Construtor de oito dos dez prédios mais altos do Brasil, Jean Graciola, CEO da FG Empreendimentos, prepara-se para levar ao mercado o primeiro arranha-céu assinado pela marca Senna no mundo
Por Fabiano Mazzei
A agenda de trabalho de Jean Graciola, CEO da FG Empreendimentos, a principal incorporadora de Balneário Camboriú (SC), tem andado mais ocupada do que de costume em 2025. As solicitações de reunião aumentaram, sobretudo por parte de grandes empresários da economia nacional – interessados em conhecer melhor a companhia e ver de perto o que acontece no mercado que se tornou o maior fenômeno imobiliário do país.
São nomes como Guilherme Benchimol, cofundador e Presidente do Conselho da XP Inc., que esteve na cidade em fevereiro, atento a possibilidades de negócio. Já o publicitário Roberto Justus desembarcou por lá em março e fechou uma parceria entre a sua indústria de painéis de aço para a construção civil, a Steelcorp, com a FG. Outros diretores de agências de publicidade e de eventos também visitaram o escritório de Graciola nos meses mais recentes. E até o cantor – e presidenciável – Gusttavo Lima, tem ligado para o CEO, com pretensões de investir em “BC”.
“Nós furamos a bolha. As pessoas que não olhavam para a gente antes, agora querem entender o que está acontecendo aqui e buscam formar parcerias conosco”, afirma Graciola.
O interesse tem razão de ser. Balneário Camboriú lidera o ranking de cidades com maior valor médio de metro quadrado residencial para venda, segundo o Índice FipeZap, que monitora 56 cidades, incluindo todas as capitais e o Distrito Federal. Uma posição conquistada ainda em 2022 e mantida até o último levantamento, realizado em fevereiro: R$ 14.206/m2, a frente de metrópoles como Rio de Janeiro e São Paulo.
Mas o grande motivo para todo este frisson com a cidade e com a FG tem nome e sobrenome – no caso, bastante famoso. Em setembro de 2024, Graciola anunciou a construção da maior torre residencial da América do Sul: a Senna Tower, na orla da Praia Central de Balneário. Com 500 metros de altura e apartamentos que serão mansões suspensas, o edifício marcará a estreia mundial da empresa Senna Brands – que cuida dos direitos de imagem do piloto Ayrton Senna, falecido em 1994 – no setor de imóveis.
Embora a entrega do empreendimento esteja prevista somente para 2032, já existe uma corrida acelerada por suas unidades, sobretudo pelos andares mais emblemáticos, como os que marcam o número de poles ou de vitórias de Senna na F1.
Os valores partem de R$ 27 milhões e devem alcançar os R$ 70 milhões nos apartamentos maiores, instalados nos primeiros pavimentos e que contarão com elevador exclusivo para carros. As coberturas duplex e triplex deverão ultrapassar a casa dos R$ 100 milhões, mas serão leiloadas em uma parceria com uma gigante do “real estate” dos Estados Unidos. No total, o Valor Geral de Vendas (VGV) do Senna Tower é de R$ 8,5 bilhões.
O projeto é o momento de glória de uma performance exuberante da incorporadora no último ano. Em 2024, a FG registrou R$ 2 bilhões em vendas, aumento de 34% na margem de lucro líquido em relação ao ano anterior. Para este ciclo de 2025, a companhia quer crescer mais 30% e pretende lançar mais quatro projetos – um deles, na Praia Brava, em Itajaí, combinando hotelaria e residencial. Juntos, estes empreendimentos alcançam um VGV de R$ 15,2 bilhões.
Um resultado impressionante para uma incorporadora jovem, fundada em 2003 por Francisco Graciola, pai de Jean. Daí em diante, são 63 empreendimentos entregues. Cabe ao seu único filho homem, Jean, aos 45 anos, expandir esse legado e liderar a companhia no momento mais marcante de sua história.
“Não queremos ser a maior empresa imobiliária do Brasil, mas a melhor”, costuma dizer Graciola, em suas apresentações a investidores da Faria Lima. Para manter a liderança, será preciso ainda mais empenho e dedicação. Mas é algo que parece não assustar o executivo, que começou a trabalhar ainda na adolescência, vendendo salgados e refrigerantes na rua para ajudar no faturamento da lanchonete dos pais, em Blumenau.
THE PRESIDENT _ Seu pai, Francisco Graciola, veio do interior catarinense, trabalhou como barbeiro e teve lanchonete em Blumenau. Do que se lembra dessa época?
Jean Graciola – Meus pais são minha inspiração, por toda a luta, de acordar 5h todo dia e trabalhar até tarde da noite. Meu pai veio de uma cidade chamada Gaspar, para trabalhar como barbeiro em Blumenau. Logo, conheceu a minha mãe e começou a dar foco no comércio, abrindo lanchonetes. Nos meus 13, 14 anos, eu saía com um isopor para vender salgados e refrigerantes na porta de eventos, como a Oktoberfest, e, em troca, ganhava uma parte pequena – a cada R$ 20 vendido, ficava com R$ 1. Trabalhei até os 19 anos nas lanchonetes, com 16 já morava sozinho. Vivenciei este “começo de baixo”, como as pessoas falam, o início difícil que toda a nossa família passou naquela época.
E no setor de real estate, como aconteceu?
Meus pais vieram morar em Balneário Camboriú e abriram uma construtora em Jaraguá do Sul. Eu fazia faculdade de administração de empresas em Blumenau e, aos 19 anos, passei a acompanhar o dia a dia da construtora. Dez meses após a minha chegada, nosso gerente administrativo morreu e tive de assumir a empresa. Lembro da primeira obra sob minha gestão: um empreendimento residencial na cidade chamado Garden Flowers. Foi o meu primeiro trabalho na construção civil e me atingiu em cheio. Acompanhar a obra, o desenvolvimento do projeto como um todo – da compra do terreno até a entrega do empreendimento –, me fez entender que era aquilo que eu queria fazer pelo resto da vida.
Você construiu oito dos dez edifícios mais altos do país. Quantos andares tinha esse primeiro prédio?
Ah, este foi mais modesto: apenas 12 andares e 48 apartamentos. Mas tornou-se um sucesso de vendas! Adotei uma estratégia de marketing bem agressiva: espalhei 30 outdoors pela cidade, anunciando venda direta com a construtora e parcelamento em até 100 vezes. Compramos uma briga com os concorrentes locais, mas deu muito certo: vendemos tudo em seis meses.
Nunca pensou em seguir outra carreira?
Na verdade, não. Talvez no esporte, sempre gostei, desde garoto: jogava futebol, handebol, vôlei, participava de torneios na região, sempre em modalidades coletivas. E isso me encantava, trabalhar em equipe, de forma cooperativa. Podia não ser o melhor jogador, mas era o que mais se dedicava ao time. É algo que carreguei para a carreira executiva: gosto de valorizar o esforço coletivo. Em construção civil, você precisa de uma equipe para subir um prédio. Ninguém faz nada sozinho. Mas, de fato, o esporte sempre me emocionou: tinha o Ayrton Senna como o maior ídolo da infância e adorava assistir aos jogos do Guga na tevê da lanchonete.
E quando decidiu “descer para BC”?
A vinda para Balneário foi aos 22 anos, uma sugestão do meu pai. Eu vivia em Blumenau, ele em BC, onde tinha uma parceria com uma construtora local, e decidimos ficar juntos de novo. A FG Empreendimentos nasceu de um processo de cisão e fusão das duas empresas – de Jaraguá e Balneário – em 2003. O nome original foi em homenagem às iniciais do nome do meu pai, Francisco Graciola. Hoje, falamos em Família Graciola.
Como é trabalhar com seu pai?
Nosso trabalho sempre foi muito complementar: ele com a visão do negócio, eu com a gestão empresarial. A companhia começou com dez funcionários; hoje, tem mais de 5 mil. Nessa trajetória, vimos muitas empresas familiares falirem por falta de governança, conselho, uma gestão mais profissional. Em 2011, formamos o nosso conselho consultivo, com profissionais que trouxemos de grandes corporações. No ano seguinte, contratei a Ernest & Young para fazer a auditoria de nossas contas. E, a partir de 2013, passamos a realizar parcerias estratégicas com personalidades. Uma delas foi com a atriz Sharon Stone, que foi nossa embaixadora por cinco anos. Nosso modelo de gestão busca a perenidade e a sustentabilidade da empresa. Nós somos mortais, mas a companhia precisa permanecer.
“O Senna Tower vai estimular ainda mais o apelo de Balneário Camboriú no mercado internacional”
Como foi essa história com a Sharon Stone?
Um amigo me ligou num domingo de manhã dizendo que a Sharon Stone estava na cidade – ela namorava um argentino que tinha família em Balneário. Na hora, a minha ideia era conseguir levá-la a um plantão de vendas e bater uma foto com ela. Mas não deu certo. Um mês depois, ela retornou à cidade e mandou recado de que gostaria de conhecer a empresa. Fizemos uma apresentação institucional e ela se apaixonou pelos nossos programas sociais. Quis participar e dali surgiu a parceria. Com a família Aveiro, do jogador Cristiano Ronaldo, foi parecido. Tudo muito orgânico, espontâneo e fechamos o acordo.
O que justifica o fenômeno imobiliário de Balneário Camboriú?
São vários pontos que explicam isso. A começar pelo aspecto geográfico: o litoral de Santa Catarina tem mais de 150 praias. Somente entre Balneário e Florianópolis são mais de 70 – e 80% disso de praias agrestes, lindas e preservadas. A cidade é cercada pela Mata Atlântica e está a duas horas de carro da neve que cai na serra catarinense.
Balneário é uma cidade extremamente segura também. Eu tenho um cliente de Rondônia que anda com 12 seguranças lá na cidade dele. Aqui, vem até o escritório de bermudas e caminhando sozinho. Essa qualidade de vida tem transformado o perfil do comprador: do investidor tradicional a pessoas que buscam uma segunda residência, para frequentar Balneário de três a quatro meses por ano.
Tem mais: estamos próximos a dois aeroportos internacionais – Florianópolis e Navegantes – e de um terminal privado para aviação executiva, em Porto Belo, o que facilita o acesso. De São Paulo para cá, por exemplo, são 45 minutos de voo – bem mais rápido do que ir de carro até o Guarujá.
Também há ótima estrutura turística, não?
Sim, é outro ponto forte: são atrações como os museus, parques, aquário, o teleférico no complexo Interpraias, a roda gigante na Barra Sul da Praia Central e toda a reurbanização dessa orla, que começou com o alargamento da faixa de areia. Por tudo isso, a cidade recebeu cerca de 90 cruzeiros transatlânticos na temporada de verão e mais de 2 milhões de pessoas no último Réveillon. Além do mais, a economia catarinense é muito forte, com grandes empresas como a Weg, Malwee, Duas Rodas, Marisol, Tigre, estaleiros da Azimut e Schaefer, BMW, todas sediadas no estado. Joinville, Blumenau, Itajaí, que são polos econômicos muito fortes, estão ao nosso redor. Este ecossistema de pontos positivos é o que tem atraído os compradores e feito os imóveis em Balneário Camboriú se valorizarem tanto nos últimos anos.
Na sua visão, Balneário já se tornou um hub nacional de investimentos imobiliários?
Sim, nós furamos a bolha e estamos sendo procurados por gente que não olhava para cá antes. Hoje, vendemos imóveis para quem é da região, do estado, do Sul, mas também para clientes em São Paulo, do agronegócio do Centro-Oeste e para brasileiros que vivem fora do país.
O próximo passo é se tornar um destino imobiliário internacional?
Não tenho dúvida. Temos um apelo muito forte na Flórida (EUA) e junto a europeus. Tenho clientes portugueses, italianos, holandeses e até dinamarqueses. Muitos têm vínculo com o Brasil de alguma forma, seja por laço familiar ou por negócios. Para atender a demanda de fora, abrimos um escritório em São Paulo e outro em Miami, estamos com uma parceria local lá nos Estados Unidos também e seguimos para Portugal no segundo semestre. O Senna Tower só vai estimular mais esse apelo no mercado internacional. Ayrton Senna é um ídolo mundial. Estive em Mônaco no ano passado, por conta das homenagens aos 30 anos de sua morte, e percebi o quanto as pessoas o amam. Acredito que teremos clientes do mundo todo interessados em comprar apartamentos aqui.
Qual a sensação de fazer o primeiro prédio com o sobrenome de um herói do Brasil e da sua infância?
Confesso que ainda acordo atordoado, me perguntando se é verdade. No começo, foi bem utópico. Um amigo em comum com o Leonardo Senna me ligou dizendo que ele estava na cidade e queria conversar sobre assinar um empreendimento nosso. Ele veio ao escritório primeiro, depois fui até São Paulo conhecer a Viviane Senna e o Instituto Ayrton Senna, e tudo foi acontecendo naturalmente. Não foi somente um negócio, mas um encontro de valores entre as duas famílias. Criamos uma amizade grande: as mulheres têm até um grupo de Whatsapp para conversar entre elas. Demos início a um relacionamento longo e que deve render novos frutos daqui para frente.
Como faz para manter o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal?
Esse equilíbrio é essencial. Eu cuido bastante da minha saúde: durmo cedo, 22h, e acordo cedo também, 6h. Faço academia pelo menos quatro vezes na semana, corro na praia, treino Muay-thai com personal, ando de bicicleta… o esporte sempre foi importante na minha vida. Faço suplementação natural também, com foco na longevidade.
Com a família, procuro estar presente de fato. Todo dia eu troco meu filho menor para ir à escola e um dia da semana sou eu quem vou buscá-lo. Tenho um final de semana por mês somente para a esposa e fazemos uma viagem de casal todo ano. E tem a parte da fé. Sou um cara de fé, acredito em Deus. A base de tudo está neste equilíbrio do bem-estar físico e emocional. É possível fazer. Basta evitar colocar o “não dá” antes das coisas.
Se aquele garoto de 13 anos, que vendia salgado e refrigerante na porta das festas em Blumenau, visse aonde ele chegou hoje, aos 45, o que ele sentiria?
Estaria feliz – e muito orgulhoso do que conquistou. Nunca achei que pudesse acontecer tudo isso, mas acreditava que venceria na vida inspirado no exemplo de trabalho dos meus pais. Não tinha como dar errado.