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entrevista

Nem parece banqueiro

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Nem parece banqueiro

Expert em direito tributário e contabilidade, Robson Gimenes fundou um banco, o Shield Bank, que ajuda empresas a ganhar fluxo de caixa e escapar da bitributação

Por Luiz Maciel

A facilidade de lidar com números e a vocação empreendedora levaram Robson Gimenes a acumular experiências administrativas as mais diversas, enquanto tentava descobrir o que, de fato, queria fazer na vida. Entre outras atividades, ele trabalhou como advogado na área tributária, auditor e perito contábil. Investiu nos segmentos de transportes, combustíveis, alimentação, entretenimento e consultoria contábil. Com esse último, teve maior identificação, atuando nele por 18 anos. 

Em 2018, ao fundar o Shield Bank, ele acreditou finalmente ter encontrado um negócio duradouro – o que, evidentemente, não inviabiliza investimentos futuros em outras áreas, pois Robson está sempre de olho em novas oportunidades. O Shield Bank é voltado para pessoas jurídicas e presta assessoria financeira customizada aos clientes. Trata-se de um modelo de negócio único no mercado e, não por acaso, está em franco crescimento – uma vez que seu propósito é ajudar os correntistas a poupar dinheiro e ser mais competitivos.

THE PRESIDENT - Seu currículo indica uma formação bem eclética. Conte um pouco da sua trajetória até aqui.

Robson Gimenes – Um primeiro curso foi o de direito, com especialização na área tributária. Depois fiz ciências contábeis porque percebi que meu interesse estava mais na área contábil do que propriamente na advocacia. Esses dois cursos me credenciaram a fazer auditoria e perícia, que foi a minha principal atividade durante alguns anos. Quando construí uma reserva financeira, passei a investir em empresas e fiz os cursos de administração e economia.

Manteve um escritório de consultoria jurídica enquanto isso?

Sim, mas por pouco tempo. O que ainda mantenho é o escritório de auditoria e contabilidade, que é a semente do Shield Bank. Somos uma fintech voltada para pessoas jurídicas que precisam de projetos financeiros, porque pagam mais imposto do que deveriam. Fazemos o trabalho que os contadores têm de fazer e não fazem porque estão ocupados demais com os processos burocráticos das empresas.

Quando você entrou na faculdade de direito, já sabia o que queria fazer mais adiante?

Não. Na verdade, como sempre fui muito bom de exatas, fui agregando cursos nessa área e observando as oportunidades que se abriam para mim. Investi em empresas diversas, de distribuidora de combustível a rede de pizzarias, até fundar o Shield Bank, em 2018.

Fundou o banco sozinho?

Sim, comecei sozinho. Tive a ideia de criar o banco ao ver as dificuldades dos clientes para obter empréstimos nos bancos convencionais. Os bancos, em geral, impõem limites conservadores aos financiamentos. Vi que havia um mercado para oferecer empréstimos até 40% maiores do que as empresas conseguiriam num banco tradicional, como o Itaú, o Bradesco e o Santander. Como as coisas não são muito fáceis de montar e eu também não tinha nenhuma experiência na área bancária, o Shield Bank nasceu como uma securitizadora, antecipando recebíveis dos próprios clientes da contabilidade. Em 2019, José Eduardo Correa entrou para a sociedade. Na época, ele era um cliente da contabilidade e amigo. Então, passou a investir no projeto. Aos poucos, ele agregou muito com seu conhecimento de área comercial, tanto que foi o maior representante Vivo nacional e hoje é diretor comercial do banco. 

Aí virou um banco digital focado no atendimento a empresas?

Sim. Nosso propósito é proporcionar consultoria financeira e desenhar projetos estruturais a pessoas jurídicas, envolvendo todas as soluções de pagamentos e sistemas Shield. Evoluímos para isso num processo natural de crescimento, que incluiu a aquisição de meios de pagamento, que são as maquininhas de cartão, link de pagamento. Uso o meu conhecimento tributário e contábil para auxiliar os clientes  no desempenho financeiro junto ao banco.

Dê um exemplo prático de como o Shield Bank melhora o desempenho empresarial dos seus clientes, por favor.

No início, era o próprio fomento de crédito. O mercado de crédito sempre foi o maior gargalo do empresário. Nós visualizávamos que o cliente muitas vezes tinha uma operação saudável, que gerava lucro, mas os bancos estabeleciam um limite de crédito para a antecipação de recebíveis que não atendia a necessidade da empresa. Eu percebia que esse cliente poderia ter entre 30 e 40% mais de limite de crédito sem oferecer riscos.

Você chegou a intermediar a relação entre clientes e bancos antes?

Não. Até poderia, mas seria um negócio para credenciar cliente para outra instituição, que não seria minha. Para mim, não faria muito sentido.

Você criou o banco com uma reserva pessoal?

Sim, com capital que fui acumulando ao longo de 20 anos, de outros negócios. Comecei a empreender com 23, dois anos antes de me formar em direito. Hoje estou com 42

Começou com o quê?

Com 23 anos, montei uma corretora de combustível, que recolhia os pedidos de postos menores e repassava para uma distribuidora. Eu fazia essa intermediação e ganhava um spread do comprador e da distribuidora na operação. Depois, quando juntei dinheiro para comprar caminhões, virei transportador também.

Fazia corretagem e distribuía, ganhando nas duas pontas?

Isso mesmo. Com minhas reservas, comprei um caminhão à vista e financiei o segundo. Coloquei os dois caminhões para rodar, um copiando o outro. Cheguei a ter uma frota de 15, mas acabei vendendo a empresa porque o projeto estava me consumindo muito.

Foi investir em outra área?

Fiz vários negócios. Investi em restaurante, montei agência de marketing, comprei uma transportadora de carros importados.

E todos eles foram lucrativos?

Quase todos. Minha rede de pizzarias não deu muito certo. Na verdade, comprar uma pizzaria era um sonho de criança, por isso não lamento ter perdido dinheiro. Eu nasci numa família muito simples, com uma vida bem regrada, e lembro com carinho dos sábados em que meu avô chegava em casa com um disco de pizza e umas fatias de muçarela, colocava para assar e comíamos como se fosse a melhor coisa do mundo. Eu pensava: um dia eu vou crescer, vou ter dinheiro para comprar uma pizzaria e comer a pizza que eu quiser. Cheguei a ter cinco pizzarias, matei a vontade e passei o negócio adiante.

Era um desafio para você entrar em negócios tão diferentes?

Eu sempre gostei de ter mais de um negócio, em vários segmentos, exatamente porque, se um vai mal, o outro pode compensar.

Qual o tamanho do Shield Bank hoje?

Hoje nós temos um fundo de 65 milhões de reais e mais de 12 mil contas empresariais. O nosso diferencial é este: oferecer uma experiência financeira customizada, um projeto de conexão com a estrutura contábil dele. Eu dou a conta e o suporte para ele na relação com o contador. Nós formatamos um sistema para conversar com o sistema de contabilidade dos contadores.

Explique melhor essa vantagem oferecida aos clientes.

Por exemplo, eu tenho clientes que usam a máquina de cartão. Digamos que seja um restaurante franqueado que trabalha com a entrega de produtos. No delivery, ele tem uma escala de vendas, que inclui o motoboy, a franquia e a administração dos insumos do próprio negócio. O banco faz para ele toda a gestão desses recebíveis. Eu desenho um split de pagamento em que cada um recebe a sua parte conforme o pré-acordo que foi feito para a operação. Vamos supor que o preço do prato é de 100 reais, dos quais 20 são do motoboy. Quando o comprador paga o prato com o cartão, 20 vão automaticamente para o motoboy e os 80 restantes para o restaurante. Se o restaurante recebesse tudo para depois repassar os 20 para o motoboy, ele pagaria impostos sobre 100, em vez de 80. A nossa tecnologia evita essa bitributação. O iFood e Mercado Livre usam um split de pagamento como o nosso.

Ainda são poucas as empresas que usam essa tecnologia?

Bem poucas. O iFood faz porque possui um impacto forte nesse processo de pagamentos entre o restaurante e o motoboy. O Mercado Livre usa no seu marketplace, assim como outras empresas que investiram nas plataformas de vendas online. Mas a grande maioria das empresas não usa esse método e acaba pagando mais tributo do que deve.



Quer dizer que o mercado potencial é enorme.

No total, em 2019, eram 850 contas. Atualmente, temos uma base de 15 mil clientes ativos e 12 mil usuários do sistema de máquinas de cartão. O volume transacional está próximo de 1 bilhão de reais. Estamos captando novos clientes por mês sem nenhuma ação de marketing. Só com indicações dos que já são nossos clientes. Nosso Instagram é totalmente institucional. Não é uma ferramenta de venda. As vendas são feitas por nossa equipe comercial, que trabalha ativamente, visitando potenciais clientes. Nossos gerentes tinham essa mesma posição no Safra, no Santander, no Bradesco, e vieram para a nossa carteira por acreditarem no projeto. Aqui o fixo deles é menor, mas o que ganham com comissões dobra ou triplica o salário de antes. Hoje o nosso movimento, só com a antecipação de recebíveis, está em torno de 40 milhões de reais por mês.

Quais os planos para o futuro?

Acabamos de montar um projeto de expansão. A ideia é que a Shield contribua para o crescimento do mercado financeiro, a qualidade de serviços aos clientes. Vamos investir em alguns escritórios de contabilidade para montar uma agência do nosso banco dentro do negócio deles e aí gerar uma ferramenta em que o próprio banco leva o cliente para a contabilidade e a contabilidade consegue remunerar em cima da própria carteira. Vamos investir também em sedes físicas, contrariando a tendência atual do mercado.

Como assim?

Veja, o Itaú, o Bradesco e o Santander, que são as instituições mais tradicionais, começaram a digitalizar as operações exatamente pela pressão que tiveram do Nubank, C6 etc. Nós nascemos no digital e estamos indo para o físico agora, porque acreditamos que as sedes que iremos montar serão um novo diferencial para fidelizar nossos clientes e atrair novos correntistas. Estamos montando uma sede no World Trade Center, aqui, em São Paulo, já montamos as agências Ibirapuera e Alphaville (um bairro nobre de Barueri, na região metropolitana de São Paulo) e, até o fim do ano, vamos abrir sedes no Rio de Janeiro e em Florianópolis. A ideia é ter uma base, uma agência física em cada estado, depois uma em cada capital, para prestar esse atendimento especial ao cliente, desenhando um projeto específico para cada um deles.

Precisa do físico?

Precisa. A relação no digital é muito solta. Não há do outro lado alguém que procure entender o negócio do cliente, fazer um raio X e falar onde a operação dele pode dar mais lucro se usar uma ferramenta adequada. Isso não tem no Nubank, não tem no C6.



O Shield Bank é remunerado em cada projeto?

Sim, porque oferecemos um acompanhamento customizado, que o cliente não encontra em outro lugar. Nós desenhamos ferramentas bancárias para atender desde uma padaria até uma grande indústria. Depende do tamanho e da complexidade de cada empresa.

Todos vão economizar mais do que estão pagando ao banco?

Muito mais. E em 100% dos casos