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Como se tornar um colecionador de arte? Encontre seu nicho, treine seu olhar e saiba por onde começar

Esta é a história de uma revelação seguida de um aprendizado. O arquiteto paulistano João Armentano se lembra de um amigo muito culto, que sempre o chamava para degustar um vinho de altíssima qualidade. Assim ocorria cada vez que comprava uma obra de arte. Durante os agradáveis encontros, o arquiteto, de olhar treinado e bom gosto, distribuía palpites sobre o lugar da casa onde deveria ser disposta a nova aquisição. Numa das noites, o parceiro hedonista mostrou a nova compra: uma tela de Rembrandt, nem mais, nem menos. Deslumbrado com a preciosidade, Armentano sugeriu que, por sua relevância, a tela deveria ocupar o ambiente mais nobre da casa, a sala da lareira.  

O anfitrião, de bate-pronto, rechaçou a ideia. “João, sabe quantas vezes vou a essa sala? Quase nunca.” E emendou dizendo que a pintura ficaria no corredor que dava acesso ao quarto dele, por onde passava várias vezes, todos os dias. 

“Aquilo foi uma lição para mim, uma evolução na minha maneira de pensar”, lembra Armentano. O Rembrandt era para ser admirado principalmente pelo dono. O amigo, claro, era um colecionador – e colecionar arte envolve paixão, seja para a própria contemplação, seja para compartilhar com a família e os amigos. Traduz algum status, é natural. O colecionismo é uma prática – e um prazer – particular, muitas vezes inefável, mas fascinante.

Ser fisgado pela arte é a melhor forma de começar. Na foto de abertura, trabalhos de Avaf. Acima, de Marcela Cantuária

A origem do colecionismo remonta aos séculos 16 e 17, com os chamados Gabinetes de Curiosidades, salões em que os exploradores exibiam objetos de viagem: animais empalhados (hoje malvistos, com a prática de taxidermia contestada), desenhos, pinturas e todo tipo de achado de valor. Os aposentos destinados à exposição eram os “quartos de maravilhas”. Esses gabinetes são considerados os precursores dos museus de arte. Nos tempos de hoje, a aventura é menos selvagem e o objeto da caça, ou o troféu, pode estar à disposição, por exemplo, numa boa galeria de arte. Qualquer coleção, grande ou pequena, começa sempre com a primeira obra, simples assim. 

Por onde começar?
O primeiro passo é identificar o tema e o suporte prediletos – fotografia, pintura ou escultura? A arte moderna brasileira ou o pop norte-americano? Abstrata ou cinética. Um artista em particular? As possibilidades são infinitas, daí a fundamental garimpagem. Um bom conselho inicial é contratar os serviços de um art advisor, conselheiro sem o qual a largada será sempre mais difícil. “Os advisors são independentes para opinar porque não representam nenhuma galeria ou artista. Não são marchands. São consultores de arte que procuram entender o que o cliente quer e o quanto pode gastar”, diz o art-advisor Felipe Hegg. Depois de dez anos como sócio de uma galeria em São Paulo, agora ele se dedica a ajudar clientes a formar suas coleções particulares. 

Conversar com pessoas imparciais e com outros colecionadores é uma excelente faísca inaugural. Outra dica é não se guiar por mídias sociais. O artista que tem mais “likes” não é o que tem o melhor trabalho. Procure conhecer a trajetória pessoal dele, se ganhou prêmios, se tem carreira consistente e coerente. Isso não significa, contudo, não valer a pena investir em novos nomes, em artistas emergentes (veja quadro). E pesquise, pesquise – pesquise muito. Conheça em detalhes a linha do tempo, de vida e profissional, do artista que vai levar para casa. Em alguns casos é possível até visitar os ateliês, a porta de entrada para ser fisgado de vez. “O primeiro critério para iniciar uma coleção de arte é se sentir arrebatado por uma obra, quase um soco no estômago”, diz a curadora Ana Carolina Ralston. “Ser tocado pela arte é a forma mais genuína de começar.” Colecionar, enfim, é um processo que parte da curiosidade, de querer saber mais, da expansão do olhar.

Ir a museus aonde nunca se foi, visitar galerias e pesquisar sobre a trajetória dos artistas são dicas fundamentais para começar uma coleção

Convém não sair por aí atirando ao léu. É fundamental visitar museus, galerias e exposições. Mergulhar, enfim, nesse universo, que pode parecer desconhecido, mas está ali para ser desvendado em múltiplas interpretações. “Dialogue com as obras de arte. Sinta pontos em comum com você, com a sua história, com o seu desejo”, aconselha o galerista Eduardo Fernandes. “Traga para a sua vida obras que o transformem, toquem seu coração, sua alma, seu intelecto.”  Tudo isso, sim, mas com o cuidado de não cair em armadilhas ou falsas promessas emolduradas por um modismo barato. As tendências artísticas vão longe no tempo, persistem, sobrevivem e gostam de ser reinventadas. O modismo é como uma nuvem passageira. “É importante entender e estudar as tendências, mas fugir dos modismos é essencial”, conclui a curadora Ana Carolina.

Outro conselho, crucial, é não comprar por impulso. “Uma coleção se constrói a médio e longo prazos”, ensina Felipe Hegg. Trata-se de vir antes a paquera, depois o namoro e finalmente o casamento. Compare, reflita e faça do jogo um prazer. Pode até vir a fazer dinheiro em um futuro breve, tanto melhor, mas aí é outra conversa. O que vale mesmo é a travessia, o esforço, a investigação e a certeza de ter algo muito bom em mãos. Para muita gente, faz tão bem quanto as viagens. Investir em arte, afinal, é ficar mais rico – mentalmente, e até mesmo do ponto de vista financeiro. Distraia-se com seriedade. Até um dia poder pendurar um Rembrandt no corredor que dá acesso aos quartos. Ou, como ensinou o filósofo alemão Walter Benjamin: “Talvez o motivo mais recôndito do colecionador possa ser circunscrito da seguinte forma: ele empreende a luta contra a dispersão. O grande colecionador é tocado bem na origem pela confusão, pela dispersão em que se encontram as coisas no mundo”. 

GENTE NOVA, COLORIDA

“Apostar em novos artistas pode ser mais vantajoso e prazeroso. O ganho costuma ser mais veloz, mas é fundamental se cercar de profissionais da área para saber em quem investir”, diz a curadora Ana Carolina Halston. Aqui, dez nomes que podem ser boas escolhas na visão de Felipe Hegg, da Felipe Hegg Art Advisory.

 

Marcela Cantuária (Galeria A Gentil Carioca)

Vivian Caccuri (A Gentil Carioca)

Paulo Nimer Pjota (Mendes Wood DM)

Avaf (Pivô)

Paulo Nazareth (Mendes Wood)

Lucas Simões (Casa Triângulo)

Guy Veloso (Kamara- Kó)

Laís Amaral (HOA Galeria)

Cristiano Lenhardt (Fortes D’Aloia & Gabriel)

Thomaz Rosa (Quadra Galeria)