borato, também meu sócio na área de eventos de grande porte. Ele chegou aqui em 2024. Em 2009, participou do MasterChef e foi finalista.
Vocês estão renovando o cardápio?
DR – Sim, mas seguimos com uma ideia de comfort food. Por anos, exploramos a gastronomia autoral, mas percebemos que fazer o básico muito bem-feito é um grande diferencial. Nosso cardápio é contemporâneo e variado. Cinquenta porcento da inspiração é italiana. Sempre enxerguei a Itália como base. Fazemos todas as massas frescas aqui, com a ajuda da nossa masseira Luzia. O campeão de vendas é o Polvo à Lagareiro. Também temos o Stinco de Cordeiro, Risoto de Açafrão… Para as carnes, utilizamos um forno Berta Volcano a carvão, que garante uma cocção excelente. Todas as nossas carnes — fraldinha, ancho, chorizo, entre outros — são preparadas nele.
Os eventos cresceram após a pandemia?
DR – Muito! Eventos corporativos pequenos aumentaram bastante. Por isso, investimos em estrutura: painel de LED de última geração, som, microfones, gerador. Oferecemos desde o espaço até o apoio completo na organização do evento. Temos dezenas de clientes com agendas anuais fechadas — virou um grande negócio da casa. Também fazemos eventos externos (catering), já realizamos alguns para até 7 mil pessoas. E hoje tenho a honra de contar com minha filha, Raphaela Villares, liderando com excelência o setor comercial de eventos do Café Journal, agregando talento e continuidade à história do restaurante.
E a expansão da marca?
DR – Inauguramos uma operação no shopping Jardim Sul, no Morumbi, chamada Urban Café Journal. É uma nova proposta. Estamos validando o conceito, e está indo melhor do que esperávamos. A unidade vende mais drinques do que vinho — e o projeto tem grande potencial de expansão.