Nas empresas, criamos estruturas eficientes, metas ambiciosas, métricas de engajamento. Mas algo essencial se perdeu: a presença.
Por Wilson Medeiros
Nas empresas, criamos estruturas eficientes, metas ambiciosas, métricas de engajamento. Mas algo essencial se perdeu: a presença. Algo que está ligado ao encantamento, à capacidade de se emocionar ao contribuir, se importar de verdade, ouvir sem pressa Vivemos um momento paradoxal: nunca estivemos tão conectados —e tão solitários. Aplicativos conversam conosco. Avatares nos respondem com empatia programada. Interfaces amigáveis imitam escuta, acolhimento e até afeição. Uma pesquisa recente da Harvard Business Review revelou que, em 2025, a busca por terapia/companhia no chat gpt superou a procura por ideias e chegou ao topo das funções mais utilizadas na IA. Entre os recursos mais citados estão justamente aqueles que antes envolviam interação humana: suporte emocional, conselhos, companhia. Mark Zuckerberg, por sua vez, não demorou a declarar que vai investir em IAs de amizade digital, como uma “solução” para a crescente epidemia de solidão no planeta. Mas não seria justamente o contrário? Quanto mais tecnologia, menos contato humano? A IA entrou de vez em nossas vidas e nos ajuda em zilhões de tarefas. Mas ao mesmo tempo em que automatiza e impressiona, revela um vazio: o da presença real. O toque que não se programa. O tempo compartilhado ao vivo. Nas empresas, essa ausência se faz sentir. Criamos estruturas eficientes, metas ambiciosas, métricas de engajamento. Mas algo essencial se perdeu: a presença. E não me refiro apenas à presença física, mas emocional. Algo que está diretamente ligado ao encantamento, à capacidade de se emocionar ao contribuir, se importar de verdade, ouvir sem pressa. Estamos substituindo conversas por comandos, lideranças por performances, relacionamentos por respostas automáticas. Cresci numa geração em que trabalhar era um verbo carregado de sentido. Aos 6 anos, comecei a colaborar com o que podia. Décadas depois, sigo observando, e me inquietando. O cansaço que vejo hoje não é apenas físico ou mental. É afetivo. É fruto de uma cultura que valoriza o discurso e esquece o gesto. Que aplaude o sucesso, mas esconde a solidão dos bastidores. O problema do EGO corporativo é que ele performa bem, mas se recusa a se vulnerabilizar. Ele cria líderes que falam sobre propósito, mas nem sempre ouvem seus times. Gestores que repetem mantras de escuta ativa, mas têm agendas intransponíveis. Que podem ter reuniões presenciais, mas nunca estão inteiros. É aí que a presença faz diferença. Não a presença do crachá, do cargo ou do post bem escrito. Mas aquela que acolhe, reconhece e respeita a complexidade do outro. Sim, o mundo mudou. Sim, estamos cansados. A pressão é real. Mas talvez o maior colapso do nosso tempo corporativo não esteja nas metas inatingíveis ou nos modelos de negócios defasados. Está nesse desencanto. No afastamento entre o que se sente e o que se entrega. Fico me perguntando: Quando foi que contribuir deixou de nos emocionar? Quando ceder espaço ao outro passou a ser visto como fraqueza? Como disse um líder espiritual que admiro, precisamos de mais humildade, não como submissão, mas força consciente. A IA pode — e deve — ser uma aliada. Mas que ela não ocupe o espaço das relações. Que ela não seja a única voz a nos responder quando perguntamos: “Está tudo bem com você?”. Porque se começarmos a confiar mais nos algoritmos do que nos abraços, perderemos aquilo que nenhuma inovação pode devolver: o afeto espontâneo. A amizade desinteressada. A escuta verdadeira. Por isso, minha mensagem pode até soar ingênua, mas é real: encante-se novamente. Não pelo cargo, meta ou o feed do LinkedIn. Encante-se por ajudar alguém a crescer. Por ouvir com tempo. Entregar com verdade. O futuro seguirá nos cobrando entregas. Mas a pergunta é: que tipo de pessoas queremos ser nesse novo mundo? Que tipo de líder? Que tipo de ser humano? Talvez a resposta não esteja em sermos mais eficientes. Mas mais presentes. Mais reais. Quero, portanto, reforçar a mensagem que aprendi na prática: o mundo real precisa de gente real. E, mais do que nunca, carece de líderes que amem o que fazem, e o façam com humildade. É sobre compromisso com o que é essencial. E essencial é aquilo que, quando nos falta, nada mais compensa.