Brasil garante presença feminina nos conselhos das estatais
Por André Chaves*
O Senado aprovou uma decisão histórica: os conselhos de administração de estatais brasileiras terão que reservar, obrigatoriamente, até 30% das vagas para mulheres – incluindo mulheres negras ou com deficiência. A proposta seguiu para sanção presidencial e, se virar lei, começará a valer de forma gradual nos próximos três anos.
Apesar de as mulheres serem maioria na população e cada vez mais presentes no mercado de trabalho, ainda ocupam menos da metade dos cargos de liderança no Brasil. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), pouco mais de 39% das posições gerenciais são ocupadas por elas. Nos conselhos de grandes empresas e estatais, esse número é ainda menor.
A nova medida foi pensada para corrigir essa desigualdade. O Brasil não está sozinho nessa caminhada. Quem puxou esse movimento foi a Noruega, que em 2003 criou uma lei obrigando que pelo menos 40% dos cargos nos conselhos de administração fossem ocupados por mulheres. No começo, houve resistência, mas os resultados vieram: mais diversidade, melhores decisões e uma cultura empresarial mais moderna e plural.
Aqui, o processo será gradual. No primeiro ano, as mulheres deverão ocupar 10% das vagas, 20% no segundo e, finalmente, 30% no terceiro ano. Dentro desse percentual, parte das cadeiras será garantida para mulheres negras ou com deficiência.
Mais do que corrigir distorções históricas, a decisão traz à tona um ponto essencial para o futuro da gestão: a pluralidade de perfis, experiências e gêneros não é apenas um compromisso ético, mas um elemento-chave para a inovação e a performance das organizações. Estudos e cases internacionais, como o da Noruega, mostram que conselhos mais diversificados tomam decisões mais equilibradas e antecipam melhor os riscos. Também respondem de forma mais criativa aos desafios de um mundo em constante transformação.
Assim como aconteceu na Noruega, a expectativa é que a iniciativa incentive também o setor privado a adotar políticas parecidas. Porque, mais do que uma questão de justiça social, a diversidade nas lideranças é uma estratégia inteligente e necessária. Ela amplia os pontos de vista, melhora as decisões e torna as organizações mais preparadas para navegar em ambientes cada vez mais complexos e competitivos.
O Brasil dá agora um passo importante para corrigir desigualdades antigas e, ao mesmo tempo, reposicionar suas lideranças para o futuro. Mais do que números, essa decisão abre espaço para novas histórias, novos olhares e para um novo padrão de liderança — mais plural, mais diversa e, acima de tudo, mais conectada com o tempo em que vivemos.
*André Chaves é fundador do Future Hacker e CGO da Leme Growth, consultoria integrada à FuturExperience.