Há mais de 15 anos no mercado de luxo, Beatriz Gerlack é fundadora e CEO da agência BRIDGE+55
Por Redação
Foto Divulgação
Beatriz Gerlack é empresária, estrategista de conexões e especialista no mercado de luxo, onde construiu uma carreira sólida de mais de 15 anos. Com passagens por Dior e Rimowa, do grupo LVMH, fundou em 2023 a BRIDGE+55, um serviço de consultoria que cria pontes entre marcas globais e públicos locais. A conexão é sempre feita de maneira sofisticada, autêntica e com propósito.
A atuação de Beatriz é marcada pela curadoria perspicaz e pelo olhar atento às transformações culturais e de consumo, sobretudo nos novos polos de influência econômica do Brasil. Formada em Publicidade e Propaganda pela FAAP, a CEO da BRIDGE+55 possui também um amplo repertório internacional, já que morou na Alemanha, participou de uma missão estudantil na China e está constantemente em trânsito entre os principais centros globais de negócios e tendências.
Em entrevista à THE PRESIDENT, Beatriz Gerlack explicou o que a motivou a criar e como funciona a BRIDGE+55, projetou o futuro do mercado de luxo no Brasil e falou sobre as transformações do setor nos últimos tempos — destacando inclusive a influência do agronegócio, área de atuação histórica de sua família.
THE PRESIDENT _ Depois de quase uma década em gigantes como Dior e Rimowa, o que a motivou a empreender e fundar a BRIDGE+55?
Beatriz Gerlack – Sim. Pode soar clichê, mas a pandemia foi, sem dúvida, um divisor de águas. Voltei para Catanduva, minha cidade natal, e pela primeira vez em muitos anos olhei para dentro — de mim, da minha família e das minhas origens no agronegócio. Percebi que muitas pessoas estavam fazendo o mesmo movimento: reconectando-se com o essencial, com suas raízes e com uma vida mais genuína. Vi surgir novos negócios, novas lideranças e um luxo que não vinha de Paris, mas da terra, do tempo e das relações humanas.
A BRIDGE+55 nasceu desse olhar: o de construir pontes entre mundos que historicamente não se encontravam — o luxo e o interior, o global e o local, o consumo e o propósito. E, acima de tudo, nasceu do desejo de criar um ciclo virtuoso, onde o sucesso empresarial também gera impacto social e cultural.
A BRIDGE+55 nasceu para conectar marcas globais a públicos fora dos eixos tradicionais do luxo. Quais foram os maiores desafios e aprendizados ao levar experiências sofisticadas para mercados emergentes?
BG – O primeiro desafio foi quebrar paradigmas — tanto das marcas quanto dos consumidores. Muitos ainda associam o luxo a CEPs específicos ou códigos urbanos, mas o luxo contemporâneo não tem mais fronteiras: ele se expressa em experiências, não em coordenadas geográficas. Aprendemos que o público fora do eixo é extremamente sofisticado — só não quer ser tratado como uma “extensão” de São Paulo ou do Rio. Eles valorizam o que é autêntico, feito sob medida, e têm um senso de pertencimento muito forte. Nosso maior aprendizado foi esse: sofisticação não é sobre aparência, é sobre relevância cultural. E isso vale tanto para um jantar em Paris quanto para uma imersão em uma fazenda no Mato Grosso.
Você diz que “o novo luxo não chama atenção, cria intenção”. O que exatamente significa essa mudança — e como isso influencia as estratégias de branding da BRIDGE+55?
BG – O luxo contemporâneo é silencioso, mas profundamente simbólico. Não se trata mais de ostentar logotipos, e sim de expressar valores.“Criar intenção” significa construir desejo com propósito. Hoje, o consumidor de alta renda quer investir em marcas que refletem sua visão de mundo — e não apenas seu status. Por isso, nossas estratégias na BRIDGE+55 não giram em torno de exposição, mas de conexão. Trabalhamos com storytelling inteligente, experiências sensoriais e curadorias que traduzem a essência da marca. É o mesmo movimento que vemos em marcas como Hermès, Brunello Cucinelli ou Aman Resorts: o luxo como um estado de consciência, não de consumo.
O mercado de luxo no Brasil deve movimentar mais de R$130 bilhões até 2030. Que movimentos você observa entre os ultrarricos brasileiros?
BG – O comportamento dos ultrarricos está passando por uma transformação silenciosa. Eles buscam menos volume e mais profundidade, menos eventos e mais vivências transformadoras. Estamos vendo um deslocamento do consumo exibicionista para o luxo intelectual e emocional — aquele que envolve aprendizado, acesso e significado. O consumidor de altíssimo padrão quer ser surpreendido de forma inteligente, quer se sentir parte de algo. Além disso, há uma tendência clara de regionalização do luxo: famílias tradicionais do agro, do setor financeiro ou da indústria estão investindo em experiências próprias — vinhos, aviação, hospitalidade, arte. Eles não querem apenas consumir luxo; querem criá-lo.
A BRIDGE+55 atua como radar cultural e econômico. Que critérios vocês usam para mapear regiões e públicos com potencial para o luxo contemporâneo?
BG – Nós olhamos para três dimensões principais: capacidade econômica, claro — mas aliada à longevidade do capital; capital cultural, que traduz o estilo de vida e os hábitos de consumo locais; e capital simbólico, ou seja, o que aquele território representa em termos de aspiração. A partir daí, construímos um mapa de influência invisível: regiões que produzem riqueza, mas também narrativas e pertencimento. Por isso, o interior do Brasil é tão relevante — ele produz alimento, mas também produz significado.
Um dos pilares do seu trabalho é a curadoria inteligente. Como diferenciar uma ação realmente exclusiva de algo apenas esteticamente luxuoso?
BG – A estética é importante, mas sozinha, ela não sustenta o desejo. Uma ação exclusiva precisa ter alma, contexto e propósito. Nós sempre perguntamos: “Por que isso importa?”. Se a experiência não desperta reflexão, conexão ou emoção — ela é apenas bonita, não é luxo. Na BRIDGE+55, o processo de curadoria é quase antropológico: estudamos o público, o território, o timing cultural e traduzimos tudo isso em experiências que contam uma história coerente e sofisticada.
Sua trajetória combina sensibilidade estética e visão estratégica. Como equilibra criatividade e resultado de negócio?
BG – Com repertório e método. A criatividade sem estratégia é arte; a estratégia sem emoção é planilha. O verdadeiro luxo acontece no ponto de encontro entre os dois. Na BRIDGE+55, tratamos cada projeto como uma orquestra de talentos — onde design, negócios e comportamento tocam em harmonia. É o que aprendi observando casas como Dior e Rimowa: a forma é bonita, mas o pensamento por trás é o que a torna eterna.
A BRIDGE+55 tem colaborado com marcas globais e eventos de alto prestígio. Que tipo de valor as marcas buscam hoje em uma parceria com vocês?
BG – As marcas nos procuram porque já entenderam que visibilidade não é mais suficiente — elas querem relevância e acesso real. Os grandes mercados, como São Paulo e Rio, estão saturados. As marcas sabem disso. Elas buscam novas rotas de crescimento, e é exatamente aí que entramos: a BRIDGE+55 é a ponte que encurta distâncias e antecipa movimentos, levando-as antes aos públicos certos, nos lugares certos. Nosso papel é vender tempo — o ativo mais valioso do mundo contemporâneo. Oferecemos inteligência cultural e estratégica para traduzir os códigos do luxo global em contextos locais de forma autêntica, preservando essência e gerando desejo genuíno. Não somos uma agência de eventos; somos um parceiro de expansão e posicionamento. Transformamos presença em influência e influência em resultado.
Você fala sobre o papel do Brasil profundo como protagonista do novo luxo. De que forma o agronegócio está influenciando esse movimento?
BG – O agronegócio é o novo mecenas do luxo brasileiro. É onde estão os grandes investimentos, o poder de compra e, sobretudo, a vontade de protagonizar. Esses empresários têm orgulho de suas origens, e isso está criando uma estética única: o luxo da terra, do tempo, da autenticidade. Estamos vendo fazendas que se tornam destinos, coleções de vinhos nascendo em regiões antes impensadas, e uma valorização do feito à mão, do regional. É um luxo mais humano e emocional, que conversa com o mundo, mas não abre mão da sua raiz.
Quais transformações vão redefinir o conceito de luxo — no Brasil e no mundo?
BG – O futuro do luxo é íntimo, invisível e intencional. Se o quiet luxury nos ensinou a valorizar a discrição, agora entramos na era do meaningful luxury — um luxo com propósito, consistência e consciência. No Brasil, cresce o luxo identitário, que celebra o orgulho das origens e da cultura local. Globalmente, tecnologia e sustentabilidade já não são diferenciais, mas pré-requisitos. Acima de tudo, o novo luxo será sobre tempo, presença e escuta — os bens mais raros do nosso tempo. O luxo do futuro não está na velocidade, mas na inteligência de escolher o caminho. E é isso que a BRIDGE+55 faz: transforma a ponte em atalho.