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Mediterrâneo à brasileira

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Mediterrâneo à brasileira

Charcutaria artesanal, azeites, queijos e vinhos produzidos no Brasil esbanjam qualidade e ganham o mundo

Por Ney Ayres

Fotos Germano Lüders

A gastronomia brasileira vive um momento de afirmação no cenário internacional, combinando tradições europeias à diversidade e riqueza do território nacional. Dessa fusão cultural nascem produtos de excelência — vinhos, azeites, queijos e charcutaria — que conquistam espaço entre os melhores do mundo.

Em 2024, os vinhos e espumantes brasileiros alcançaram um marco histórico: 776 premiações em concursos internacionais, segundo a Associação Brasileira de Enologia (ABE). Os rótulos nacionais foram reconhecidos em países como França, Itália, Reino Unido, Canadá e Suíça, somando 63 medalhas de Duplo Ouro ou Grande Ouro e cinco prêmios especiais. A variedade de terroirs e a evolução técnica dos produtores projetaram o Brasil como protagonista da enologia global.

O setor de queijos artesanais também brilhou. No World Cheese Awards 2024, realizado na Noruega, 23 queijos brasileiros foram premiados, incluindo uma medalha Super Ouro. Minas Gerais confirmou sua liderança, reforçando a tradição queijeira do país. Na charcutaria e na produção de azeites extravirgens, o reconhecimento internacional cresce ano a ano, consolidando a identidade dos produtos brasileiros. Seja na taça, na tábua ou no prato, o Brasil está cada vez mais presente nos palcos mais exigentes do mundo.

Na charcutaria, Hugo Sobrinho, da marca in Caneva, imprime personalidade a cada peça maturada, mesclando técnica italiana e alma brasileira. Entre seus destaques estão a Coppa Caipira, feita com porco caipira do interior de São Paulo e alho negro; o Speck de Porco Duroc, levemente defumado com madeiras frutíferas nacionais; a Lonza con Lardo, preparada com lombo de porco Duroc enriquecido com lardo; e a Bresaola de Angus, maturada com carne bovina do Centro-Oeste.

Os azeites brasileiros seguem trajetória semelhante. O Verolí, produzido na Serra da Mantiqueira (MG), foi o único azeite mineiro selecionado pelo guia internacional Flos Olei em 2024 e 2025, além de acumular medalhas de ouro em concursos mundiais. Criado por uma família em 2016, o projeto cultiva 9 mil pés de oliveiras e aposta em azeites monovarietais (Arbequina e Picual) e blends. Já o Rossini, de Santo Antônio do Pinhal (SP), valoriza o terroir serrano, a colheita manual e a pureza do produto, oferecendo versões como o suave e frutado Arbequina e o encorpado Grappolo.

Ao lado dos azeites e da charcutaria, pães e queijos artesanais também se destacam. Entre os queijos, a Queijaria Rima (Porto Feliz, SP), criada por Ricardo Rettmann e Maria Clara Serra, aposta em leite de vaca e ovelha para produzir rótulos como o Maratimba, com foco em sustentabilidade. Já o Capril Capriolês, fundado por Célia Storani Bíscaro em Jundiaí-SP, produz queijos de cabra e vaca — entre eles o Minas Meia Cura, o Frescal e o tipo Feta — reconhecidos pelo selo de inspeção municipal (SIM-Jundiaí).

Na vitivinicultura, a diversidade brasileira se reflete em vinhos de personalidade marcante. A Vinícola OTTO, na Serra Gaúcha, produz rótulos exclusivos, como o Sauvignon Blanc OTTO, eleito Melhor Vinho Branco Brasileiro no guia Descorchados 2025, e o elegante Viognier, ideal para carnes brancas e frutos do mar. O Torcello Chardonnay Premium, do Vale dos Vinhedos, passa 120 dias em carvalho americano, revelando notas de baunilha e chocolate branco. Já o Torcello Tinto Ancellotta amadurece 18 meses em barrica, exibindo aromas de frutas negras, café e tabaco, perfeito para charcutarias e queijos fortes.

Na Campanha Gaúcha, a Sierra de Pedra produz rótulos como o Cabernet Sauvignon Reserva, o Tannat Reserva e o Merlot Gran Reserva, todos com uvas selecionadas manualmente. Em Ribeirão Preto (SP), a Entre Rios conquistou prêmios internacionais com o Syrah 2021 e o Amplitude 25, Cabernet Sauvignon de dupla poda. Na Serra da Canastra (MG), a Sacramentos Vinifer se destaca com o Sabina Entre Serras Syrah, limitado a 3.250 garrafas e premiado pela revista Adega e pelo Decanter World Wine Awards. O Sacramento Far Niente Sauvignon Blanc 2024 completa a linha com frescor e tipicidade.

Entre os espumantes, o Clássico Amitie, elaborado pelo método Charmat com 60% Chardonnay e 40% Malvasia, é um dos rótulos mais premiados, marcado por elegância e notas frutadas.

A produção brasileira assume protagonismo com identidade própria. Mais do que seguir tradições importadas, esses produtos revelam a maturidade de um país que aprendeu a transformar sua diversidade em excelência reconhecida no mundo todo.

Dica fundamental

Para acompanhar essas iguarias brasileiras, uma boa sugestão é a linha de pães do Restaurante Aguzzo, em São Paulo. Entre as melhores opções, estão a Baguete Italiana (vegana), o Pão de Nozes (integral) e o Pão de Calabresa. Estão à venda no próprio restaurante.