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Preço do carro no Brasil: é caro e tem razões para isso

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Preço do carro no Brasil: é caro e tem razões para isso

Por Alysson Diógenes, engenheiro eletricista, doutor em Engenharia Mecânica (UFSC), é professor do Mestrado e Doutorado em Gestão Ambiental da Universidade Positivo

 

Muito se tem falado sobre o preço dos carros de passeio no Brasil. Aliás, o assunto não é novo. Desde meados da pandemia, tendo como “culpada” a escassez de componentes eletrônicos, o preço dos carros só tem aumentado – e muito acima da inflação. Segundo a revista Exame, de 2019 a 2023, o preço dos carros aumentou, em média, 90%. No mesmo período, o IPCA – Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – foi de menos de 30%.

Por mais que seja difícil defender as montadoras ou o governo e seu apetite cada vez maior por impostos, burocracia e arcabouço fiscal confuso, é pouco provável que esses sejam os vilões da vez. Olhando os dados gerais do preço de um carro e comparando com alguns anos atrás, quando o valor do dólar era semelhante, não encontramos grandes diferenças no mercado, exceto uma que passa despercebida: a legislação ambiental. 

Longe de ser algo negativo, o Brasil tem adotado cada vez mais medidas restritivas às emissões de gases dos veículos desde os anos 80, por meio do Programa de Controle de Emissões Veiculares (Proconve) para carros, e seu equivalente para motocicletas, o Promot. Isso traz muitos benefícios para a população, como cidades menos poluídas, ar mais limpo e menos emissões de gases causadores de mudanças climáticas, em especial os chamados NOx, que são misturas de nitrogênio e oxigênio responsáveis por chuvas ácidas e causadoras de grandes prejuízos ao meio ambiente. Essas misturas são formadas pelo nitrogênio presente no ar ou por contaminantes presentes em qualquer tipo de combustível – mesmo os de melhor qualidade (nem vou falar nos adulterados). Assim, reforço que a regulação das emissões é positiva para o País e para o mundo.

Por outro lado, essa regulação não vem sem um preço. Todo carro emite gases. Mesmo o carro mais bem regulado e abastecido com o melhor combustível emite dióxido de carbono e, em algumas condições, os NOx (pois o ar tem nitrogênio e oxigênio). Então, se não é possível regular a entrada desses gases, trabalha-se na saída. São utilizados catalisadores para que o gás do escapamento esteja de acordo com as normas do Proconve, tanto as atuais como as que vão entrar em vigor na próxima fase, a L8 – cada vez mais restritiva. Esse é um fenômeno mundial.

Aqui surge mais um problema: os catalisadores estão ficando cada vez mais caros. Esses componentes utilizam minerais preciosos, como platina, paládio e ródio. O ródio, por exemplo, é minerado apenas na China (logo, importado para o Brasil) e seu preço tem subido cada vez mais. Em cotação de junho de 2023, o grama de ródio estava custando US$ 173! Sem falar nos valores dos demais minerais. Estima-se que o catalisador tenha um preço similar ao do motor do carro para as montadoras. Assim, quando o consumidor compra um veículo, está pagando por dois motores: um que move o carro e outro que regula as emissões. Nem falei nas demais tecnologias agregadas ao longo do tempo, como telas, sensores e todo tipo de eletrônica importada – todas com alto custo. Em suma, o carro está mais caro meramente porque as peças mais modernas custam mais. É um caminho sem volta.

Mais um elefante foi posto na sala. Há soluções? Várias. Poucas a curto prazo. Uma indústria nacional forte, não alimentada por incentivos fiscais, mas, sim, competitiva e capaz de concorrer com fornecedores externos; logística eficiente em todos os seus níveis; legislação trabalhista e fiscal clara e pouco burocrática; estabilidade na economia e na política. Não há indícios de que se caminhe para alguma dessas medidas ser implementada. Enquanto isso, o consumidor que se acostume. O preço dos carros não vai baixar.