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Vendas não são tudo, mas dizem tudo

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Vendas não são tudo, mas dizem tudo

A venda é o que aparece no extrato, mas é a ponta do iceberg de uma cadeia de decisões e comportamentos que raramente são analisados com profundidade

Colaboração de Julio Amorim, CEO da Great Group

Em todas as minhas experiências com empresas em momentos críticos, existe uma constante: a angústia por vender mais. Quando perguntamos ao empresário qual seria o seu único desejo, se pudesse contar com um “gênio da lâmpada”, a resposta quase sempre é aumentar vendas. Isso diz muito sobre como o mercado ainda trata o resultado como causa, e não como consequência. A venda é o que aparece no extrato, mas é a ponta do iceberg de uma cadeia de decisões e comportamentos que raramente são analisados com profundidade.

Ao olhar para empresas com dificuldades, o que encontramos com frequência são operações desorganizadas, times desengajados, ausência de processos claros e, principalmente, líderes que perderam a conexão com o propósito. Há quem pense que o sucesso de uma empresa está apenas em boas metas, mas a equação que aprendi na prática é outra: sucesso é planejamento mais gente. Um plano sem pessoas engajadas é papel sem alma. Pessoas engajadas sem plano são energia sem direção. É da combinação desses dois pilares que surgem os negócios saudáveis.

Vendas são, sim, determinantes. Não à toa, costumo dizer que elas representam a esperança da empresa. Quando a equipe comercial perde o brilho no olhar, o desânimo contamina todo o organismo empresarial. A área comercial não pode se dar ao luxo de não acreditar. Vendedores de alta performance não são apenas técnicos, são portadores de fé. Fé no produto, fé no cliente, fé de que o próximo pedido está a caminho. A falta de esperança na venda é o sintoma mais claro de que o paciente empresarial entrou em colapso. Como diz o criador do MVM (Maior Vendedores do Mundo) Marquinhos Malaquias: – “Vendas começa pelo “V” de Visão, o vendedor precisa ter clareza dos seus objetivos”.

Mas, ainda assim, vendas não são tudo. Vender muito sem estrutura para entregar gera frustração e quebra reputações. Da mesma forma, um produto excelente sem um time comercial preparado não chega a lugar algum. Por isso, gosto de analisar os negócios a partir do comportamento das pessoas. A visão de dono, por exemplo, é um fator que diferencia quem apenas executa de quem realmente constrói. Um colaborador que desliga a luz da sala antes de sair pode parecer detalhe, mas revela algo muito mais profundo: conexão com o todo, com o resultado coletivo, com a sustentabilidade do negócio.

Já vimos muitos talentos sendo desperdiçados por estarem na função errada. Perfis criativos em cargos analíticos. Perfis de execução em áreas que exigem escuta ativa e empatia. Empresas que investem em autoconhecimento e em ferramentas de mapeamento comportamental têm uma vantagem competitiva imensa. Não se trata de rotular, mas de dar consciência. Quando um profissional entende como funciona, ele se posiciona melhor, se comunica com mais clareza e entrega com mais consistência. E líderes que entendem isso tomam decisões mais humanas, assertivas e sustentáveis.

Nem todo profissional que questiona é um problema. Há quem tenha a habilidade de apontar falhas com precisão, mesmo sem oferecer soluções de imediato. Esse tipo de perfil, quando bem direcionado, pode ser essencial em processos de planejamento. Saber por que algo pode dar errado é tão valioso quanto vislumbrar os caminhos para que tudo dê certo. Ao invés de rotular esses perfis como negativos, o ideal é integrá-los estrategicamente, equilibrando otimismo e criticidade dentro dos planos de ação.

Empresas são feitas de gente, não de organogramas. E gente engajada é aquela que compartilha não só os sucessos, mas também os problemas. Líderes que dividem desafios abrem espaço para soluções coletivas. E nesse processo, as reputações são construídas. Não pelo discurso, mas pela atitude. A reputação não se constrói da noite para o dia, mas se destrói num piscar de olhos. O profissional que entrega além do esperado, que se antecipa às demandas, que cumpre o combinado mesmo quando ninguém está olhando, é o profissional que deixa legado. E o legado é o que permanece quando os resultados já não estão mais nos relatórios.

O mercado está cheio de boas ideias, de produtos inovadores, de planos mirabolantes. Mas o que faz uma empresa de fato prosperar é a capacidade de executar com constância, com propósito e com pessoas certas nos lugares certos. E para isso, é preciso ter coragem de olhar para dentro. Conhecer o perfil do time, desenvolver as lideranças, escutar quem está na operação, ajustar rotas com humildade e, principalmente, manter viva a chama da esperança na venda. Porque as vendas não são tudo, mas dizem tudo sobre como anda a saúde da empresa.