No mundo corporativo, falar em resultados e metas já faz parte do dia a dia. Mas cada vez mais líderes entendem que, para sustentar a performance, não basta apenas entregar números
Por Amélia Whitaker
Mais de 70% dos novos apartamentos lançados em São Paulo têm até 45 metros quadrados. O dado, revelado em relatório do Goldman Sachs, não é apenas estatística. Ele revela uma mudança estrutural na forma como a maior metrópole da América Latina está se reorganizando.
Os compactos deixaram de ser tendência para se tornar realidade dominante. Se antes a verticalização se restringia a zonas periféricas, hoje ela ganha força em bairros do centro expandido, como Vila Mariana, Bela Vista, Pinheiros, Consolação e República. O perfil de quem compra também mudou: jovens que priorizam localização e mobilidade e investidores atentos ao potencial de locação em áreas estratégicas.
Mas o boom tem nuances. Para além da padronização de unidades em larga escala, surgem empreendimentos que exploram identidade arquitetônica, desenho urbano e uma integração mais profunda com o cotidiano da cidade. “O que se esgotou não foi o conceito de compacto, mas o modelo genérico, desconectado do usuário e distante das dinâmicas reais de ocupação”, afirma Jorge Cury, CEO da UMÃ Incorporadora.
A fala reflete um debate urgente. Menos metros quadrados não podem significar menos qualidade de vida. No desenho desses espaços, entram em cena a governança dos empreendimentos, a atenção à mobilidade e o desenho de áreas comuns que ampliem a sensação de pertencimento. É aqui que o diferencial aparece: projetos bem localizados, com arquitetura autoral e gestão criteriosa, alcançam taxas de ocupação e rentabilidade superiores.
Para investidores, a mensagem é clara. Preço por metro quadrado não conta toda a história. “Rentabilidade real exige mais do que valor tabelado. Exige gestão, contexto e desenho alinhado às necessidades de quem vai habitar”, destaca Cury.
Esse movimento também pressiona o poder público. O adensamento em áreas centrais demanda soluções para mobilidade, saneamento e infraestrutura, sob risco de transformar um fenômeno urbano em um gargalo para a cidade.
O compacto, nesse sentido, já não pode ser lido apenas como tipologia, mas como linguagem de uma nova fase do urbanismo paulistano. Uma fase que fala de usabilidade, liquidez e permanência. Menos metragem, mas mais cidade.