Fundamental para a expansão e consolidação do portfólio premium da empresa global de bebidas alcoólicas no Brasil, Paula Lindenberg tem se destacado com presidente da Diageo
Por Ney Ayres
A executiva Paula Lindenberg se destacou como uma figura-chave na Diageo, empresa global de bebidas alcoólicas, especialmente por sua atuação como presidente da Diageo para o Brasil, Uruguai e Paraguai até recentemente. Sua liderança foi marcada por uma profunda compreensão das particularidades do consumidor brasileiro e do dinâmico mercado local. Durante sua gestão, Paula Lindenberg foi fundamental para a expansão e consolidação do portfólio premium da Diageo no Brasil. Com marcas icônicas como Johnnie Walker, Smirnoff, Tanqueray e Gordon’s, a estratégia sob sua liderança focou não apenas em vendas, mas em construir conexões mais fortes com os consumidores, adaptando o posicionamento global dessas marcas à cultura e às tendências de consumo locais.
Ela foi uma defensora ativa da inovação e da diversificação de produtos, impulsionando o crescimento em categorias como gins e bebidas prontas para beber (RTDs), que ganharam força no país. Além disso, Paula Lindenberg sempre enfatizou a importância da agenda de sustentabilidade e consumo responsável, alinhando as iniciativas da Diageo no Brasil às metas globais da companhia. Sua contribuição ajudou a Diageo a navegar em um mercado complexo, fortalecendo a presença da empresa e impulsionando o crescimento de suas marcas de prestígio no cenário brasileiro de bebidas. Veja a entrevista que foi realizada no Final World Class Brasil, a principal competição de coquetelaria do mundo realizada em São Paulo.
THE PRESIDENT _ Você era muito conhecida no mercado de serviços, trabalhou bastante nessa área. Agora está à frente de uma empresa que atua com destilados. Sentiu alguma diferença? Como foi essa adaptação?
Paula Lindenberg – Nossa, estou me divertindo muito! Sempre gostei desse segmento. Fui 20 anos de AMBEV, cresci no marketing, tive a oportunidade de trabalhar no Brasil e fora, de crescer dentro da companhia. Agora, na Diageo, é uma oportunidade incrível de conhecer um outro segmento, que tem mais flexibilidade no sentido da cocriação com bares e restaurantes. Adoro a ideia de que o nosso produto não está pronto — entregamos nossas garrafas, mas quem coloca a criatividade é o bartender, criando coquetéis e drinks. Essa flexibilidade tem trazido muitas possibilidades e ampliado nosso público. Estou muito animada com essa nova fase – com muitas ideias, aprendizados e possibilidades.
Há quanto tempo você está na Diageo? E como tem sido esse desafio de liderar, como mulher, uma empresa de destilados, historicamente um setor muito associado ao público masculino?
PL – Três anos e meio. É engraçado, porque quando pensamos nas possibilidades de crescimento das bebidas alcoólicas no Brasil, talvez a maior frente de crescimento esteja justamente no consumo entre mulheres. Em geral, as mulheres ainda consomem menos bebidas alcoólicas do que os homens, com menor frequência e em menor quantidade. Então, entender esse público e desenvolver produtos, comunicações e inovações adequadas, tanto do ponto de vista físico quanto emocional, é uma oportunidade enorme. Não que os homens não possam fazer isso, mas um time diverso, que represente melhor a sociedade que queremos servir, terá mais condições de entender o consumidor e propor soluções que façam sentido. Na Diageo, 56% das posições de liderança são ocupadas por mulheres. Isso traz riqueza de conversa, de experiências, de pontos de vista. Pode não ser a solução mais rápida, mas provavelmente é a mais efetiva. Estou adorando essa jornada de escuta, de crescimento, inovação e construção de marca.
Antes, as empresas empurravam os produtos ao consumidor por meio da propaganda. Agora, parece que vocês estão ouvindo mais o que o consumidor quer.
PL – Sem dúvida. A empresa que estiver mais próxima do consumidor e dos parceiros comerciais vai se sair melhor. É preciso reconhecer o que está mudando e ter flexibilidade para se reorganizar. Por isso, incentivo muito a curiosidade dentro da Diageo — estar atrás do balcão, com a equipe de vendas, nas diferentes regiões do Brasil, como o Nordeste, Minas, Rio, Sul, São Paulo. Essa proximidade nos permite traduzir os insights em testes, experimentações e novas possibilidades. Estar perto de onde as coisas acontecem é fundamental.
E falando em crescimento, como está o mercado de bebidas premium no Brasil?
PL – Nos últimos 10 anos, as marcas premium cresceram três vezes mais do que as marcas mainstream. O consumidor não quer necessariamente beber mais, mas quer priorizar a qualidade, valorizar a experiência, buscar um encaixe social. Nosso portfólio se encaixa muito bem nesse movimento.
E esse crescimento é regionalizado ou acontece no Brasil inteiro?
PL – O crescimento é consistente no país todo. É claro que os grandes centros urbanos têm uma participação maior, por conta da renda per capita, mas vemos esse movimento em todo o Brasil. E o Nordeste, por exemplo, é incrível! O consumo de whisky lá sempre foi alto, com muita criatividade — misturado com frutas, água de coco… Adoro ir para o Nordeste, observar como as pessoas consomem, temos muito a aprender com isso.
E os jovens? Estão bebendo menos?
PL – Há muito burburinho sobre isso – que os jovens não querem mais beber. Mas, quando olhamos os dados, não vemos essa tendência. O consumo de álcool segue crescendo ao longo dos anos. Há mais jovens entrando na categoria, e mesmo que eles bebam com menor frequência ou volume por ocasião, o consumo total aumenta. Por exemplo, a Diageo dobrou de tamanho desde 2019, e pretendemos dobrar novamente nos próximos anos. Mas isso precisa ser feito com responsabilidade. Nosso foco é o consumo consciente, não abusivo. Sustentabilidade do negócio passa por fazer com que as pessoas se divirtam, celebrem, criem memórias — não por incentivar exageros.
Me fale sobre o consumo de cachaça e tequila. E as empresas vendem cachaça também?
PL – Sim! Temos a marca Ypióca, com fábrica no Ceará. Queremos fomentar o consumo por meio da caipirinha — o drink mais conhecido do Brasil. Temos uma diversidade enorme de frutas, o que nos dá possibilidades infinitas. Já a tequila, muitos ainda associam àquele shot de antigamente. Mas nos EUA e Europa, a tequila que cresce é mais sofisticada, para ser degustada ou usada em drinks como margarita e paloma. Queremos trazer essa versão para o Brasil. Ainda é um mercado pequeno, mas bares e restaurantes mais sofisticados já estão replicando esse movimento. Não queremos que a tequila exploda de uma hora para outra, mas sim mudar a percepção – mostrar que é possível ter uma tequila de qualidade, consumida com consciência.