Transformando processos criativos e estéticos com tecnologia digitalComo IA e CGI aceleram a criação e elevam a estética das campanhas publicitárias
Por Paulo del Valle, cofundador e diretor criativo da Craft
A publicidade sempre foi movida por duas forças: ideias e execução. Hoje, estamos diante de uma transformação em que as possibilidades se multiplicam, graças à IA (inteligência artificial) e ao CGI (Computer-Generated Imagery), termo usado para descrever imagens geradas digitalmente por computador, capazes de criar cenas, produtos e ambientes que não necessariamente existem no mundo físico. Se antes dependíamos exclusivamente de sets, estúdios e locações reais, agora somos capazes de construir universos do zero.
A tecnologia não só amplia o escopo do que é possível, ela redesenha o processo criativo. Um grande avanço tecnológico quando usado de maneira certa, estratégica e necessária. Na pré-produção, por exemplo, a IA pode ser utilizada como ferramenta para criar moodboards e storyboards com uma velocidade que seria impossível no modelo tradicional. Em minutos, conseguimos visualizar a estética de uma campanha e alinhar com o cliente antes de qualquer câmera ser aberta. Além disso, a IA também pode auxiliar na criação de roteiros e no planejamento: ajuda a dividir tarefas, organizar cronogramas e garantir que cada etapa esteja conectada com a ideia final. Essa etapa, que costumava ser a mais demorada, hoje se torna mais ágil e colaborativa, e isso libera tempo para o que realmente importa: pensar.
Mas é na pós-produção que a IA mostra sua força. Em vez de refazer uma cena completa por causa de um detalhe, a IA entra para limpeza de fotos e vídeos, inserção de objetos e até criação de transições e efeitos visuais em filmes publicitários. O que antes exigiria horas extras de set, ou retrabalho caro, agora se resolve com precisão digital. A tecnologia não acelera apenas o processo, ela evita desperdício, seja de tempo, de orçamento ou de energia criativa.
O CGI entra como uma segunda camada dessa revolução. Ele permite criar imagens inteiras em ambientes digitais ou combinar o melhor dos dois mundos. Muitas vezes clicamos o produto em estúdio e adicionamos a ambientação via CGI, criando cenários que seriam inviáveis financeiramente ou logisticamente, como um smartphone em uma praia isolada ou um fone de ouvido flutuando em um espaço surrealista de luz e reflexos. Em outras, o CGI assume a cena por completo: produtos, texturas, sombras e reflexos são construídos dentro de softwares 3D com realismo absoluto. Quando isso acontece, a pergunta deixa de ser “onde vamos filmar?” e passa a ser: “qual universo vamos construir?”.
E aqui está um ponto essencial: nem toda campanha precisa de IA ou CGI. A tecnologia é uma possibilidade, não uma imposição. Existem clientes que chegam entusiasmados para explorar o digital, prontos para testar soluções híbridas. Outros valorizam o set, o contato humano, o imprevisto da locação real. E tudo bem. Como produtora, nosso papel não é convencer alguém a usar IA ou CGI. Nosso papel é apresentar caminhos. Se o cliente optar por uma abordagem tradicional, a qualidade do filme ou das fotos não diminui. A diferença está na estratégia, não na excelência. No fundo, o futuro da publicidade não é digital versus real. É digital combinado com o real, quando faz sentido.
Hoje, posso afirmar que não trabalhamos com IA e CGI para mudar o jeito de criar. Trabalhamos com IA e CGI para aumentar o alcance do que podemos imaginar. Quando o cliente está aberto, a criação deixa de ser apenas produção e se torna exploração. Quando optamos pelo caminho tradicional, continuamos fazendo o que sempre fizemos: boa publicidade, com pessoas, câmera, luz e histórias. Esse sempre será o objetivo a ser cumprido. A diferença é que agora podemos ir ainda mais longe.