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Moda masculina

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ENTREVISTA

Moda masculina em ascensão

Com perspectiva de faturamento de R$ 1 bi, Aramis se torna uma House of Brands, aposta em sustentabilidade e tecnologia através da mão do CEO Richard Stad, personagem desta entrevista

Com um portfólio atual de 480 mil clientes e perspectiva de faturamento de R$ 1 bilhão em 2026, a Aramis se destaca, atualmente, como uma das principais referências do mercado nacional de moda masculina. Os números são superlativos. Ao lado do Galã Cauã Reymond, que auxilia na cocriação de peças e na pegada sustentável da companhia, são 120 lojas e 1.200 multimarcas, com perspectiva de alcançar 200 lojas e 1.500 multimarcas.

À frente destes feitos está Richard Stad, que trilhou uma jornada notável dentro da companhia. Sua dedicação e visão estratégica o levaram a explorar oportunidades únicas, que vão desde investimentos em startups ao desejado curso OPM (Owner/President Management) em Harvard, que enriqueceu ainda mais sua perspectiva e habilidades de gestão.

Sua abordagem inovadora e voltada para o futuro tem sido fundamental para a evolução constante da empresa, que passou de 14% de crescimento anual para a dobra de faturamento entre 2019 e 2023, com a contratação de pelo menos 100 profissionais.

Conversamos com Stad em uma entrevista exclusiva, em que ele compartilha os insights por trás de suas estratégias, descreve como a marca pretende moldar o futuro do varejo masculino se tornando “o destino nº1 de lifestyle dos homens”.

Loja Aramis no Shopping Pátio Paulista, em São Paulo. Uma das 120 monobrand stores da grife
Loja Aramis no Shopping Pátio Paulista, em São Paulo. Uma das 120 monobrand stores da grife

THE PRESIDENT - Como você descreveria a jornada que o levou de estagiário na Palm para CEO da Aramis? Quais foram os principais desafios e aprendizados ao longo desse caminho?

Richard Stad – Bom, essa jornada de estagiário da Palm para CEO da Aramis não foi uma jornada linear. Você sai de estagiário da Palm e vai para uma companhia que já funciona e existe, a primeira lição é ter humildade e pé no chão para saber que você acabou de chegar no negócio e tem muito a aprender. Então, o 1º ponto para mim foi ter curiosidade, tentar aprender o máximo possível e ter a inquietude de também olhar para as coisas e entender que funcionou de uma maneira, mas poderia funcionar diferente.

Ao mesmo tempo, o meu outro papel que eu enxerguei na época e enxergo até hoje, é ser um facilitador do meu negócio. Quando eu entrei, primeiro atuei no Estoque, depois cuidei de Multimarcas e do Marketing, em seguida quis ir para as lojas – estava todos os dias de manhã no escritório e à tarde nas lojas -, depois fui para os Canais de Distribuição, enfim, fiz um processo de ir passando pelas áreas. Além disso, também tenho um alinhamento muito forte com o meu pai, fortalecemos ainda mais nossa amizade durante esse processo, o que me possibilitou realizar o Roadshow para vender uma parte minoritária da companhia e ele concordar com isso.

Então, como principais aprendizados, eu colocaria os elementos de curiosidade, respeito e conexão para poder se enxergar nessa jornada. Além de, claro, muito autoconhecimento no processo de desenvolvimento pessoal para chegar em uma cadeira tão grande quanto ser CEO de uma companhia. Eu tenho uma teoria de que o DNA do negócio, a essência, a alma, é a mesma de sempre. O que eu fiz foi uma construção em cima desse DNA, dessa essência, passando por várias transformações e chegando até o dia de hoje.

Em 2010, você assumiu a área comercial e de marketing da Aramis. Como foi liderar essa área e quais estratégias foram implementadas para impulsionar o crescimento da empresa?

Eu assumi, na verdade, a área Comercial e de Marketing depois de três meses na companhia. A pessoa responsável na época acabou saindo e eu tive que rapidamente assumir, me desenvolver e participar. Obviamente eu tive uma transição com o Henry, meu pai, durante o processo, com todo o aprendizado que ele tinha.

Em 2010, por ter tido a experiência do atacado e do varejo, eu consegui ter um olhar mais holístico para os canais de multimarcas e de varejo, além das franquias, que passamos a impulsionar nesse período. Na época, as estratégias de comunicação eram realmente diferentes das atuais. Nós tínhamos um desafio de levar percepção de marca para o Brasil – hoje em dia ainda mais pela distribuição que a gente tem – mas entendendo como nós faríamos para manter um crescimento e um aumento de percepção. Eu estou falando de 2010, 14 anos atrás, mas eu assumi a área de Comercial e de Marketing por uma necessidade, que acabou virando uma grande oportunidade.

Em 2014, você se tornou CEO da Aramis. Quais foram suas principais prioridades ao assumir esse cargo e como você liderou a empresa durante momentos-chave, como o rebranding em 2020?

Em 2014, depois de ter feito do Roadshow, eu assumi a presidência. Cheguei com um olhar – que eu faço até hoje, por sinal – de governança. Eu costumo falar que uma empresa que tem DNA familiar, mas uma governança corporativa estruturada, é o melhor modelo existente. Isso porque você mantém uma essência e, ao mesmo tempo, provoca a companhia a ter uma qualidade de gestão, de governança, de estratégia, de robustez muito relevante.

Então, desde que assumi a presidência, foi um processo de muita evolução da companhia. Nós tivemos que fazer uma grande expansão de lojas, muitas contratações para organizar a companhia durante o processo, além de, ao mesmo tempo, crescer o canal de franquias e construir uma companhia que, até 2014, era gerida de uma outra maneira. O importante para mim, nesse sentido, foi entender qual era a minha cultura. No final, não tem cultura certa e errada, tem a cultura que você se identifica. Então, uma das minhas prioridades foi ter essa jornada interna de entender quem eu sou, qual é a cultura que eu quero montar e qual tipo de time eu gostaria de construir.

Imagine que toda organização é um sistema complexo, gerido pelas relações humanas. Quando você quebra um sistema, você traz um choque para a companhia e eu entendi que, mesmo mantendo a essência, ela tinha que criar uma identidade própria muito alinhada aos meus valores e o que eu acredito que poderia trazer de diferencial para o futuro dela. Então, um dos momentos-chave obviamente foi esse, e depois, o rebranding.

Antes da pandemia, nós crescíamos uma média de 14% ao ano, o que é bom, mas também aprendi que pode não ser tão bom, porque você não vai transformar algo que vai muito bem com consistência. Você faz mudanças graduais, mas mudanças graduais não são percebidas pelo consumidor. Quando veio a pandemia e mostrou todas as fragilidades do negócio, foi uma oportunidade de olhar para dentro e falar “eu sei o que eu quero fazer, é um processo de transformação complexo, mas eu acredito muito que isso vai fazer a Aramis se transformar em uma nova companhia”.

De 2019 para 2023, nós praticamente dobramos a Aramis em faturamento. Isso mostrou que, ainda que na época a Aramis tinha 25 anos e um crescimento estável, a potência do negócio era muito maior. Isso exigiria passar por algo transformador, que foi mudar o posicionamento, logo, comunicação, layout de lojas, contratar 100 pessoas durante a pandemia para refazer a área de Marketing, de Digital, de Tecnologia, entre outras coisas.

Hoje, estamos fazendo esse novo ciclo de novo, porque, no final, o desafio de se manter sempre ativo e relevante é o constante questionamento. O que te levou a um certo ponto não vai te levar para o próximo, mas esse aprendizado te impulsiona a pensar na próxima transformação que cada um precisa fazer para se manter atual e relevante em um mercado tão dinâmico quanto o nosso. 

A transformação da Aramis em uma house of brands, com o lançamento da Urban Performance em 2022, marcou um ponto importante na história da empresa. Como essa decisão foi tomada e qual tem sido o impacto dessa expansão no mercado?

A ideia de transformar a Aramis em Aramis Inc, ou seja, montar uma house of brands, veio de um entendimento de que existia um plano de expansão bem robusto para a Aramis. Nós enxergamos a marca chegando a 200 lojas e 1500 multimarcas, hoje estamos com 120 lojas e 1200 multimarcas, além de uma grande oportunidade de crescimento no digital. Com isso, surgiu a curiosidade de pensar, até pela qualidade de governança e estrutura que a gente tem, no lançamento de novas marcas.

Em 2018, eu viajei para os Estados Unidos e conheci o conceito de athleisure, onde você consegue misturar tecidos de esporte com moda e lifestyle. Eu pensei: “obviamente, isso aqui é a próxima tendência mundial”. E o interessante é que, na verdade, a gente começou a construir a Urban Performance pré-pandemia. Quando a pandemia chegou, nós olhamos para a Aramis e entendemos que, antes de mexer e lançar a Urban Performance, nós precisaríamos reconstruir a Aramis”.

Assim, nós fizemos o rebranding em Aramis e usamos os produtos da Urban Performance como uma linha para testar por um ano nas lojas e entender se tinha apetite de mercado, preço, produto. A linha da Urban Performance foi um sucesso de venda muito grande e, com isso, aprendemos mais sobre a marca, reconstruímos o posicionamento do zero com a agência e lançamos em 2022.

Então, já com o entendimento de que esse é o primeiro de novos lançamentos que faremos, tinha uma vontade muito grande de fazer algo que quase ninguém fez no Brasil e sermos pioneiros neste movimento. A Urban Performance veio nesse lugar de quiet luxury tecnológico, com produtos sofisticados, com inovação, tecnologia e funcionalidade para o dia a dia.

Urban Performance, marca pertencente à Aramis Inc

Você é conhecido por ser um investidor em startups. Como essa experiência influenciou sua abordagem como CEO da Aramis e quais são os critérios que você considera ao investir em novos empreendimentos?

Eu gosto de investir em startups e, na verdade, eu acho que a diversificação é sempre algo muito interessante. Então, eu sempre olho startups em segmentos que eu acredito que têm boas oportunidades e bons empreendedores, porque no final, ideias muita gente tem, o desafio é achar empreendedores com o poder de execução.

Hoje, eu tenho hoje umas 10 startups investidas, mas também invisto em fundos de Venture Capital, que fazem um trabalho de funil muito bom para poder escolher ainda melhor os ativos. Eu gosto muito de acompanhar as startups que estou, porque é um privilégio você poder aprender com novos setores e com novas maneiras de como operar um negócio. Quando você tem um negócio como a Aramis, já tão robusto, é muito interessante estar perto das startups, empresas que estão questionando o status quo, porque isso é sempre aplicável para a nossa realidade e faz a gente pensar diferente. Então, eu continuo investindo em empresas que eu acredito que têm espaço no mercado, têm um diferencial competitivo e têm um time de empreendedores que acreditam no sonho e conseguem transformar o sonho em realidade.

Em 2023, você iniciou o curso OPM (Owner/President Management) em Harvard. Como essa experiência tem influenciado sua visão estratégica para o futuro da Aramis e quais insights valiosos você trouxe para a empresa a partir desse programa?

Eu penso em fazer o OPM desde 2019, porque tenho muitos amigos que fizeram, mas sempre tive aquele sentimento de “vou esperar a Aramis ser um pouco maior”, e fui empurrando a inscrição. Na pandemia, eu percebi que não existe a hora certa, tem que se inscrever e fazer as coisas acontecerem.

Eu fiz a 1ª unidade em maio de 2023, a 2ª fiz agora em 2024 e eu termino a graduação em 2025. Várias coisas me chamaram a atenção no OPM, até porque é um curso especializado para presidentes de companhia, então você está com 180 pessoas do mundo inteiro, estudando 40 estudos de casos de negócios super interessantes.

Você tem uma prévia do estudo, que promove uma reflexão muito grande. Depois você debate com as pessoas do seu grupo de estudo e depois debate em sala de aula. Então, você consegue ter visões distintas sobre o mesmo estudo de caso e percepções diferentes sobre isso.

Tiveram, pelo menos, cinco grandes aprendizados que eu tive na 1ª unidade que eu já trouxe para a companhia e estamos trabalhando em cima disso. Uma coisa muito positiva de quando você vê tantos negócios em tantos países, é que, de alguma maneira, te dá uma energia de querer fazer mais. Acho que um insight valioso do OPM é que a gente pode pensar cada vez maior e se jogar no desafio de construir.

Então, óbvio, que temos aprendizados de Marketing, de estratégia, de negociação, coisas muito interessantes para você aplicar no seu dia a dia, mas acho que um dos mais valiosos insights foi esse olhar de que dá para fazer maior, dá para fazer melhor e dá para ter cada vez mais coragem. Eu gosto da palavra bold, para construir algo que te faz sentido e que te traz energia e empolgação.

A parceria com o ator e modelo Cauã Reymond trouxe uma nova dinâmica para a Aramis, especialmente em termos de tendências e sustentabilidade. Como essa colaboração tem contribuído para a identidade da marca e para o relacionamento com os clientes?

O Cauã foi uma grata surpresa! Nós nos conhecemos por meio do agente dele, que era um amigo pessoal meu, e ele trouxe esse lugar de querer cocriar. Não é só sobre um garoto propaganda, é sobre pensar sobre o negócio, sobre as coleções, trazer o olhar dele.

Isso foi muito importante, porque aconteceu no momento de reposicionamento de marca, nós estávamos reapresentando uma marca de tantos anos e ter uma chancela de um Cauã Reymond validando esse posicionamento e essa vontade de fazer parte da marca, foi uma das maiores vantagens da parceria com ele.

Estamos já desenhando a próxima collab e indo para um lugar cada vez mais de criação de conteúdo orgânico, então sim, nós temos as campanhas grandes juntos, mas entendemos que esse lugar de estar constantemente falando, usando e trazendo esse olhar organicamente para a marca e para base de seguidores, tanto dele quanto da Aramis, é um dos maiores potenciais que a gente nessa parceria.

Cauã Reymond estrela campanha de inverno 2024, que chega às lojas no próximo dia 19 de março

A Aramis tem avançado significativamente no ambiente digital, tornando-se um marketplace e investindo em tecnologias como IA e machine learning. Como essas iniciativas têm impactado a experiência do cliente e quais são os próximos passos nesse sentido?

Primeiro, eu acredito que seja mais do que sobre AI, machine learning, etc, é uma mentalidade de transformação da companhia para os dados. É sair de uma área específica de dados para que a companhia inteira seja data-driven, ou seja, esteja pensando em como os dados podem fazer com que a companhia seja mais eficiente.

E aí, temos um case muito interessante do OPM, da OYO, que é uma plataforma indiana que faz desde o booking dos hotéis que estão dentro da plataforma OYO, como também fornece a informação para que as companhias sejam mais eficientes, para que esses dados também ajudem os parceiros a serem mais competitivos. Então, eu vejo o Retail Tech não mais sobre ser Omnichannel, acho que isso já é uma realidade que todas as marcas irão fazer. Eu vejo o Retail Tech quando você consegue trazer dados para melhorar a experiência do cliente, simplificar a jornada dele e trazer mais personalização e customização. E, ao mesmo tempo, esses dados irem para dentro da companhia para fazê-la ser mais eficiente.

Quando você consegue fazer esses dados circularem para dentro da companhia e para jornada do cliente, é quando você consegue realmente se diferenciar no mercado. Não é sobre o machine learning, é sobre uma mentalidade de transformação de negócio, melhoria de jornada de experiência do nosso cliente e para que sejamos cada vez mais eficientes nas nossas tomadas de decisões.

A sustentabilidade é uma prioridade crescente para muitas empresas. Como a Aramis está abordando essa questão e quais são os planos futuros para tornar a marca ainda mais sustentável?

A sustentabilidade é algo que estamos trabalhando na companhia há alguns anos e eu tenho muito orgulho de ver a evolução que estamos construindo. Nós participamos do Índice de Transparência da Moda, do Fashion Revolution, há três anos. No 1º ano, ficamos em 17º lugar; no 2º ano, em 11º e, neste ano, ficamos em 7º lugar, mostrando que o trabalho que fazemos holisticamente na companhia tem sido muito positivo.

Eu costumo falar que quanto maior a companhia fica, mais responsabilidade nós temos como organização. Então, temos o nosso Comitê de Sustentabilidade, que trabalha com as áreas tanto de Produto e Fabricação, como também de Pessoas. Nós temos um plano consistente de evolução de negócio, de conscientização das pessoas e da nossa rede inteira da companhia, então é muito interessante ver a evolução, entendendo que isso impacta em uma visão de longo prazo do nosso negócio. Nós estamos lançando o 3º Relatório de Sustentabilidade, com todos os projetos que estamos fazendo, toda essa visão de companhia, de organização, e me traz um orgulho muito grande de ver essa evolução tão dinâmica nesses três anos. Além, claro, do mapa que estamos desenhando para os próximos cinco anos, entendendo que é um processo evolutivo e construtivo.

Olhando para o futuro, quais são suas principais metas e aspirações para a Aramis Inc.? Como você espera que a empresa continue a se destacar no mercado e a atender às necessidades em constante evolução dos consumidores masculinos?

Nós temos um objetivo muito claro: ser o destino nº1 de lifestyle dos homens. Isso traz um olhar de cultura, inovação e tecnologia. Então, quando eu olho para a Aramis e vejo o que tem por dentro, é o que mais me traz energia de querer continuar construindo e levando essa companhia para o próximo patamar. Eu percebo a qualidade do time que a gente tem, a cultura forte que a gente conseguiu construir, esses são os alicerces para levar essa companhia para o próximo nível.

Nós colocamos uma meta de chegar em R$ 1 bi de faturamento em 2026. Isso envolve uma evolução de Aramis, envolve uma aceleração de Urban Performance, envolve o lançamento de uma linha infantil da Aramis e toda a estrutura e a estratégia da companhia para potencializar o nosso negócio. Quando eu penso nas necessidades e na evolução do consumidor masculino, nós temos uma macro-convocação muito forte para os homens. Isso traz uma oportunidade de ser a marca que traz conhecimento, conteúdo, experiência, produto, tudo isso integrado. Por isso que falamos de destino, de lifestyle, e não a marca de produto. Nós entendemos que quando você tem uma base de consumidores, como a gente já tem 480 mil clientes, mais os clientes da multimarca, nós conseguimos criar algo de ainda mais valor para o nosso cliente. E por que lifestyle? Porque quando uma marca transcende o core dela, é quando você transforma algo em icônico. Quando nós vamos para calçados, joias, óculos – como a gente já está hoje 2 mil óticas no Brasil -, a minha visão é de levar algo já tão enraizado na companhia, que é sempre um bom produto, com moda e com design, mas atendendo o homem moderno e atual brasileiro.